Requião inaugura no Oeste do Paraná o Centro de Agroecologia do Iapar


Cerca de 3.000 agricultores da Via Campesina e do MST participaram da solenidade, acompanhada também pelo líder dos dois movimentos, João Pedro Stédile.
Publicação
05/12/2009 - 16:20
Editoria
Com a presença de 3.000 agricultores pertencentes ao movimento Via Campesina e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o governador Roberto Requião inaugurou neste sábado (05) o Centro de Ensino e Pesquisa em Agroecologia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), que vai funcionar no município de Santa Tereza do Oeste, região Oeste do estado. Esse centro transforma a unidade de pesquisas da multinacional Syngenta, que funcionava de forma irregular, em uma estação de pesquisas em agroecologia que não agride o meio ambiente nem a saúde da população, ressaltou o governador. O líder nacional do MST e da Via Campesina, João Pedro Stedile, participou da inauguração da estação que terá o nome de do integrante do MST Valmir Mota de Oliveira, o Keno. Ele foi morto em outubro de 2007 em conflito ocorrido entre o MST e milícias naquela área, àquela época ainda de propriedade da multinacional Syngenta. Requião ressaltou que a estação de agroecologia do Iapar fará pesquisas para toda a agricultura do Paraná, em especial para a região Oeste, que ganha com o desenvolvimento de tecnologias e ciência para uma agricultura menos dependente de agrotóxicos. Fazendo referência a um esboço de movimento contrário por parte de agricultores ruralistas da região Oeste, o governador convidou os filhos dos ruralistas para se juntarem ao Estado, ao MST e à Via Campesina “para aprenderem novas técnicas que vão libertar seus pais de práticas agrícolas que colocam em risco a saúde da população, deles próprios,além de terem elevados custos de produção”. HOMENAGENS - O governador prestou uma homenagem às duas pessoas mortas no conflito, o Keno e o segurança da área, Fábio Ferreira, que morreu de forma equivocada sob as ordens de líderes que mandaram invadir a área onde estavam os integrantes do MST e os seguranças da propriedade. Conforme as palavras do governador Requião, o tempo vai modificar a visão dos homens, que passarão a ter o entendimento dessa luta. “Graças à Via Campesina está aumentando a conscientização de que o excesso de agrotóxicos e a transgenia representa um instrumento de dominação da agricultura brasileira, que passa a ter cada vez mais dificuldade de vender sua produção do mercado externo”, afirmou. Requião criticou a dependência do agronegócio, cuja cultura é uma visão equivocada do lucro exagerado, da dependência do capital financeiro e do individualismo exacerbado. Para o governador, a contraposição à ganância do mercado é o compromisso com o capital produtivo do trabalho e com o espírito solidário como o do MST. O governador salientou que não se trata de uma provocação, mas chamou os líderes ruralistas para que pensem no futuro de seus filhos e que se juntem ao governo e ao MST para encontrarem um futuro melhor para a agricultura paranaense, do Brasil e do mundo. MARCO - Para Stedile, a inauguração do centro de agroecologia do Iapar em área que antes foi da Syngenta representa um marco na luta do movimento sem terra e da Via Campesina. O líder lembrou que foi no Paraná, em 1984, que surgiu o MST, em reunião também realizada no Oeste do Estado, na cidade de Cascavel. “Nos construímos o MST para derrubar a ditadura e hoje lançamos hoje um movimento com outra plataforma de luta”, disse. Para o líder, a luta do movimento agora não VAI mais se concentrar no combate à grande propriedade e ao latifúndio. “A batalha mudou e contra a ditadura do capital internacional”, salientou. Stedile explicou que o movimento estará contrário a um modelo de agricultura que não serve ao povo, que não respeita o meio ambiente e que coloca em risco a saúde das pessoas. Stedile se referiu a um alerta feito por uma médica do Instituto Nacional do Câncer, sobre uma projeção da associação médica dos Estados Unidos de que em pouco tempo 50% da população americana terá câncer por causa do consumo de alimentos transgênicos e com excesso de agrotóxicos. VIDA MAIS SOLIDÁRIA - O secretário da Agricultura e do Abastecimento, Valter Bianchini, também defendeu a prática da agricultura agroecológica e da agricultura familiar, “que proporcionam uma vida mais digna, mais justa e mais solidária para todos”. Justificou que a homenagem prestada a Keno, que deu nome a estação do Iapar, representa um reconhecimento à luta de todos os anônimos dos movimentos sociais contra os oligopólios. Bianchini lembrou que o trabalho que será desenvolvido na estação do Iapar abrirá caminho para a biodiversidade e para atender a um mercado que está em franco crescimento. “Cada vez mais aumenta a demanda por produtos orgânicos e agroecológicos”, assinalou. O secretário referiu-se ainda às pesquisas que serão feitas naquela estação sobre as mudanças climáticas que afetam a região Oeste do Paraná. BONS RESULTADOS - O presidente do Iapar, José Augusto Pichetti, disse que o grande mérito da pesquisa que será desenvolvida na estação de Santa Tereza do Oeste é que ela servirá para toda a agricultura. Ele citou os benefícios com os resultados das pesquisas do órgão com o feijão. Dificilmente empresas da iniciativa privada patrocinam pesquisas com feijão. E as variedades desenvolvidas pelo Iapar, altamente produtivas, agora estão sendo utilizadas por todos, desde o pequeno até o grande produtor, explicou. Segundo Pichetti, os pesquisadores do Iapar já iniciaram o trabalho de recuperação da área que era da Syngenta, que soma 123 hectares. De acordo com ele, análises de solo comprovaram que a área concentra uma elevada quantidade de resíduos de agrotóxicos nunca vista em outra propriedade. Os técnicos estão recuperando a área e já iniciaram pesquisas experimentais com feijão, milho e mandioca. Pichetti salientou que as pesquisas que serão feitas em Santa Tereza do Oeste vão atender demandas até fora do país.

GALERIA DE IMAGENS