As vantagens do novo piso

Artigo assinado pelo secretário de Estado do Planejamento do Paraná e professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Enio Verri
Publicação
10/03/2009 - 16:29
Editoria
Quando o governador Roberto Requião instituiu o piso regional no Paraná, em 2006, muitos argumentaram que a medida iria provocar desemprego. Na verdade, o que ocorreu, e os números comprovam isso, foi o inverso. Hoje, quando se anuncia um reajuste no piso regional, de 14,9%, muitos voltaram a falar em desemprego e até utilizam a crise econômica mundial para reforçar seus discursos alarmistas. Vamos aos fatos: com o aumento proposto pelo governo, o novo piso regional ficará entre R$ 605,52 e R$ 629,65. Segundo estudos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho (Caged), o salário de admissão praticado no Paraná, em 2008, foi em média de R$ 642,65, portanto, o salário praticado no Estado já é maior que a proposta encaminhada à Assembleia Legislativa. A crise econômica mundial é uma realidade; no entanto, não atinge da mesma forma todos os países e também os Estados no Brasil. A turbulência nos Estados Unidos, que são uma nação muito grande, é diferente da crise na Europa. No Brasil e na vizinha Argentina, os reflexos da crise são menores. Já a crise que atinge São Paulo não tem os mesmos efeitos no Paraná. Cada Estado e cada país sente a crise de forma diferente. Não se pode fazer comparações entre realidades desiguais, é um contrassenso. O governo do Paraná combate a crise com investimentos, e isso tem dado resultados. Números do Caged mostram que o Paraná é um dos Estados que mais geram empregos no país. Em janeiro, com crise e tudo, foram criados 1,6 mil novos empregos com carteira assinada. Fomos um dos poucos Estados que começaram o ano com saldo positivo, taxa de 0,07% de crescimento. No Brasil, foram menos 101 mil postos de trabalho, o que representa uma taxa de -0,32%. A Região Metropolitana de Curitiba foi a única do país que apresentou crescimento: 0,06%. A exemplo do que já vem ocorrendo no Estado, o novo aumento do piso regional certamente terá como consequência o aumento de postos de trabalho. É muito simples: com mais dinheiro no bolso, as pessoas consomem mais e a economia cresce. Tudo faz parte de um ciclo, com a elevação do consumo, as empresas aumentam a produção e certamente terão de contratar mão-de-obra. Não há qualquer motivo de preocupação; alguns, acredito, até por total desconhecimento da nossa realidade, estão alimentando discursos pessimistas baseados em fatos que não existem. Na época da Ditadura, lembro que muitos diziam que se os salários fossem reajustados a inflação aumentaria. Pregaram essa mentira durante anos e a consequência foi o achatamento dos ganhos da classe trabalhadora. Com a eleição do presidente Lula, terminou o ciclo maléfico do neoliberalismo, e as perdas salariais começaram a ser repostas. Saliento que o neoliberalismo, defendido pelas pessoas que hoje criticam o presidente Lula, é o grande responsável pela crise econômica mundial, pois causou a internacionalização do capital financeiro, provocando o enfraquecimento do Estado. Foi o neoliberalismo que tornou o mundo refém das variações e transações de capitais. O novo piso regional vai beneficiar de forma direta, segundo dados do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Paraná, cerca de 377 mil trabalhadores. É bom frisar que apenas 88 mil trabalhadores domésticos possuem registro em carteira. No entanto, mesmo sem registro, os rendimentos dos empregados domésticos são baseados no piso regional. Acredito que a proposta do governo será aprovada na Assembleia Legislativa sem muitas dificuldades, apesar dos argumentos em contrário. Aliás, aquela Casa de Leis, que eu respeito muito, terá praticamente dois meses para debater o assunto com a sociedade civil. Trabalhadores e empresários certamente serão ouvidos. De uma coisa tenho absoluta certeza, o Paraná, com as políticas econômicas e sociais que vem adotando, está no caminho certo. Enio Verri é deputado estadual do PT, secretário de Estado do Planejamento e Coordenação Geral e professor do Departamento de Economia da Universidade de Maringá (UEM).