Nos últimos dias a grande imprensa brasileira abriu espaço para um fato que há muito alertamos em nosso Estado, que a cultura de transgênico dificilmente trará os resultados esperados à agricultura. O uso de sementes geneticamente modificadas torna propícia a disseminação de ervas daninhas resistentes ao agrotóxico chamado glifosato, que reduz a produtividade da lavoura. Mais do que isto, que o mercado europeu, principal importador mundial, não aceita mais sementes deste tipo.
Aliás, dá para dizer que foi a primeira vez que grandes veículos de comunicação estamparam notícias que não favorecem os interesses das multinacionais das sementes e dos barões do agronegócio, como é comum nos jornais mais importantes dos países da Europa. Só para citar um exemplo, o Libération, da França, publicou recentemente matéria afirmando que os ganhos de rendimento dos organismos geneticamente modificados são superestimados.
Oras, isto vai contra o principal argumento da Monsanto e outras multinacionais das sementes. Na verdade foi um duro golpe para as empresas a publicação, nos Estados Unidos, do estudo “Fracasso no rendimento”. A pesquisa constatou que o desempenho das culturas geneticamente modificadas na renda é bastante modesto, apesar dos esforços consideráveis dos últimos vinte anos. Esta pesquisa foi patrocinada pela Union of Concerned Scientist, o UCS, um grupo independente de pesquisa daquele país.
Citando estatísticas do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos, o estudo observa que a produção média de milho por hectare naquele foi de 28%, de 2004 a 2008, que durante um período comparável de cinco anos (de 1991 a 1995). Segundo a análise, só 3% a 4% deste ganho é atribuído aos OGMs, como são chamadas as sementes geneticamente modificadas. Enquanto isso, 24% a 25% do ganho de produção por hectare vem de outros métodos de aprimoramento das culturas tradicionais de milho.
Em relação à soja, a produção média cresceu 16%. Os pesquisadores da UCS estimaram que o ganho atribuído aos OGM era quase inexistente. Como prova, o rendimento da produção de trigo aumentou 13%, enquanto variedades OGM não existem. Quanto ao milho Bt, o transgênico, os cientistas calcularam que sua contribuição para o rendimento desde o início de sua comercialização, em 1996, não passou de 0,2% a 0,3% por ano.
Este produto transgênico, segundo a propaganda das produtoras das sementes, resiste aos insetos daninhos. Em terrenos infestados, portanto propícios ao uso de OGMs, sua produção é superior de 7% a 12% às culturas tradicionais. Em partes sadias, o ganho de rendimento em relação aos milhos normais é avaliado em 2,3%.
Resultados claramente inferiores ao que anunciam os vendedores de sementes transgênicas. Em seu site na internet, a Monsanto afirma que seu produto YieldGard permite um aumento da produção em torno de 20% nas partes infestadas e 12% no total das terras cultivadas.
Doug Gurian-Sherman, o principal redator do estudo, pergunta se é sensato destinar tantos investimentos aos OGMs, que podem, além disso, apresentar riscos ambientais sérios.
A própria Monsanto parece não acreditar na eficácia do seu produto. Na propaganda de seu distribuidor europeu Delkab, ela admite que insetos podem se tornar insensíveis às propriedades do seu trigo transgênico. A empresa aconselha que os agricultores conservem uma parte sadia, representando 20% da superfície cultivada, para que parasitas sadios possam se desenvolver e impedir a proliferação de seus semelhantes resistentes.
Com o conhecimento de todas estas pesquisas é necessário fazer uma pergunta: o uso das sementes geneticamente modificadas ainda pode ser visto como a solução para a lavoura?
(*) Waldyr Pugliesi é deputado estadual, líder do PMDB na Assembleia Legislativa e presidente do Diretório Estadual do PMDB (www.waldyrpugliesi.com.br – e-mail waldyr@waldyrpugliesi.com.br)
“Transgênicos tem renda superestimada”
Artigo do deputado Waldyr Pugliesi lembra que uso de sementes geneticamente modificadas torna propícia a disseminação de ervas daninhas resistentes ao agrotóxico glifosato
Publicação
17/08/2009 - 14:55
17/08/2009 - 14:55
Editoria