“A crise econômica mundial”


Artigo assinado pelo secretário de Estado do Planejamento e professor do Departamento de Economia da UEM, Enio Verri
Publicação
09/03/2009 - 17:29
Editoria
A crise financeira mundial continua dominando os grandes espaços da mídia no Brasil, com opiniões, muitas vezes, tendenciosas, que só observam e divulgam o lado dos empresários interessados apenas no lucro fácil. Primeiro, é bom lembrar mais uma vez - e isso a grande mídia não divulga - que essa crise é fruto de décadas de políticas neoliberais que levaram a internacionalização do capital financeiro e causaram o enfraquecimento do Estado. Ela começou a nascer com as políticas neoliberais defendidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial. A chamada globalização, na verdade, internacionalizou o capital financeiro, tornando o mundo refém das variações e transações de capitais. Essa crise não atinge da mesma forma todos os países e também os estados no Brasil. A turbulência nos Estados Unidos, que é muito grande, é diferente da crise na Europa. No Brasil e na vizinha Argentina, os reflexos da crise são menores. Já a crise que atinge São Paulo não tem os mesmos efeitos no Paraná. Cada estado e cada país sente a crise de forma diferente. Não se pode fazer comparações entre realidades desiguais, é um contrassenso. Estamos no terceiro mês de 2009 e, apesar do pessimismo de muitos, o País está enfrentando a crise de cabeça erguida. As medidas adotadas pelo governo Lula têm surtido bons resultados e, no Paraná, o governo Requião vem enfrentando a turbulência de maneira eficaz, com investimentos que possibilitam a geração de novos empregos. Aliás, em janeiro, com crise e tudo, foram criados 1,6 mil novos empregos com carteira assinada no Paraná. Fomos um dos poucos estados que começaram o ano com saldo positivo, taxa de 0,07% de crescimento. A Região Metropolitana de Curitiba foi a única do País que apresentou alta: 0,06%. O governo está mantendo todos os investimentos do Estado. Nenhum dos programas e ações do governo está sofrendo descontinuidade ou restrição de recursos. Agora mesmo, tramita na Assembléia Legislativa do Paraná, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) enviada pelo governo Roberto Requião, que vincula a concessão de incentivos fiscais para empresas à manutenção e ampliação de empregos. O Paraná não está simplesmente observando a crise passar. Estamos tomando medidas que geram novos postos de trabalho e com isso aumentam o consumo e a renda do Estado. Do ponto de vista de gestão e do desenvolvimento local, em termos de impostos, por exemplo, o estado diminuiu no ano passado a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) de 18% para 12% em 95 mil produtos. Também tramita no Legislativo estadual, a proposta do governo para reajuste do piso salarial regional em 14,9% , devendo ficar entre R$ 605,52 e R$ 629,65. Se aprovado o reajuste, o maior piso do Estado deve ser 35,2% superior ao salário mínimo nacional, que passou de R$ 415,00 para R$ 465,00 no dia 1º de fevereiro. O reajuste do piso do Paraná deve vigorar a partir do dia 1º de maio, beneficiando diretamente 170 mil trabalhadores. O reajuste aquece a economia, porque promove aumento no poder aquisitivo e distribuição de renda. O Paraná, mais uma vez, demonstrando sua preocupação com os destinos do País, será palco de um seminário internacional para discutir a crise. No ano passado, quando se realizou em Curitiba, durante quatro dias de dezembro, o Fórum Crise, Rumos e Verdades, com a participação de 40 especialistas de diversas partes do planeta, durante a minha exposição, disse que a crise iria aprofundar o processo de integração sul-americano. Hoje, não tenho dúvidas de que isso está acontecendo. No entanto, acredito que temos de ampliar a integração política para combater as desigualdades sociais. Continuo defendendo que o melhor remédio para combater a crise é investir, principalmente em infraestrutura e construção de moradias populares. O governo do presidente Lula vem fazendo isso, com os investimentos do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento. Também defendo a tese da redução dos juros para incentivar os investimentos produtivos e o consumo interno. Recentemente, o governo federal reduziu a taxa de juros no país, de 13,75% para 12,75%. Embora baixa, afinal de contas foi a redução de um ponto percentual, isso tem um efeito fundamental para a economia do país e para as nossas vidas. A redução deixa claro que o Banco Central não está à margem da crise e indica uma tendência de queda de juros dentro dos próximos meses. Acredito que até o final do ano, a taxa chegue aos 10%. Agora, de nada adianta o governo adotar medidas e alguns empresários tentarem se aproveitar da ocasião para obter lucro fácil. Muitas empresas ganham isenções de impostos e na primeira crise demitem para não mexer nos lucros. Ou, com auxílio da grande mídia, apregoam aos quatro cantos que só tem um jeito de se manter o emprego: mudando a legislação trabalhista. Eles insistem que a saída é reduzir a carga horária dos trabalhadores, pagar menos, cortar direitos. O momento exige união entre a classe trabalhadora, governo e empresários responsáveis. Não podemos concordar que os direitos dos trabalhadores sejam alterados. O décimo terceiro, as férias, a licença maternidade, entre outros benefícios, foram conquistas depois de muita luta. O que não podemos, nesse momento, é concordar que alguns ganhem e que os trabalhadores, como sempre, percam. * Enio Verri é secretário de Estado do Planejamento e professor do Departamento de Economia da UEM - Universidade Estadual de Maringá

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