Seminário organizado por Raimundo Pereira no Paraná vai debater energia

Encontro acontecerá nos dias 11 e 12 de dezembro, no Auditório do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba
Publicação
27/11/2007 - 15:05
A atualização de um trabalho feito nos anos 1984 e 1985, quando foram editados os cadernos Retratos do Brasil, com o balanço do que representou o governo militar na história da República e do que a Ditadura significou para o encaminhamento dos problemas brasileiros. Esta é a proposta do jornalista Raimundo Pereira – mais de 50 anos de carreira, ex-editor de jornais progressistas como Movimento e Opinião, que circularam na época da Ditadura Militar (1964 a 1984), e colaborador da revista Carta Capital. Naquele período, foram vendidos 60 mil exemplares da publicação editada sob a direção de Pereira e supervisão do jornalista Mino Carta. Numa abordagem atual, ele pretende colocar novamente em discussão temas como energia, segurança, cidades. A discussão de tais questões emergentes já começou e, por meio de um seminário que acontecerá nos dias 11 e 12 de dezembro, no Auditório do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, o jornalista Raimundo Pereira vai permitir o aprofundamento do debate de questões energéticas, o primeiro tema da série. A partir desta terça-feira (27), as discussões terão início a partir de três textos disponíveis no endereço eletrônico www.debatesdobrasil.com.br , onde poderão ser feitas as inscrições e obtidas informações adicionais. O acesso ao site do seminário também pode ser feito no portal do Sistema SETI – www.seti.pr.gov.br . O projeto, que terá a duração prevista de um ano, foi apresentado nesta segunda-feira (26), em reunião da secretária Lygia Pupatto, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, com os reitores das Instituições Estaduais de Ensino Superior e instituições vinculadas à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – Instituto Tecnológico Tecpar, Fundação Araucária, Instituto Tecnológico Simepar - e ainda o Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento Lactec. Os representantes das instituições que integram o Sistema SETI manifestaram apoio ao projeto. Sobre tais questões, falou o jornalista Raimundo Pereira. Leia a seguir uma entrevista com Raimundo Pereira sobre o seminário. AE - Esse debate vem em um momento bastante oportuno, quando se fala muito na questão de energia, como a descoberta de uma nova reserva de petróleo no Brasil, o leilão da usina hidrelétrica de Santo Antonio, no Rio Madeira. O que um debate como esse pode proporcionar para o leigo, o estudante e também o pesquisador? Esse debate é o único ou faz parte de uma série? Raimundo Pereira - Esse debate faz parte de uma série. Nós começamos com um debate aqui no Paraná. A série vai durar um ano e está apoiada no trabalho Retratos do Brasil. Vamos pegar quatro grandes temas, subdivididos em temas menores. Energia nós dividimos em três: biocombustíveis, energias tradicionais e aquecimento global. O próximo vai ser cidades. Vamos discutir a questão da segurança, da habitação e saneamento. Esse debate tem um enfoque mais político, para discutir qual o papel do Estado nessa questão. O país tinha uma política de produção de energia de longa data, desde Getúlio Vargas, os militares não mudaram esse aspecto, com uma dependência, quase que 100% do setor estatal. O petróleo é monopólio, a geração de energia elétrica era pelo conjunto de empresas da Eletrobrás, mais as empresas estatais estaduais, como a Copel. Então isso sofreu uma alteração muito grande com a política liberal. E há algumas dessas reformas que ficaram no meio do caminho, como da geração e distribuição de energia elétrica. Hoje se percebe uma certa contradição, principalmente quando a imprensa mais conservadora, por exemplo, ao mesmo tempo em que cobra que o Estado não seja majoritário nos empreendimentos, que fique por trás, que garanta o financiamento etc, ela também acha que é responsabilidade do Estado produzir energia. Se não tiver energia, o Estado é responsável. Quer dizer, ele não deve ser o fornecedor, o criador das usinas etc, mas ao mesmo tempo ele parece co-responsável. Quando se escuta, por exemplo, essa questão do Madeira, que saiu agora a lista de empresas que vão participar, de última hora o Estado colocou a Eletronorte, sozinha, tem quatro ou cinco consórcios e, em todos, as estatais participam como apoio, com no máximo 49%, mesmo sendo elas as que têm mais experiência em hidrelétricas no Brasil, mas elas ficam em uma posição subordinada e de apoio. Mas nos últimos dias de preparação da licitação, o governo resolveu incluir a Eletronorte como participante sozinha, que na minha avaliação, é decorrente do receio que ele tem deque essa situação persista, em que a geração de energia elétrica não é suficiente para garantir o futuro, e ele corre o risco de fazer o leilão e o capital privado não considerar que as condições são boas para participar e o leilão fracassar. AE – No caso de um pregão, avalia-se que entrando uma proposta baixa poderia-se jogar lá pra baixo o preço. Seria essa também uma intenção do Estado? Raimundo Pereira - Tem também essa questão de preço. Se as estatais podem funcionar no mercado como balizadoras para evitar os abusos, para garantir a obrigação do Estado, não é fazer empresas para dar lucro para os seus dirigentes, mas sim para garantir eficiência, o menor preço, a moticidade tarifária. Esse daqui é um debate extremamente interessante, se você abre os jornais de hoje, verá essa questão sendo discutida, assim como também a questão do leilão dos poços de petróleo em torno dessa descoberta de Tupi, na Bacia de Santos, porque hoje a maior parte do petróleo existente está nas mãos do Estado, de empresas estatais, no Oriente Médio, na Venezuela, no Irã. Tem também outras formas, mas essa é a principal. AE - A questão do aquecimento global também é uma questão urgente... Raimundo Pereira - É, essa questão é enorme. Está se definindo no Brasil que modelo se vai seguir. Porque internacionalmente o Brasil, pelo menos na questão do comércio internacional, está mais alinhado com a Índia, China, nessa questão da discussão do setor agrícola, e existe um movimento na imprensa para dizer que os grandes poluidores são estes, que estão chegando com grande sede ao pote e têm populações muito grandes, mesmo que o seu consumo per capita de energia seja muito baixo comparado com o consumo dos europeus, dos americanos e mesmo dos países do Leste europeu. Uma coisa é cada americano ter um carro, como eles têm hoje, outra coisa é numa perspectiva de 100 anos, cada chinês ter um carro, cada indiano ter um carro. Aí fica uma discussão muito curiosa, ou seja, eles já ocuparam o lugar e garantiram o direito, os outros não têm mais? Então é um debate em que o papel do Estado é extremamente interessante. AE – Você acredita que vão participar do debate pessoas com pontos de vista bem diferentes, de socialistas a neo-liberais? Raimundo Pereira - É claro, nós fizemos questão de que existam, em cada uma das três mesas redondas, dois pontos de vista antagônicos. Então, o material que nós fizemos, que serve de orientação do debate, é claro que tem um ponto de vista nosso, mas aparecem pessoas que têm pontos de vista diferentes. Mas agora no debate nós queremos aprofundar essas divergências, as pessoas não se esclarecem com uma opinião só. Então precisam ser apresentadas opiniões diversas, para cada um escolher ou formar uma outra opinião. AE - A programação está pronta? Raimundo Pereira - Sim, está pronta. A programação começa dias 11 e 12, o primeiro debate é sobre o aquecimento global, todas as mesas estão praticamente fechadas.

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