Tecpar alerta: óleo vegetal puro não é biodiesel

Muitos agricultores estão utilizando óleo vegetal em máquinas agrícolas e veículos utilitários, seja puro ou misturado com diesel comum, e vêm enfrentando problemas
Publicação
09/03/2006 - 14:10
A utilização de óleo vegetal - seja de soja, girassol ou qualquer outro - diretamente em motores do ciclo diesel causa problemas que a maioria das pessoas desconhece. Isso porque biodiesel e óleo vegetal são dois produtos totalmente diferentes. O biodiesel é um óleo vegetal modificado por meio de uma reação química com álcool. Já óleo bruto sem tratamento adequado, ao ser usado, não é totalmente queimado e gera resíduos nos bicos injetores e em outras partes do veículo. O motor funciona, mas pode apresentar problemas ao longo do período de uso, e seu desempenho pode ficar prejudicado. “Recebemos consultas de todo o Brasil sobre o uso de óleos vegetais em motores, e não sobre biodiesel”, afirma o gerente da Divisão de Biocombustíveis do Tecpar, Bill Jorge Costa. De acordo com o químico, muitos agricultores estão utilizando óleo vegetal em máquinas agrícolas e veículos utilitários, seja puro ou misturado com diesel comum, em alguns casos com a adição de álcool ou querosene. “É uma prática comum em vários estados por ser mais econômica, pois se torna mais barato para o produtor o óleo obtido em sua propriedade do que a compra de diesel nos postos. Entretanto, a exigência de uma manutenção freqüente torna a prática mais onerosa”, completa Costa. Para confirmar, o engenheiro cita um experimento tratando exatamente da aplicação de óleo vegetal em tratores realizado na Alemanha, entre 2000 e 2005. Técnicos da Universidade de Rostok monitoraram 107 tratores fabricados em série e convertidos para uso de óleo de canola e realizaram testes com eles. Mesmo convertidos, 41% dos tratores (44 tratores) apresentaram avarias graves, com altos custos de manutenção. Atualmente, 29 tratores desse grupo continuam sendo movidos a óleo de canola após a conclusão do projeto e 15 unidades foram reconvertidas para uso de diesel convencional. Os demais 63 apresentaram pequenos problemas. A conclusão a que os pesquisadores chegaram foi de que, nesse experimento, não foi possível obter um funcionamento dos motores sem avarias, independente de marcas e modelos. Entre os principais problemas enfrentados, estavam perdas de rendimento, válvulas de escape emperradas, sistema de injeção defeituoso, entupimento de filtros, problemas de partida a frio e danos na câmara de combustão. O projeto demonstrou ainda que diversos parâmetros devem ser considerados na questão do uso de óleo vegetal, como a qualidade do óleo usado, que deve ser normatizada e assegurada. Aspectos relacionados à qualidade do óleo lubrificante e os intervalos de troca também são importantes. Por isso, os técnicos da Divisão de Biocombustíveis/Centro Brasileiro de Referência em Biocombustíveis recomendam cautela no uso de óleo vegetal até que se tenham dados experimentais suficientes para informar, entre outras coisas, qual deve ser a qualidade do óleo a ser usado como combustível, em que proporção ele pode ser usado em mistura com diesel e quais adaptações são necessárias nos motores. Tudo de acordo com a realidade nacional, ou seja, com base nas características dos diferentes tipos de óleos vegetais, modelos de tratores, sistemas de injeção etc. “Consideramos o uso de óleo vegetal como combustível uma prática de grande potencial em nosso país e somos favoráveis a ela, entretanto repetimos que é necessária cautela para substituir diesel, parcial ou totalmente, sem riscos técnicos e financeiros, principalmente para o pequeno agricultor”, conclui o pesquisador. Centro de Biocombustíveis A Divisão de Biocombustíveis do Tecpar presta serviços voltados ao controle da qualidade de biocombustíveis, combustíveis e lubrificantes derivados do petróleo, de acordo com as normas da Agência Nacional do Petróleo - ANP. O instituto é sede também do Centro Brasileiro de Referência em Biocombustíveis (Cerbio) implantado por meio de um convênio de cooperação entre a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná e o Ministério da Ciência e Tecnologia. O Cerbio promove a pesquisa, o desenvolvimento da produção e uso de biocombustíveis, e avalia a sua viabilidade e competitividade técnica, econômica, social e ambiental. Buscando constantemente aprimorar seus conhecimentos, a equipe da unidade, com experiência e a tradição de mais de 20 anos de trabalhos realizados na área de biocombustíveis, pesquisa, desenvolve, analisa e testa combustíveis alternativos e de fontes renováveis, como os derivados de ésteres de óleos vegetais (biodiesel), e monitora o uso do MAD8, uma combinação de diesel, álcool e derivado do éster de óleo de soja, na frota cativa de transporte coletivo de Curitiba. Além disso, encontram-se em desenvolvimento experimentos de uso e produção de hidrogênio a partir da biomassa de resíduos vegetais, etanol e água. O Cerbio foi escolhido pelo governo federal para ser um dos executores do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, que reúne cerca de 30 instituições, entre institutos de pesquisa, universidades, empresas privadas e organizações setoriais vinculadas à indústria automotiva.