O governador Roberto Requião apresentou sua tese sobre a crise global que está penalizando o mundo durante a abertura do seminário Crise – Desafios e Soluções na América do Sul, que começou nesta quarta-feira (25) e que se estende até sexta-feira (27). Para o governador, a crise iniciou no período pós-guerra, quando se estabeleceu que a moeda global seria o dólar e que seria emitido com lastro em ouro. Foi agravada posteriormente com concessão dos países do mundo ocidental feita aos Estados Unidos para imprimir moeda em dólar sem lastro.
No Brasil, a crise foi agravada com o governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, que entregou nossa economia e praticamente “desnacionalizou” o País.
O seminário, que se seguiu à posse de Roberto Requião na presidência do Codesul, reuniu os governadores Yeda Crusius, do Rio Grande do Sul; Luiz Henrique da Silveira, de Santa Catarina, e André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul. Além de secretários de Estado e de dirigentes da estrutura de governo compareceram cerca de 70 prefeitos paranaenses interessados em discutir os problemas atuais gerados com a crise financeira.
Também participaram o governador da província de Concepción, do Paraguai, Gonzalo Argañaraz, o presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Mario Bernd, o embaixador da Venezuela no Brasil, Julio Garcia Montoya, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Nelson Justus, o prefeito de Foz do Iguaçu, Paulo Mac Donald Ghisi, o diretor-geral da Itaipu Binacional, Jorge Samek, e o coordenador-geral do Seminário, secretário-chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro.
Para os países da América Latina, Requião defendeu uma solução mais ousada para enfrentar essa crise, que deve levar em consideração a integração entre todos eles, inclusive com a criação de uma moeda única. Ela seria o suporte para a negociação em bloco dos países da América Latina com os demais blocos econômicos, disse o governador.
Requião disse que se sentiu frustrado com as últimas medidas adotadas pelo presidente norte-americano Barack Obama, que autorizam o Tesouro dos Estados Unidos a trocar dólares para comprar os ativos podres dos bancos. “Nós depositamos nossas esperanças na eleição de Barack Obama, acredito que foi uma reconciliação daquele País com o seu próprio povo, mas isso não passou de um adoçamento das relações da potencia imperial com os paises do mundo”, afirmou.
Para ele, as recentes medidas do governo norte-americano ilustram o ditado: “Vamos mudar alguma coisa, para tudo ficar como está”. Ou seja, para Requião a troca do lixo das financeiras por dólares americanos trará uma terrível consequência para todo o mundo, que é quem realmente vai pagar a conta dessa crise.
Conforme a tese apresentada pelo governador, no Brasil a crise começou quando o governador-sociólogo Fernando Henrique Cardoso propôs a vinculação da economia nacional com a economia global, por acreditar que a capacidade de reação das empresas e empresários latino-americanos estava esgotada. “Acreditavam que não tínhamos mais empresários capazes de dominar entraves administrativos”. Foi quando iniciou o processo de desnacionalização do País, oferecendo nossas empresas públicas a grupos estrangeiros.
Segundo ele, aí teve início um grande processo de desnacionalização e a entrada do capital estrangeiro se deu em uma intensidade indesejada. “No cenário externo, tivemos o famoso consenso de Washington, que é versão universal da dependência. Os EUA, fortalecidos no período pós-guerra, passou a comandar todo o processo de desenvolvimento do mundo e a tese liberal de que a mão invisível do mercado supriria todas as necessidades de emprego, desenvolvimento e crescimento econômico”.
“Eu remonto ao pós-guerra, quando os EUA, vencedor absoluto único no planeta, reúne a conferência de Bretton Woods, onde estabelece o dólar como moeda global, com uma condicionante: o dólar seria emitido com lastro em ouro”. Posteriormente os governos de Richard Nixon e Ronald Reagan quebraram de forma unilateral essa condicionante e passaram a emitir moeda sem contrapartida e sem controle. A emissão de papel em dólar corresponde a aproximadamente 10 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do mundo e foi garantida pelo poderio militar dos Estados Unidos. “Esse dinheiro saiu pelo mundo a financiar desestatizações”, destacou o governador.
As empresas norte-americanas, por sua vez, se apropriaram de conhecimentos tecnológicos e científicos, garantindo-se com leis e patentes e viram seus lucros subirem de forma vertiginosa. Mas aí foi cometido um erro primário, que desencadeou a atual crise, apontou o governador.
“Ao mesmo tempo que embolsaram lucros gigantescos, as empresas congelaram os salários de seus trabalhadores que ficam sem poder de consumo. O excesso de liquidez das empresas deu início à financeirização da economia norte-americana e do mundo ocidental. Com pouco salário, mas com muitos dólares dos financiamentos, o povo norte-americano passou a comprar imóveis, automóveis e a garantir o ensino superior que naquele País é pago”.
De acordo com o governador, a liquidez era tanta que as mesmas casas eram financiadas várias vezes, elevando de forma fictícia o valor dos imóveis. “Foi uma desorganização financeira”. Quando os trabalhadores se deram conta que as casas valiam mais do que suas capacidades de pagamento, o calote explodiu e o crédito farto desmanchou como um castelo de cartas para todo o mundo. “No Brasil, vimos que várias empresas que apostaram no dólar e nos chamados derivativos e papéis de mercado e por isso tiveram prejuízos fantásticos”, disse o governador ao falar nas consequências para o País que é a redução de investimentos da iniciativa privada e o desemprego.
Requião abre Seminário apresentando tese que originou a atual crise no mundo
Para o governador, a atual crise global iniciou no período pós-guerra quando os Estados Unidos passaram emitir moeda sem lastro. No Brasil, ela foi agravada no governo FHC, que desnacionalizou a economia
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25/03/2009 - 18:40
25/03/2009 - 18:40
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