A primeira mostra individual e retrospectiva da obra de um dos mais importantes nomes da arte no século XX, Jesús-Rafael Soto, apresenta 25 obras do revolucionário venezuelano, apontado como um mestre da arte cinética. Com curadoria de Paulo Venancio Filho, a exposição Soto: A Construção da Imaterialidade oferece uma visão cronológica e conceitual do trabalho do artista.
Trata-se de uma perspectiva “bastante completa da trajetória de Soto”, pela primeira vez alinhada ao trabalho de seus contemporâneos brasileiros. A mostra será aberta à jornalistas e convidados, no próximo dia 20, às 19h, no Museu Oscar Niemeyer. O público poderá visitar a exposição no período de 21 de julho a 30 de outubro, de terça a domingo, das 10h às 18h.
Considerado um dos mais importantes artistas plásticos da América Latina, “os ecos da obra de Soto continuam a desafiar, propor e provocar hoje em dia”. Segundo o curador, a exposição percorre a coerente trajetória do trabalho do venezuelano –a obra mais antiga exposta é de 1955 -, desde as históricas e pioneiras obras cinéticas até os trabalhos mais recentes. Em uma definição simples, o curador explica que “a arte cinética procura introduzir o movimento na obra, seja ele real ou virtual, seja através de elementos móveis ou efeitos óticos”.
Além de proporcionar uma visão panorâmica da criação do artista, a mostra apresenta alguns trabalhos inéditos, como a Esfera Theospácio e Ovale Moutarde. A exposição exibe ainda o Penetrável do Museu de Arte Contemporânea da USP, restaurado especialmente para a temporada brasileira da mostra, que teve início no Rio de Janeiro e depois seguiu para São Paulo, chegando agora a Curitiba (PR).
Diálogo com brasileiros - Concebida pelo curador para ir além da exibição da obra do artista, a mostra Soto: A Construção da Imaterialidade também possibilita um diálogo com os artistas brasileiros contemporâneos de Soto. São artistas, abstrato-geométricos e cinéticos, cujas obras compõem a exposição. “A idéia é evidenciar um dos momentos altos da arte moderna e a importantíssima e pioneira contribuição latino-americana que ainda influencia e estimula a arte e artistas da atualidade”, afirma Venancio Filho.
Com o objetivo de ilustrar essa concepção, o curador estabeleceu nesse núcleo uma relação entre as obras de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Sérgio Camargo, Lygia Pape, Franz Weissmann, Arthur Piza, Amílcar de Castro e Willys de Castro. As obras de Soto são provenientes da Fundación Museo de Arte Moderno Jesús Soto, em Ciudad Bolívar, da Coleção Cisneros e de particulares, além do Museu de Arte Contemporânea da USP.
(Box)
A trajetória de Soto
Jesús-Rafael Soto vivia entre Paris e Caracas, até falecer em 14 de janeiro deste ano, poucos dias antes da abertura da mostra no Rio de Janeiro. No Brasil, participou de cinco Bienais em São Paulo. Teve uma grande mostra itinerante – exibida em São Paulo, Curitiba, Salvador e Porto Alegre, sem passar pelo Rio de Janeiro-, em 1997, e uma mostra individual em 2002, também em São Paulo.
O artista nasceu em 1923 em Ciudad Bolívar, Venezuela. Aos 27 anos viajou para Paris e foi influenciado profundamente pela arte construtiva geométrico-abstrata de Mondrian e Malevitch. Soto é considerado um dos pioneiros da arte cinética, técnica pela qual se procura aplicar o movimento nas artes plásticas.
Com seu trabalho Metamorfosis, de 1954, introduziu o movimento ótico na pintura. Realizou em 1967 seu trabalho ambiental, o primeiro Penetrável, o qual exige que o espectador “entre” dentro da obra. Toda a trajetória artística de Soto é uma pesquisa sobre a visualidade, a luz, o movimento e a vibração como fenômenos sensoriais e imateriais que envolvem o espectador.
Em 1973, inaugurou em Ciudad Bolivar a Fundación Museo de Arte Moderna Jesús Soto, projetado pelo renomado arquiteto venezuelano Carlos Raúl Villanueva. O acervo da Fundação reúne obras de Soto, do abstracionismo geométrico e da arte cinética, inclusive dos brasileiros Hélio Oiticica, Lygia Clark e Sérgio Camargo, de quem foi amigo.
Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em 2002, Soto fez uma análise sobre alguns aspectos de sua obra e arte.
–Sobre a “ausência de emoção” na arte cinética:
“Acredito que a matemática é poesia pura. (...) se você não tem um sentido poético, não consegue captar coisas muito sutis, universais, não pode chegar à arte cinética. O que são os poetas? São pessoas que estão procurando elementos que estão dispersos e tentam pegá-los. (...) É que na realidade minha função é tomar o material e convertê-lo de elemento rígido em elemento vibratório, levando a uma possível desmaterialização conceitual e óptica. Há muito pouco cálculo. Só trabalho com cálculo quando tenho que fazer coisas grandes, que envolvam arquitetura, porque não posso me equivocar. No ateliê é possível errar e recomeçar.
Meu interesse era ensinar as pessoas (...) que não se deram conta de que o espaço e o tempo são entidades maravilhosas, às quais pertencemos e que são cheias de possibilidades, (...). Meu interesse é despertar um pouco a consciência de que o espaço é uma entidade plena, elástica que não apenas nos envolve. Quis mostrar que fisicamente somos espaço/tempo. E como despertar esse interesse? Era necessário inventar coisas. Não era possível fazer com a tela, com a pintura. Estou fazendo o mesmo que o homem pré-histórico, que estava buscando como fazer o movimento e então descobriu como fazer um cavalo, um bisão; e ademais fez a melhor pintura do mundo.
–Sobre o possível esgotamento da linguagem que utilizava:
“A pessoa utiliza a escrita que lhe convém para isso. Você senta e escreve com as mesmas vinte e tantas letras que tem o alfabeto. Colocando-as acima, abaixo, ao lado, segue-se escrevendo e fazendo obras maravilhosas, com as mesmas letras.”
Serviço
Abertura para convidados: 20 de julho, às 19h
Aberta ao público: 21 de julho a 30 de outubro
Onde: Museu Oscar Niemeyer
Endereço: Rua Marechal Hermes, 999
Centro Cívico - CEP: 80530-230
Telefone: (41) 3350-4400
Horário: de terça a domingo, das 10h às 18h
Preços: R$ 4,00 adultos e R$ 2,00 estudantes identificados (Crianças de até 12 anos, maiores de 60 e grupos de estudantes de escolas públicas, pré-agendados, não pagam)