Tempestades provocam interrupções nos sistemas de abastecimento de água

Corte de energia e excesso de turbidez são as causas da falta de água, segundo a Sanepar
Publicação
04/12/2009 - 16:30
Editoria
Com a primavera atípica e perspectiva de verão com intensas chuvas, a Sanepar, como outras companhias de saneamento, passa a ter novo desafio para manter os seus sistemas de água operando dentro da normalidade. As repentinas faltas de energia impedem o funcionamento das motobombas usadas para transportar a água, desde as captações até a distribuição aos imóveis, passando pelas estações de tratamento e reservatórios. De 6 de agosto, quando começou a temporada das tormentas no Paraná, até 22 de novembro, a Sanepar registrou, somente em Curitiba, 57 interrupções não programadas no fornecimento de energia elétrica em diferentes unidades do Sistema de Abastecimento Integrado de Curitiba (Saic). Segundo o coordenador do Centro de Controle de Operações (CCO) da Sanepar, Pedro Augusto Mikowski, o abastecimento é prejudicado temporária e parcialmente, pois o histórico das ocorrências demonstra que as quedas de energia não atingem o sistema de abastecimento na sua totalidade ao mesmo tempo. Além disso, a paralisação de qualquer unidade de bombeamento causa mais transtornos àqueles imóveis que não possuem caixa de água compatível ao consumo dos seus moradores. Devido às características hidráulicas do Saic, quando uma estação de tratamento fica sem eletricidade, é possível, em algumas situações, aumentar os volumes de outra unidade de produção para compensar a redução da oferta de água tratada ou ainda remanejar a água de determinados reservatórios para outros. “São procedimentos complexos, exigindo o uso de recursos e técnicas apropriadas para evitar a descompensação do abastecimento. A solução é emergencial e dá fôlego ao sistema até o retorno da eletricidade”, conta Mikowski. A infraestrutura de automação e comunicação do CCO permite agilidade na tomada de decisões e possibilita a regularidade do abastecimento para Curitiba e 11 localidades da Região Metropolitana nessas situações. CRÍTICO – Contudo, Mikowski lembra que, num cenário crítico como o que ocorreu durante o apagão do início de novembro, quando as companhias de saneamento de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo deixaram quase 8 milhões de pessoas sem água por quatro dias, o desabastecimento pode ser agravado pelas próprias características de operação de uma rede de água. Ele explica que, diferentemente das companhias de energia, que conseguem entregar a eletricidade aos consumidores imediatamente após o restabelecimento dos seus sistemas, o fornecimento de água requer mais tempo para voltar à normalidade. “Isso ocorre pela necessidade de encher as tubulações e os reservatórios de água tratada em baixa velocidade. Além disso, essa água tem que percorrer um longo caminho até chegar aos imóveis de forma gradual. Qualquer tentativa de acelerar o processo exige o aumento de pressão interna dos tubos, trazendo o risco de rompimentos na rede. E isso acarretaria um tempo maior para restabelecer o abastecimento por causa dos reparos”, alerta. A complexidade das redes de água e também de esgoto acaba impedindo a adoção de grupos de geradores de eletricidade movidos a gás ou a óleo diesel – uma alternativa comum a hospitais, supermercados e outras atividades – devido à inviabilidade econômica da medida. Como lembra Marcos Henrique Giublin, gerente da Unidade de Eletromecânica da Sanepar para Curitiba, Região Metropolitana e Litoral (USEM-CT), somente na Capital a empresa opera cerca de 540 motobombas de alta potência, além de centenas de equipamentos eletromecânicos. “Para cada uma das bombas seria necessário um motogerador de grande porte e de custo elevado. Ainda seria preciso computar o valor do combustível e o tempo de uso, resultando numa operação caríssima para a empresa e um preço final dos serviços ao cliente impagável”, analisa. TURBIDEZ – As tempestades interferem também diretamente no abastecimento de água tratada quando há excesso de partículas sólidas – terra, folhas e galhos – em suspensão nos mananciais usados para a captação de água bruta. Segundo Paulo Raffo, gerente de Produção da Sanepar, todo esse material é arrastado pelas enxurradas até o leito dos rios, provocando um aumento da turbidez da água. “Para manter os padrões de qualidade, ou interrompemos a captação e a produção de água ou aumentamos o tempo de cada uma das etapas do tratamento, ocasionando uma defasagem entre a oferta e a demanda de água”, conta. Essa situação foi a responsável pelo desabastecimento dos moradores de Assis Chateaubriand, no Oeste do Estado, por três períodos diferentes desde de agosto deste ano. O momento mais crítico ocorreu em outubro, quando por quase uma semana, a população urbana de 18.400 habitantes teve o abastecimento cortado pela metade. Com o Rio Alívio, usado para abastecer a cidade, apresentando um índice de turbidez 11 vezes superior a um dia normal de chuva, a Sanepar teve que reduzir a produção de 250 mil litros por hora para 120 mil l/h. Como solução emergencial, a empresa usou caminhões-pipa para trazer água da cidade de Jesuítas, distante 17 quilômetros.