Secretário da ONU defende controle estatal do sistema financeiro

Alex Izurieta, secretário sênior de Relações Econômicas da Organização das Nações Unidas (ONU), abriu a programação da tarde desta segunda-feira (8)
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08/12/2008 - 16:39
Editoria
Regular para evitar a concentração do sistema financeiro, manter parte desse sistema sob domínio do poder público e investir em infra-estrutura e em políticas sociais são funções que o Estado deverá retomar a partir da atual crise global. É o que defendeu o professor Alex Izurieta, secretário sênior de Relações Econômicas da Organização das Nações Unidas (ONU), que abriu a programação da tarde desta segunda-feira (8) do seminário “Crise – Rumos e Verdades”, promovido em Curitiba pelo Governo do Paraná. Para Izurieta, além de “apagar o incêndio”, como ele classificou as medidas que os países vêm adotando para minimizar os efeitos da crise, os governos devem aproveitar a oportunidade para implementar mudanças estruturais profundas. “É preciso ressucitar o papel do setor público. Não só de investimentos em infra-estrutura, criação de empregos e no social, o que é importante, mais do que nunca. Mas o setor público precisa pensar numa nova arquitetura financeira internacional”, ressaltou o secretário da ONU. Numa análise de crises ao longo da história, observou Izurieta, constata-se que depois de terminadas essas crises, as instituições financeiras se fortalecem. Na crise atual, assinalou o professor, as medidas tomadas pelos governos estão favorecendo não só o fortalecimento, como a concentração das instituições. É para evitar essa concentração que os Estados devem agir, e logo, na avaliação de Izurieta. “Se nós estivermos esperando para que tudo comece a voltar ao normal, para começar a pensar a regular o sistema financeiro, será tarde demais. Porque a situação depois da crise seria um déficit imenso do setor público, porque foi necessário controlar a industria financeira e concentrar um capital financeiro de uma forma imensa. E quem é que vai conseguir regular isso? Será quase impossível”, disse. Tanto para a regulação do sistema financeiro, como para os investimentos estatais em infra-estrutura e políticas sociais, o Brasil tem nos bancos públicos mecanismos que podem ser referências, afirmou o representante das Nações Unidas. “O Brasil pode exportar sua experiência de ter mantido vivos bancos de desenvolvimento, bancos de produção (públicos)”, afirmou o palestrante, referindo-se a instituições estatais como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que têm sido fortalecidas nos últimos anos e, no atual momento de crise, vêm anunciando medidas de fomento ao crédito agrícola e à construção civil. RECESSÃO – Além de apresentar proposições, o professor Alex Izurieta fez um prognóstico dos efeitos da crise financeira para os países desenvolvidos e em desenvolvimento. “Na visão das Nações Unidas existe não apenas a evidência confirmada de que estamos entrando em uma recessão global, mas também o sistema financeiro está sendo desmontado”, disse. Os países desenvolvidos serão mais atingidos e dificilmente escaparão de uma recessão. Economias em desenvolvimento, como as da América Latina, num cenário mais otimista até poderão escapar de uma recessão, considerou Izurieta. “Os países da América Latina estão vindo de taxas de crescimento alta”, lembrou. O secretário da ONU salientou ainda que a crise financeira atual é uma crise prevista, alertada principalmente por aqueles que se opunham ao modelo liberalizado e globalizado do sistema financeiro. “A crise que nós estamos enfrentando no momento não é nova para muitas pessoas. Foi uma crise prevista como o livro de Gabriel Garcia Márquez “Crônica da Uma Morte Anunciada’”, afirmou.

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