Santinha atrai há 110 anos fiéis de todo o país a Tibagi

Festa à Santa Pastorina acontece de 23 a 26 de julho
Publicação
16/07/2010 - 18:30
Editoria
Há 110 anos, uma imagem de louça com cinco centímetros atrai milhares de fieis de várias partes do Brasil a uma capela a 37 quilômetros da cidade de Tibagi, na localidade rural de Campina Alta. A santinha recebe duas denominações. É conhecida como Santa Pastorina ou Castorina e sua história está ligada à tradição de fé do povo tibagiano. Além de se tornar uma festa oficial no calendário de eventos da cidade, o dia da santinha, que embora não reconhecida pelo Vaticano, é lembrada pelos devotos como santa milagreira. É um momento de peregrinação.
Mais de dez mil pessoas são aguardadas para 110a Festa da Santinha dos dias 23 a 26 de julho, quando se comemora o dia de Sant'Ana, padroeira de Ponta Grossa e Castro – cidade de onde teria sido trazida a imagem no início do século passado e que também justifica o nome de Castorina.
A fé religiosa também se revela pelas inúmeras castorinas e pastorinas que residem em Tibagi. Uma delas, pastorina Ribeiro Taques, a tia Ina, coordenadora do Provopar, tem na certidão de nascimento uma homenagem feita por sua mãe à santa. Dona Julia Rodrigues Ribeiro atendeu pedido de um vizinho que teria feito uma promessa. “Ela dizia que quando estava grávida, esse vizinho do interior fez a promessa: se fosse menina, se chamaria Pastorina”, conta. “Eu não sou devota fanática, mas sempre que posso vou à festa e gosto muito”, revela tia Ina.
A história da milagrosa imagem também foi tema da monografia apresentada em 2001 por Silmara Terezinha Pedroso em pós-graduação em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. No texto, Silmara destaca que em entrevistas realizadas sobre a origem da santa, os devotos confirmam sua fama de milagreira.
Origem tem três versões - Quanto à origem da imagem, Silmara ressalta três versões populares. A primeira está descrita em documento da Câmara Municipal de Vereadores que permanece sobre o altar da capela onde Santa Castorina é cultuada. “Em dia e mês não especificados do ano de 1900, Maria Rubina Ferreira veio do Socavão, município de Castro, para Campina Alta”, indica a placa.
Era esta mulher que, todos os anos no mês de junho, promovia em sua casa uma reza em louvor à santa atraindo moradores vizinhos. “As notícias alcançadas pelos adeptos vizinhos transpôs os limites do município e, nos dias de hoje, as festas em seu louvor são assistidas por verdadeira multidão de fieis em busca de seus milagres”, aponta o texto.
Segundo a pesquisadora, outra versão dá conta de que a pequena imagem pertencia a uma família castrense que desapareceu. “Depois de algum tempo essa imagem foi encontrada por outra família, num pequeno riacho, em Campina Alta”, relata Silmara.
A última hipótese para o surgimento da imagem está ligada à passagem do Monge João Maria por Tibagi. “O monge circundava a região de Castro e Tibagi. Assim, com suas andanças, ele poderia tê-la trazido de Castro para Campina Alta, onde ela permanece até os dias atuais”, reflete a historiadora, unindo as segunda e terceira versões.
Ela acrescenta que naquela época, as necessidades espirituais das populações coloniais não eram completamente atendidas no contato oficial e formal com a Igreja Católica e seus representantes oficiais, como padres e bispos. “Uma forma de religiosidade popular organizou-se em torno de eremitas e santuários que procuravam incutir no coração dos pobres a certeza de uma vida eterna, a esperança de um lugar no céu e a ideia de que os homens são imponentes diante do poder divino”, cita Silmara, fazendo referência a outra historiadora, Mary Del Priori, que escreveu 'Religião e religiosidade no Brasil Colônia' (Ática, 1997).
“A origem da devoção ou surgimento da imagem é uma questão que continuará sem resposta, entretanto cabe considerar os movimentos peregrinos em sua devoção e a importância que tomou na sociedade tibagiense”, pontua Silmara. “Santa Castorina pode ser considerada uma figura lendária e eleita como Santa, inicialmente num culto doméstico particular e depois pelo devocionário”, enfatiza.
Milagres - De acordo com a pesquisa de Silmara Pedroso, a imagem cultuada não representa nenhuma figura humana que possa ter vivido em qualquer tempo ou espaço e realizado milagre que a levasse a conquistar o título de milagrosa. “O que se sabe é que, desde o início, os devotos cultuavam a pequena imagem de louça, atribuindo a ela todas as graças recebidas”.
Mesmo sem qualquer prova, algumas passagens são relatadas pela população que atribui poderes à figura de sua devoção. Uma delas é do tempo da substituição de uma velha capela de madeira por nova construção, em alvenaria, na Campina Alta ainda na década de 1990. “Contam alguns devotos que quando foi construída a segunda capela, a santinha se recusava a sair da antiga. Levavam-na para a capela nova e no dia seguinte encontravam-na no mesmo lugar na antiga”, resgata Silmara.
Imagem de louça - A pequena imagem de louça mostra uma mulher de pele clara, vestida com capa e capuz rosa, segurando na mão direita uma espécie de cesta, e não apresenta característica sacra. A estatueta que está na capela é a mesma que teria sido encontrada em 1900 por Maria Rubina, em Castro, exposta no centro do altar por onde centenas de pessoas passam para beijá-la ou depositar ali algum objeto como forma de agradecimento pelas bênçãos recebidas.
A festa - O local de devoção, nos três dias de festa, se transforma num centro de peregrinação. As estradas que dão acesso à Campina Alta são arrumadas e toda uma estrutura de barracas de alimentação é organizada.
A Prefeitura ajuda na organização, mas a festa tem sua estrutura terceirizada e neste ano quem cuida de tudo é Dario Dentinho, da empresa Dentinho Produções e Eventos. Seu contato é (42) 9917-9827 ou (41) 9625-5030.
No ano passado, a Prefeitura inaugurou o calçamento que dá acesso à gruta da localidade, feito de pedras poliédricas, além da pintura da igreja e a construção de um local apropriado para a queima de velas. Outra novidade foi a restauração de uma gravura de Sant’Ana, dedicada aos festeiros em 1906, realizada pela Secretaria Municipal de Turismo. A peça é usada todos os anos durante a procissão, e pode ser vista na capela local.
Turistas - “Recebemos pessoas de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, de São Paulo e de todo o Paraná, especialmente do Norte Pioneiro. A Festa da Santinha é um grande portal de entrada de turistas em Tibagi, por isso, sempre aproveitamos para divulgar outros pontos turísticos e atrativos da cidade”, explica a secretária de turismo, Cecília Nanuzi Pavesi.
Juliana Nogueira, gerente de Turismo da Sematur, aproveita para destacar que o Centro de Informações Turísticas, na entrada da cidade para quem vem de Castro pela PR-340, fica aberto mesmo no feriado para oferecer auxílio aos turistas. Também está disponível o disk turismo pelo 0800 643 1388. “É uma boa oportunidade para quem quer conhecer o Canyon Guartelá ou as corredeiras do Rio Tibagi e saltos que ficam pertinho da cidade”, enfatiza a gerente.
Programação - A programação deste ano para a Festa da Santinha, formatada pela empresa Dentinho Produções, está voltada também às crianças. Nos quatro dias de evento haverá shows com Super-heróis, como Batman, Homem Aranha, Incrível Hulk e Wolverine, interpretados por atores reais, como no cinema.
No dia 23, a abertura será às 20 horas. Dia 24 tem novamente show com os heróis e ainda com o Palhaço Xereta e sua Guitarra Maluca. Dia 25, domingo, tem o tradicional almoço com churrasco e no dia da Santa, 26, haverá missa, leilão e encerramento.
Mais informações
Neri Aparecido Assunção: (42) 3916-2189
Dentinho Produções: (42) 9917-9827
Sematur: (42) 3916-2150

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