(*) Waldyr Pugliesi
O presidente Lula lançou na última semana um serviço público que vai levar luz aos porões escuros dos anos de chumbo da ditadura militar. O portal “Memórias Reveladas – Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985)” terá a publicação de registros documentais que podem trazer ao conhecimento público parte das atrocidades ocorridas no período que permanecem obscuras ainda hoje, 24 anos após sepultarmos de vez aquele regime discricionário.
No Paraná a ditadura militar se fez muito presente na figura da Delegacia de Ordem Política e Social, o famigerado Dops. Lembro que em meu primeiro mandato na Assembleia Legislativa, no ano de 1979, apresentei um projeto para extinguir o braço repressivo dos contra-revolucionários em nosso Estado. A proposta não vingou, assim como todas as outras que eram contrárias aos interesses dos governos militares.
O meu intento porém, se consumou em 1991, quando o governador Roberto Requião, em seu primeiro mandato, determinou a extinção do Dops e a abertura dos registros para a população. Esta iniciativa possibilitou ao Arquivo Público do Paraná integrar, junto com outras nove instituições do país, o portal “Memórias Reveladas”, projeto coordenado pela Casa Civil da Presidência da República e que pode ser acessado no endereço www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br.
Para se ter uma idéia do volume de atividades do regime discricionário em nosso Estado, enquanto esteve aberto o Dops produziu mais de 47 mil fichas individuais e mais de 3,7 mil pastas temáticas. Dentre as fichas, muitas já conhecidas da população, uma delas tratava sobre minhas atividades na Câmara de Vereadores e na prefeitura de Arapongas e também na Assembleia Legislativa.
Todas estas informações dos arquivos do Dops no Paraná em breve serão de fácil acesso com o novo portal lançado pelo presidente Lula. Atualmente o acervo está sendo revistado, descrito e digitalizado por uma equipe do Arquivo Público. O trabalho começou no final do ano passado, informa a historiadora Tatiana Marchette, coordenadora da Divisão de Pesquisas da instituição. Pelo menos 60 mil páginas já foram descritas e digitalizadas e o trabalho deverá ser concluído muito em breve.
Cada documento é analisado e identificado seguindo os padrões definidos pelo Arquivo Nacional, para a formação do “Memórias Reveladas”. Mas o trabalho não acaba aí, durante o lançamento em Brasília o presidente assinou um edital de chamada pública para que documentos que pertençam a acervos particulares sejam entregues para compor o catálogo, com a garantia do anonimato do doador, caso haja uma requisição.
Para o acervo do portal serão aceitos conteúdos relacionados a investigações, perseguições, prisões, interrogatórios, cassações de direitos políticos, operações militares e policiais, infiltrações, estratégias e outras ações desenvolvidas entre 1º de abril de 1964 e 15 de março de 1985. Também podem ser enviadas informações referentes a mortes ou à localização de corpos de desaparecidos políticos.
(*) Waldyr Pugliesi é deputado estadual, líder do PMDB na Assembléia Legislativa e presidente do Diretório Estadual do PMDB (www.waldyrpugliesi.com.br – e-mail waldyr@waldyrpugliesi.com.br)