Reunião na Argentina avança no projeto do corredor ferroviário bioceânico

Província argentina de Salta vai integrar o corredor, que prevê interligar, por ferrovia, a costa atlântica brasileira e o porto de Paranaguá, com o porto chileno de Antofagasta, no Oceano Pacífico
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29/05/2009 - 18:12
Editoria
Nessa quinta-feira (29), na cidade de Salta, capital da província argentina de mesmo nome, como parte das atividades da Missão Empresarial Multi-Setorial do Paraná que participou do “III Encontro de Representantes de Comércio Exterior da Argentina”, ocorreu reunião entre o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, o secretário da Indústria, Comércio e Mercosul do Estado do Paraná, Virgilio Moreira Filho, o ministro de Desenvolvimento Econômico da Província de Salta, Julio Loutaiff, o coordenador Logístico da empresa ferroviária chilena Ferronor, Francisco J. Cerúsico, o diretor Empresarial, Luiz Alberto César, do Porto de Paranaguá, o cônsul do Brasil em Salta, Fernando Antonio Triquell. O objetivo da reunião, segundo o presidente da Ferroeste, foi discutir os benefícios do projeto do corredor ferroviário bioceânico Paranaguá–Antofagasta e o seu estágio atual de desenvolvimento. A cidade e a província argentina de Salta integrarão o corredor, que prevê interligar, por ferrovia, a costa atlântica brasileira e o porto de Paranaguá, com o porto chileno de Antofagasta, no Oceano Pacífico. Segundo Samuel Gomes, que participa do projeto a convite do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o eixo ferroviário Atlântico-Pacífico é um componente fundamental na estratégia dos países da América do Sul no sentido de conformarem uma unidade econômica, política e cultural de relacionamento entre si e com o restante do mundo, em condições mais justas. “A recente criação da Unasur é um marco e expressão desta determinação dos países sul-americanos de se tornarem uma unidade, como é hoje a Europa”, disse Gomes..”Estamos no caminho para deixar de ser os estados e povos desunidos da América do Sul. E a nossa união demanda integração física para o estabelecimento de rotas de comunicação para ampla circulação de riquezas e pessoas”. Para o presidente da Ferroeste a região necessita “ferrovias, hidrovias, rodovias, navegação de cabotagem, rotas marítimas, linhas aéreas. O eixo ferroviário entre Paranaguá e Antogafasta, que ligará por ferrovias o Paraná, Paraguai, Noroeste e Norte da Argentina e Chile, é um dos projetos mais importantes para o estabelecimento desta nova realidade na América do Sul”. Durante a reunião, o ministro de Desenvolvimento Econômico da Província de Salta descreveu os benefícios que a realização do projeto trará para a região, cuja produção agrícola é hoje transportada por caminhões até o Porto de Rosário, percorrendo uma distância de 1.500 km, o que encarece o produto e diminui a rentabilidade dos produtores. O coordenador Logístico da empresa ferroviária chilena Ferronor, que liga a província de Salta ao Porto de Antofagasta, Francisco J. Cerúsico, relatou as condições atuais das linhas no território argentino e chileno. Segundo ele, o retorno da operação do “Trem das Nuvens”, no lado argentino, para passageiros e turismo entre Salta, na altitude 1.187 metros sobre o nível do mar, e o viaduto La Polvorilla, na altitude 4.200 metros, promoveu melhorias importantes na linha, o que beneficiará o transporte de cargas, que neste momento encontra-se paralisado e tem previsão de voltar a operar nos próximos meses. No território chileno, disse ele, as condições da ferrovia permitem o transporte de cargas. A empresa ferroviária argentina General Belgrano, que abrange a maior parte do território argentino e é responsável pelas linhas entre Resistência e Socompa, na fronteira com o Chile, está sendo administrada pela empresa SOE – Sociedade de Operacões Emergenciais, contratada pelo governo nacional argentino. O administrador da SOE, Eduardo Lamaison, que não pôde estar presente à reunião, informou por telefone ao presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, que estão sendo realizados investimentos na recuperação de trechos fora de operação em todo o país e que a produção, embora pequena (1,8 milhão de toneladas em toda a malha recuperada pela empresa no território argentino) vem crescendo continuamente. FERROESTE - Gomes informou, durante a reunião, que a parte brasileira do eixo ferroviário bioceânico está em operação entre Cascavel e Paranaguá e que a Ferroeste possui projeto final de engenharia para a ligação de Cascavel a Foz do Iguaçu e estudos de viabilidade para um ramal entre Guarapuava e Paranaguá, já acordado entre o governo do Paraná e o governo federal para eliminar um gargalo existente a partir de Guarapuava. O novo ramal a Paranaguá reduzirá a distância ferroviária atual em 125 km e o ciclo dos vagões de dez dias para menos de dois, quintuplicando a produtividade da operação. Segundo o presidente da Ferroeste, o trecho do corredor no território paraguaio, que deverá ligar as cidades de Puerto Presidente Franco e Pilar, na fronteira com a região argentina de Resistência, terá cerca de 300 km e sua construção será feita numa parceria entre o Brasil e o Paraguai, com financiamento do BNDES, conforme decidido em reunião entre o Chile, Argentina, Paraguai e Brasil, em 29 de maio de 2008, no Palácio San Martin, em Buenos Aires, da qual a Ferroeste participou a convite do Itamaraty. Samuel Gomes informou também que a luta pela construção do ramal Cascavel – Foz do Iguaçu–Presidente Franco (PY) recebeu um forte impulso no Paraguai, a partir de reunião entre produtores paraguaios e representantes do governo nacional, durante a Expo Santa Rita, a maior feira agropecuária e agroindustrial do país, no dia 16 de maio. Na reunião, o governo nacional paraguaio anunciou sua decisão de dividir com o Brasil o custo da construção da ponte ferroviária entre a cidade brasileira de Foz do Iguaçu e a cidade paraguaia de Puerto Presidente Franco. As decisões tomadas na reunião foram expressas na Carta de Santa Rita e serão implementadas por uma comissão de autoridades paraguaias, coordenadas pelo governador do Departamento de Alto Paraná, Nelson Aguinagalde, e pelos produtores paraguaios representados pela União das Cooperativas do Paraguai (Unicoop). O cônsul honorário do Brasil na Província de Salta, o argentino Fernando Antonio Triquell, lembrou aos presentes que desde 1958, durante o governo Frondizi, começou o declínio do sistema ferroviário argentino. Por influência da indústria automobilística multinacional, o governo e a grande imprensa desencadearam uma campanha de desprestígio contra os trabalhadores ferroviários e as ferrovias, para justificar a decisão de não mais investir no sistema. A delegação brasileira relatou que no Brasil, também na segunda metade da década de 50, no século passado, o governo federal fez uma clara opção de abandonar o desenvolvimento do transporte ferroviário, o que trouxe conseqüências prejudiciais ao país até a data de hoje. Houve consenso que os governos nacionais da América do Sul buscam reverter este quadro e investir em ferrovias, mas que a velocidade em que as medidas são tomadas e concretizadas é inferior à desejada. Por isso, segundo o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, “para que o processo de retomada e desenvolvimento das ferrovias na América do Sul avance mais decidida e rapidamente são fundamentais as articulações governamentais, subnacionais, entre regiões, estados e municípios, em conjunto com os agentes econômicos, como vimos acontecer aqui em Salta nestes dois dias de trabalho.” Outro tema abordado na reunião foi o modelo de gestão ferroviária. A delegação paranaense expressou a posição do governo do Paraná, sintetizada nas palavras do governador Roberto Requião, registrada em material de divulgação, em português e espanhol, que a Ferroeste distribuiu aos participantes do encontro: “A finalidade do meio de transporte que trabalha internamente no país não é ser um gerador de capital. Ele tem que se remunerar, tem que acumular para investir, mas não tem o compromisso de distribuir dividendos na Bolsa de Valores de Nova York ou na Bolsa de São Paulo. O compromisso desses monopólios, monopólios naturais, é com o conjunto da economia. E a estatização desses setores, por paradoxal que possa parecer, favorece a economia privada do país, porque deixa de ser gerador de capital, de lucros, a operação e construção desses sistemas, para que, então, a economia privada, com tarifas baixas, consiga se desenvolver com facilidade.” Grupo de trabalho Em conclusão à reunião, os participantes decidiram estabelecer um grupo de trabalho, constituído pelos agentes públicos e privados interessados no projeto, o qual cumprirá uma agenda estabelecida consensualmente. Segundo o presidente da Ferroeste, “a agenda estabelecida será desenvolvida em paralelo e em apoio à condução do projeto pelos governos nacionais do Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.” Segundo ele, “entre as medidas previstas, está o levantamento do estado atual de cada um dos trechos ferroviários existentes e dos projetos de construção de novos ramais e de outras obras necessárias, como são a ponte ferroviária entre Foz do Iguaçu e Puerto Presidente Franco e a ponte na fronteira entre o Paraguai e Argentina na região de Resistência”. Para isso, estão previstas reuniões técnicas em Paranaguá, Foz do Iguaçu-Presidente Franco, Pilar-Resistência, Salta e Antofagasta. O diretor de Desenvolvimento Empresarial do Porto de Paranaguá, Luiz Alberto Cesar, falando a respeito da reunião, considerou “de extrema importância a construção de uma agenda com ações programadas e estabelecidas para, efetivamente, envolver todas as partes interessadas na concretização do corredor ferroviário Paranaguá–Antofagasta”. Segundo ele, “o Porto está totalmente comprometido em, juntamente com a Ferroeste, cumprir esta agenda e fazer avançar o projeto, porque o futuro logístico do escoamento de riquezas naturais está diretamente relacionado com o desenvolvimento do modal ferroviário”. No encerramento da Missão Empresarial Multi-Setorial, nesta sexta-feira (29), às 14 horas, no Centro de Convenções de Salta, o Ministro de Desenvolvimento da Província de Salta, Julio Loutaiff, afirmou que o governo da província está comprometido com o estrito cumprimento dos compromissos de fazer avançar o projeto do corredor bioceânico, uma vez que Salta é uma região interior que necessita ganhos em logística para viabilizar o seu desenvolvimento econômico e social. Falando em nome da delegação paranaense, o secretário Virgilio Moreira Filho, considerou que, a partir da reunião de Salta, “o tema do corredor ferroviário bioceânico está definitivamente incorporado à agenda da Secretaria e do governo do Paraná”. Para o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, a reunião de Salta representou um avanço na direção da realização do eixo ferroviário Paranaguá-Antofagasta. “Saímos desta reunião mais fortalecidos. A partir do nível concreto das relações econômicas, sociais e políticas vivenciadas nas regiões, estados e municípios diretamente beneficiados pelo projeto, vamos impulsionar e colaborar com os governos nacionais para tornar realidade este sonho de unir o Atlântico e o Pacífico por ferrovia na América do Sul”.