Universidade chega aos índios do Paraná

Em 2005, número de candidatos deve aumentar
Publicação
11/02/2004 - 00:00
Os conhecimentos obtidos pelos indígenas do Paraná que estão cursando uma das seis universidades estaduais e recebendo formação para repassar às comunidades como forma de promoção social já estão dando alguns resultados, segundo lideranças que estiveram na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI). Na reserva de Nova Laranjeiras, município de Guarapuava, por exemplo, os indígenas estão aprendendo como guardar alimentos para enfrentar os meses de inverno. Nesse caso, o conhecimento é repassado por estudantes do curso de Administração de Empresas – noções de “gestão da produção”, basicamente. Segundo o presidente da Associação dos Estudantes Universitários Indígenas do Paraná (Iupe), Alvacir Ribeiro, que frequënta o curso na Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), em Guarapuava, a transmissão do conhecimento obtido nas universidades “é importante para tirar o indígena do isolamento em que vive”. “Mas na sala de aula o estudante branco também aprende com o colega indígena”, contrapõe. “Uma novidade” - O Vestibular dos Povos Indígenas nas universidades estaduais foi instituído em 2002, com abertura de 15 vagas. Em 2003, ano em que o Governo do Estado criou uma bolsa-auxílio no valor de R$ 250,00, foram 18 vagas, sendo três por instituição de ensino, número que se manteve em 2004. Já o valor da bolsa-auxílio para esse ano subiu para R$ 270,00. No último vestibular, realizado no início de fevereiro de 2004 na Universidade do Oeste (UNIOESTE), candidataram-se 66 indígenas. 55 compareceram. Na opinião do representante da Funai, Edívio Batistelli, o número de candidatos, em 2005, deverá crescer bastante. “É possível que chegue a 150, com uma média de 10 candidatos por vaga”, estima. “A presença indígena na universidade paranaenses ainda é uma novidade”, completa o assessor. Conforme ainda a IUPE, entre os cursos mais procurados pelos indígenas paranaenses estão os de Pedagogia, Administração de Empresas, Medicina, Enfermagem e Educação Física. A razão da grande procura pelo primeiro – Pedagogia – está na própria cultura indígena, diz ainda o assessor Batistelli. “O primeiro passo para a sobrevivência da língua indígena foi dado com os cursos bilíngues nas escolas do Paraná”, observa. BOX SETI RECEBE LIDERANÇAS INDÍGENAS Durante encontro com as lideranças indígenas, na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI), na última terça-feira, 10, o diretor-geral Artur Bertol informou que o órgão vai estudar com atenção a proposta de criação de uma comissão permanente para realizar avaliações do desempenho do estudante indígena universitário. O objetivo é manter o aluno até o final do curso e também dar suporte em casos de possíveis dificuldades de integração no meio acadêmico. O assunto, conforme ainda a SETI, será tratado no dia 16 de março, às 14 horas, durante reunião já agendada com membros da comissão do vestibular e lideranças indígenas. A proposta foi apresentada pelas lideranças indígenas de Mangueirinha (João Carlos Mader), de Faxinal (Pedro Lucas), de Rio das Cobras (Neoly Olibio) e de Nova Laranjeiras (Alvacir Ribeiro). Também participou o assessor Edívio Batistelli.