O governador Roberto Requião inaugurou, nesta quinta-feira (28) o Colégio Estadual Antônio dos Três Reis de Oliveira. O governo investiu R$ 7 milhões para erguer em Apucarana (região Norte) a segunda maior escola do Paraná e uma das mais modernas do Estado, com capacidade para 2 mil alunos em período integral. O colégio fica no bairro Djalma Mendes de Oliveira, comunidade carente de Apucarana, e foi entregue no 66.º aniversário do município.
“Esta é a uma das melhores e mais bem equipadas escolas do Paraná, construída num bairro pobre de Apucarana. Só poderemos falar em educação no Brasil quando a escola do bairro mais pobre tiver a mesma qualidade das escolas dos meninos ricos das grandes cidades. E mais, o nome do herói da nossa geração”, disse Requião.
A escola leva o nome de um estudante de Apucarana morto em 1970 pela repressão política da ditadura militar. “Três Reis tinha o sonho de transformar o País num lugar mais justo. Seu sonho foi eliminado pela ditadura militar, que o assassinou. Hoje, estamos perenizando a memória e o sonho de Antônio Três Reis”, falou o governador.
“O irmão de Antônio, o jornalista Baltazar Estáquio de Oliveira, vai redigir uma biografia para que as gerações futuras conheçam o que significou o período em que viveu este estudante. Esse livro será distribuído a todas as bibliotecas publicas do Paraná”, afirmou.
Construída em terreno doado pela prefeitura, a estrutura tem 6.798 metros quadrados, conta com grande ginásio poliesportivo coberto, auditório e anfiteatro para 279 espectadores, 14 salas de aula, laboratórios de informática, ciência, química, física e biologia, biblioteca e ambientes específicos para atividades de música, vídeo, teatro e dança. Todas as instalações têm adaptações especiais para portadores de necessidades especiais.
INOVAÇÃO – O colégio é a primeira unidade de ensino estadual organizada em tempo integral em regime de colaboração — será administrado em parceria pelas redes municipal e estadual de ensino. Com a proposta de tempo integral, os períodos da manhã e da tarde serão de responsabilidade do município. No período noturno, o Estado oferecerá o ensino médio.
“Pensamos essa escola para a educação integral, de forma que os alunos tenham, aqui, uma formação completa. É uma proposta diferenciada, um espaço pedagógico referencia para o Brasil”, disse a secretária da Educação, Yvelise Arco Verde.
“As crianças terão acesso a cultura, a aulas de artes, literatura e poderão praticar esportes no contraturno escolar. A educação é um direito de todos, não um privilégio. O aluno ficará mais tempo na escola, com o dia cheio de atividades educativas”, explicou Yvelise. “Na gestão em parceria, o Estado irá ceder professores e o município ficará encarregado da parte administrativa.”
No primeiro ano de funcionamento, os alunos da 1.ª a 5.ª séries estudarão em tempo integral. O colégio contará com mais de 80 funcionários entre professores, administrativos e serviços gerais da rede estadual e do município. Todas as instalações do Colégio Estadual Antônio dos Três Reis Oliveira têm adaptações especiais par atender aos alunos portadores de necessidades especiais. Integra a obra ainda uma casa especial para o zelador da unidade.
“Nasci em Califórnia, sou filho desta terra há 57 anos. Por esta cidade, pela região do Vale do Ivaí, tenho grande amor e admiração. Tenho a honra de ter participado de toda a historia da construção dessa obra, por isso posso dizer da alegria e respeito ao que está acontecendo hoje em todo o Paraná. Sei que estamos no caminho certo”, disse o vice-governador Orlando Pessuti
IGUALDADE E JUSTIÇA — Baltazar Eustáquio de Oliveira, irmão de Antônio dos Três Reis, lembrou que a escola representa a igualdade e a justiça que Três Reis pregava. “Meu irmão estaria muito feliz de ver essa bela obra. Só quem viveu aquela época sabe o que era viver sem democracia, sob tortura, sem liberdade de opinião. O governador sabe disso porque viveu essa situação. Os jovens que aqui vão estudar terão exemplo daquele que defendia a igualdade, a liberdade e a democracia”, disse.
“Sabemos a importância que tem uma obra desse porte, o que ela vai representar para a comunidade. Em Apucarana, já executamos 55 obras desde 2003, num investimento de R$ 12 milhões. Também está reformando quatro escolas na região. Educação é uma prioridade do Governo”, afirmou o secretário de Obras, Julio de Aráujo,
O prefeito João Carlos de Oliveira lembrou que nunca o Estado investiu tanto em Apucarana como vem fazendo desde 2003. “Temos no Paraná um Governo que sabe administrar, e consegue atender as pessoas que tanto precisam dele.” Para Oliveira, a nova escola irá impulsionar o desenvolvimento da cidade. “Nossos alunos de 1ª a 9ª série terão ensino integral de qualidade. É um colégio moderno, amplo, que vai atender nossas necessidades na área educacional. Só temos a agradecer.”
“Fiz questão de estar aqui para testemunhar esta obra extraordinária, construída com muito carinho. Tenho certeza que a comunidade saberá cuidar deste colégio, motivo de orgulho para todo Paraná”, disse o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Nelson Justus.
QUEM FOI — Antônio dos Três Reis Oliveira nasceu em 19 de novembro de 1946, em Tiros (MG), filho de Ageu de Oliveira e Gláucia Maria Abadia de Oliveira. Morando em Apucarana, começou a lutar contra a ditadura militar e foi dado por desaparecido na cidade paulista de Taubaté em 1970, quando tinha 26 anos de idade. Em 1991, o nome de Antônio foi encontrado nos arquivos do DOPS no Paraná, identificado como “falecido”.
Três Reis fez o curso ginasial no Colégio Nilo Cairo e estudou Ciências Econômicas na Feccea, em Apucarana. Era membro da União Paranaense de Estudantes. Junto com José Idésio Brianesi, também assassinado durante a ditadura, produzia programas para a rádio local.
Ele foi indiciado no Processo 15/1968 por sua participação no 30.º Congresso da União Nacional de Estudantes (UNE), bem como no inquérito policial n° 9/1972. Foi excluído de ambos em decorrência de sua morte. Segundo denúncia de presos políticos de São Paulo, em documento datado de março de 1976, Três Reis foi metralhado, juntamente com Alceri Maria Gomes da Silva, em 10 de maio de 1970, em sua casa, em Tatuapé (SP), por agentes da Operação Bandeirantes (Oban).
Dias depois, em 21 de maio, foi enterrado, como indigente, no Cemitério de Vila Formosa, em São Paulo. Noutro relatório, do Ministério da Aeronáutica, consta que Três Reis “faleceu em 17 de maio de 1970, em Taubaté, quando uma equipe de segurança procurava averiguar a existência de um provável aparelho, o que resultou na sua morte”.
“Esta homenagem é mais que justa. Três Reis foi um jovem que sonhou e lutou pela liberdade, por um mundo mais igualitário. Ele começou sua trajetória na luta contra a ditadura aqui em Apucarana. Tive a honra de estar ao seu lado durante anos e quando fomos presos políticos em 1970”, falou o presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Narciso Pires de Oliveira.