A tomada de medidas ágeis e audaciosas que busquem a ruptura dos modelos político e econômico, a geração de empregos com obras públicas e a utilização dos bancos públicos para a estatização do crédito foram a tônica desta sexta-feira (27) na última mesa de debates do seminário Crise - Desafios e Soluções na América do Sul, organizado pelo Governo do Paraná, em Foz do Iguaçu. “Criamos essa tribuna aberta para viabilizar uma ampla discussão. Mas nós não queremos uma solução lampedusiana, aquela que muda alguma coisa para deixar tudo como está”, disse o governador Roberto Requião.
Além do governador, participaram da mesa os palestrantes que estiveram no seminário. Na avaliação de Wilson Cano, economista e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), a crise é essencialmente financeira, mas contaminou toda a economia. “Não adianta querer fazer uma mágica e achar que vai revalorizar títulos, restaurar a credibilidade e confiança. Uma grande parte da riqueza fictícia tem que ser incinerada”, disse.
Cano defende que a volta do crédito ao mercado passa pela utilização dos bancos públicos para estatizar o crédito. “Precisamos que os bancos públicos atuem de fato como públicos”, afirmou. “Não será com medidas paliativas que vamos enfrentar a crise. Ela exige audácia, precisamos de ação política”, afirmou.
O presidente do Instituto Latino-americano da Universidade Federal de Santa Catarina, economista Nildo Ouriques, aproveitou a última mesa para fazer duras críticas aos empresários e à classe política, que, segundo ele, não demonstram interesse e não tomam atitudes reais para enfrentar a crise. “Precisamos de um grau de consciência e crítica para enfrentar o momento. Não teremos uma alternativa à crise se não tivermos consciência plena dela”, argumentou. “O Brasil precisa de uma ruptura com as ideias que nos governaram e que nos governam. A crise, ao mesmo tempo em que vai desestruturando as relações de poder, de propriedade e de riqueza, vai estruturando as formas em que o futuro vai se configurar”, completou.
O sistema político brasileiro, avaliou Ouriques, é incapaz de enfrentar a crise. Ao contrário, será um obstáculo para isso. O economista sugeriu o estabelecimento de uma democracia participativa, com a realização de plebiscitos sobre temas centrais da economia e política. “Se a democracia tem que sobreviver, que seja na forma de uma democracia participativa. Que as pessoas percebam a importância do valor do voto nas grandes decisões. Os temas da política e da economia não podem ficar na responsabilidade de um Congresso que é incapaz de pensar”, afirmou ao destacar a Venezuela, a Bolívia e o Equador como países que se adiantaram nos últimos anos e tomaram medidas para o fortalecimento do Estado.
De acordo com o presidente do Instituto do Desemprego Zero e assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), José Carlos de Assis, há uma concordância entre os participantes de que a crise é maior e mais profunda que a de 1929. “A solução vai depender muito das ações dos governos”, disse. “Precisamos de obras que gerem empregos. A sugestão é um programa de mutirão remunerado, em que todos que estão desempregados e têm interesse em trabalhar vão ganhar um salário e trabalhar em obras comunitárias, como postos de saúde e creches. Isso reduziria o desemprego drasticamente”, detalhou Assis.
Última rodada de debates traz sugestões para combater a crise econômica
Geração de empregos com obras públicas e estatização do crédito foram sugeridas na última mesa de debates do seminário Crise - Desafios e Soluções na América do Sul
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27/03/2009 - 14:24
27/03/2009 - 14:24
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