O diagnóstico sócio-econômico do território Caminhos do Tibagi foi apresentado em Telêmaco Borba pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Esta é uma de oito regiões estudas pelo instituto abrangendo 127 municípios considerados territórios prioritários de investimento do Governo do Estado por serem consideradas regiões mais pobres.
O estudo foi contratado pelo Projeto de Inclusão Social e Desenvolvimento Rural Sustentável, de iniciativa do Governo do Paraná, por meio da Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral e da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.
Os oito territórios estudados pelo Ipardes são Paraná Centro, Caminhos do Tibagi, Ribeira, Cantuquiriguaçu, Centro-Sul, União da Vitória, Vale do Ivaí e Norte Pioneiro. O território Caminhos do Tibagi inclui os municípios de Curiúva, Figueira, Imbaú, Ortigueira, Reserva, Telêmaco Borba e Tibagi.
No ano 2000, nascer no município de Ortigueira significava ter expectativa de vida de oito anos a menos que os outros cidadãos paranaenses. Enquanto a média estadual de expectativa de vida ao nascer era de 69,8 anos, em Ortigueira viver acima de 61,5 anos já seria superar a média do município. Em Ventania a esperança de vida ao nascer praticamente não apresentou evolução significativa de 1991 para 2000, passando de 62,4 para 62,8 anos de vida.
As políticas adotadas na década passada mostraram-se não só ineficientes como contribuíram para o agravamento da pobreza na região. Entre 1991, a dinâmica econômica favoreceu a renda dos 10% mais ricos, cuja apropriação de riqueza foi muito maior que o da população 40% mais pobre, de acordo com dados da PNUD.
O prefeito de Telêmaco Borba, Eros Danilo Araújo, declarou que o diagnóstico apresentado comprova que o território ficou esquecido por muito tempo, mas sinaliza boas notícias. “Precisamos nos unir e sermos comprometidos com o avanço de nossa região, que possui municípios com os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano - IDH. Necessitamos de investimentos em infra-estrutura, programas e, acima de tudo, investir nas pessoas. A conquista da instalação do hospital regional em nosso território é um compromisso assumido pelo governador Roberto Requião e um sinal de que as coisas devem começar a mudar por aqui”, declarou.
Originalmente, 64,7% de todo o território era ocupado por floresta de Araucária e Campos Naturais (25,1%). Quase metade, 47,2%, dos solos tem potencialidade a degradação por fatores erosivos. As unidades de conservação que ocorrem no território concentram-se nos municípios de Tibagi e Telêmaco Borba: 11,5% do território possui unidade de proteção integral.
A taxa de fecundidade do território é mais elevada que a média do Estado, com destaque para Ventania e Imbaú que apresentam taxa de fecundidade de 3,5 filhos por mulher, enquanto a média estadual é de 2,3 (dados do Censo de 2000). Ainda assim, as condições de vida têm feito com que a região tenha perdido população para outros locais.
A população de 15 anos e mais tem predominância masculina, sendo esta uma característica de zonas rurais, como explica a coordenadora do estudo, Valéria Villa Verde. “As mulheres saem e vão procurar trabalho na sede dos municípios, demandando serviços públicos diferenciados, como na área de saúde por exemplo”, observou.
A população do território Caminhos do Tibagi é de 177,2 mil habitantes, segundo Contagem feita pelo IBGE, no ano passado. É um dos menores contingentes populacional entre os territórios estudados. Os municípios demonstraram ritmos oscilantes de evolução populacional. Ortigueira e Figueira vêm experimentando sucessivas perdas populacionais. Imbaú e Ventania (municípios novos) evidenciam expansão demográfica.
A taxa de mortalidade infantil está acima da taxa estadual, cuja média é 15,5 mortes para cada cem mil nascidos vivos. Em Reserva, esta taxa sobe para 28,6 e em Tibagi é de 22,9. O trabalho infanto-juvenil mostra-se como outro problema do território. Em 2000, foram contabilizados 5.117 trabalhadores entre 10 e 17 anos.
A pesquisadora do Ipardes, Valéria Villa Verde, ressaltou a importância de se consolidar os Programas de Assistência Básica à Saúde como o Saúde da Família e Saúde Bucal, que são programas preventivos, pois foi observada a relação destes programas com a diminuição de mortalidade infantil e o aumento da esperança de vida.
O déficit habitacional, de acordo com dados do Censo de 2000, era de 321 unidades, sendo que somente em Ortigueira era de 124 unidades. No entanto, os prefeitos de Telêmaco Borba, Eros Danilo Araújo, e de Tibagi, Sinval Silva, presentes no evento, disseram que este déficit é muito maior. Silva acredita que o déficit habitacional de Tibagi, apontado pelo Censo, deve ser multiplicado por 10. Araújo disse que em Telêmaco Borba há 6 mil pessoas cadastradas à espera de uma moradia, sendo que pelo metade delas vivem em condições degradantes.
O Índice de desenvolvimento da Educação Básica – IDEB ficou abaixo da média estadual tanto na rede municipal quanto na rede estadual, com exceção dos municípios de Figueira e Reserva, que na rede estadual apresentaram índices superiores à média do Paraná. O alto número de analfabetismo e o analfabetismo funcional merece atenção especial.
Os municípios de Curiúva, Ortigueira e Reserva possuem mais de 90% dos domicílios inadequados quanto ao lixo rural. Esta mesma inadequação chega perto de 90% em Tibagi.
A participação da indústria e dos serviços na economia apresentou queda de 1999 para 2004. Somente a agropecuária teve aumento, passando de 26,% de participação em 1999, para 38,1% em 2004.
Entre 2000 e 2005, houve um incremento de 54,8% de empregos formais, expressivamente superior ao crescimento do Estado, no período, que foi de 27,6%.
Foram 9.943 postos de trabalho adicionais em 5 anos e 48% destes postos estiveram concentrados em Telêmaco Borba. Dos ocupados, 23,5% dos trabalhadores eram por conta própria, 45,5% não tinham nenhum rendimento e 21,9% ganhavam até um salário mínimo.
O setor industrial do território, entre 1995 e 2000, teve crescimento de 3,2% no número empregos formais, aquém do incremento no número de estabelecimentos que foi 33,6%.
Entre 2000 e 2005, a situação se inverteu: o emprego formal cresceu 75,5%, enquanto os estabelecimentos cresceram 14%. As atividades ligadas à madeira respondem pela absoluta maioria dos empregos da região, alavancadas pela atividade de fabricação de produtos de madeira e pela fabricação de celulose, papel e produtos de papel, que somadas representam 78,7% do total de empresas formais do território.
No setor agropecuário, os principais produtos são madeira (40,5%), soja, milho, bovino e feijão. Juntos, eles representam 83% da produção.
O prefeito de Tibagi, Silval Silva, ressalta importância do desenvolvimento territorial e anuncia a construção de um aeroporto de cargas na cidade. Segundo ele, será o quarto maior aeroporto de cargas no mundo.
“O transporte de cargas aéreas cresce a quase 8% ao ano. Nosso território é de base rural, então já podemos imaginar as possibilidades de negócios do agricultor familiar para exportação, assim como o crescente mercado de carnes frescas. O Governo Federal tomou uma decisão inteligente de não privatizar os aeroportos para que a iniciativa privada tenha a chance de construir novos aeroportos”, comentou Silva.
Mais informações sobre o diagnóstico do território Caminhos do Tibagi estão disponíveis no site www.ipardes.gov.br no ícone “estudos”.