Valorização educacional muda vida dos ilhéus do Litoral

Secretaria promoveu a formação continuada de professores e investiu em infraestrutura como transporte escolar, merenda e laboratórios de informática
Publicação
19/11/2009 - 19:00
Editoria
A política de inclusão da Secretaria da Educação prevê o acesso e a permanência na escola para todos os estudantes. Com isso, o número de alunos que utilizam embarcações para se deslocar das ilhas às escolas aumentou. O primeiro passo foi a implantação dos ensinos fundamental e médio em algumas escolas das ilhas a partir de 2004. Além disso, a Secretaria promoveu a formação continuada de professores e investiu em infraestrutura como transporte escolar, merenda e laboratórios de informática. O Colégio Estadual Marcílio Dias, cuja sede é em Guaraqueçaba, recebe 46 alunos que vêm de barco das comunidades de Poruquara, Tibicanga, Guapecum e Tromomô. O estudante Everton Calado da Costa é um deles. Ele acorda às 5h30 para ir à escola. Após uma caminhada até o trapiche, ele embarca da comunidade de Tromomô até Guaraqueçaba. Algumas vezes, devido à neblina, o barco não pode seguir viagem. E não pode retornar devido à maré baixa, o aluno fica até 4 horas no barco. Mesmo assim, ele não perde a vontade de estudar. “Quando perdemos matéria, nós pegamos os conteúdos com os colegas ou com os professores, todos ajudam”. Um dos sonhos do estudante é dar continuidade nos estudos. Caso conseguisse uma formação em curso técnico ou superior, ele voltaria para ajudar no desenvolvimento da comunidade da ilha. “Se eu tiver uma oportunidade para estudar, em Paranaguá ou Curitiba, voltaria a trabalhar com certeza porque estaria perto da família”, comenta Everton. Na subsede do Colégio Marcílio Dias, na Ilha Rasa, que recebe 34 alunos das comunidades de Mariana e Taquanduva, a aluna Lohayne Paula Paiva Silveira vem de barco com 14 colegas da comunidade de Mariana. O percurso demora cerca de 10 minutos, tempo que eles passam conversando, brincando ou estudando. “Andar de barco é legal. Ele é grande e seguro. Só é ruim quando o tempo não está bom”. A estudante costuma estudar em casa durante uma ou duas horas por dia. Ela mora com os tios e conta que eles sempre participam dos eventos que acontecem na escola. “O meu tio só não veio participar da reunião uma única vez porque teve que ir buscar um histórico (escolar) em Guaraquaçaba”. O dia da professora Lauriza Mendes Lucas também começa cedo. Ela deixa Guaraqueçaba rumo à Ilha Rasa às 6h50, de terça a sexta-feira, viajando de barco por 40 minutos. Apesar das dificuldades no deslocamento, o trabalho tem suas recompensas. “Vale a pena tentar fazer o melhor quando se vê a satisfação dos alunos e, de certa forma, contribuir para o desenvolvimento da educação”, diz. A professora aproveita das belezas naturais da ilha para ensinar. Ela utiliza, por exemplo, a paisagem marítima como orientação para explicar formas geométricas na disciplina de Arte. Ezequias França é nativo da Ilha Rasa, saiu para estudar por não ter oportunidade de continuar os estudos na época. Após a formação, voltou e hoje ensina história para alunos da 5ª à 8ª séries. “É a realização de um sonho, estudei fora e hoje sou professor na escola em que aprendi a ler”. A valorização da realidade dos ilhéus por parte da Secretaria foi destacada pelo professor França. Segundo ele, uma educação de qualidade permitirá que estes alunos se tornem lideranças para os ilhéus no futuro. Maria Cristina Mendes dos Santos é mãe de dois alunos da escola. Ela não perde a oportunidade de falar com os professores quando participa das atividades realizadas pelo colégio. “Conversamos com os professores sobre o ensino e as notas. Precisamos saber onde estamos falhando na educação dos filhos e, em casa, sempre pergunto o que eles estão aprendendo”. A mãe considera que houve um avanço muito grande na escola, não apenas por oferecer mais que o ensino de 1ª a 4ª, mas pela qualidade da merenda escolar. “A merenda é muito boa. Antigamente era só bolacha, agora existe mais variedade, com alimentos mais saudáveis”. A instalação do laboratório de informática na escola também foi lembrada pela mãe. “Muitas coisas melhoraram na escola nos últimos anos, quando iríamos imaginar que teríamos internet”, conta. Os alunos que estudam na sub-sede do Colégio Marcílio Dias na Ilha das Peças moram na própria comunidade. A escola oferece ensino fundamental para 26 estudantes. Segundo o coordenador da sub-sede Fernando Luiz Ramos Brock, 100% das crianças em idade escolar que moram na ilha frequentam a escola. O coordenador reforça que o projeto de educação para as ilhas, implantado em 2004, mudou a realidade dos ilhéus. “Antes os alunos só estudavam até a 4ª série e ficavam fora da escola até terem idade para frequentar o supletivo, muitos não retornavam porque começavam a trabalhar”, explica. A proposta de educação nas ilhas é diferenciada desde o planejamento, concepção e filosofia. “É preciso iniciar as aulas com questões locais para se chegar ao conhecimento escolar, aos saberes universais”, conta o coordenador. A aluna da 8º série, Taíza Pereira Pires destaca a participação dos pais da comunidade nos assuntos da escola. Sobre as aulas, a aluna exalta o uso do laboratório de informática para realizar pesquisas e auxiliar nos estudos. Taíza revela que pretende terminar o ensino médio, fazer um curso superior para se tornar professora. A educação dos ilhéus faz parte da Coordenação do Campo, vinculada ao Departamento da Diversidade (DEDI). Além do investimento nos barcos, em parceria com os municípios de Paranaguá e Guaraqueçaba, a Secretaria também contribuiu para a melhoria na infraestrutura e tem realizado programas de formação para os professores que atuam nestas escolas. Ainda estão sendo elaborados material de apoio e proposta pedagógica específica para as escolas das ilhas do litoral.