A presidente do Provopar Ação Social, Lucia Arruda, disse em entrevista a TV Paraná Educativa que em 2006 continuará investindo nos projetos de geração de renda e que o assistencialismo – a distribuição de cestas básicas – só se dará em casos de calamidade pública ou através do programa “Artesanato que Alimenta”, que troca alimentos por peças do artesanato indígena. Ela criticou o programa de distribuição do sopão, implantado no governo Lerner, considerando-o uma jogada de marketing. “Era uma lata bonita, com rótulo bonito, mas que na verdade não atingia seus objetivos. Era o marketing da sopa”.
Eis na integra, a entrevista que a presidente do Provopar concedeu esta semana ao repórter Carlos Morais, da TV Paraná Educativa:
TV Paraná Educativa: Quais os resultados apresentados pelas ações do Provopar este ano?
Lucia Arruda: Os resultados de trabalho iniciado em 2003, quando assumimos a presidência do Provopar, começaram a aparecer. Quando assumimos o cargo, o Provopar tinha uma outra linha de trabalho. Era uma instituição meramente assistencialista. Contudo, aos poucos, mudamos este pensamento e passamos a trabalhar no sentido de gerar trabalho e renda para a população mais carente. Em função disso, nosso primeiro projeto foi uma parceria com a Copel, para a arrecadação de recursos pelo programa Fome Zero, através da conta de luz. Os recursos arrecadados foram investidos em programas de geração de renda, com a implantação de cozinhas e padarias comunitárias em vários municípios do Paraná, inclusive na Região Metropolitana de Curitiba, onde temos cinco cozinhas gerando renda. Aliás, por causa deste projeto, o Provopar recebeu um prêmio do Governo Federal. Entendemos que “Fome Zero” não é a doação de cestas básicas e sim a geração de renda, porque acreditamos que o pai de família tem o direito de ir ao supermercado e escolher aquilo que quiser comer e não aquilo que é imposto pela cesta básica.
TV Paraná Educativa: Quais as atividades desenvolvidas pelo Provopar para atender as pessoas carentes?
Lucia Arruda: Nós trabalhamos diretamente com os municípios. Procuramos conversar com os prefeitos e as primeiras-damas, para que façam uma pesquisa para saber qual o programa de geração de renda que melhor se enquadra nas características e potenciais do município em questão. Deve-se saber, por exemplo, qual a matéria prima que existe em abundância no local. Podemos implantar uma cooperativa de artesanato, uma cozinha industrial, em caso de uma região agrícola, ou até mesmo uma cooperativa de confecção, como aconteceu recentemente com o município de Ariranha do Ivaí. Tivemos a satisfação de ouvir o prefeito Silvio Gabriel Petrassi dizer que a cooperativa de confecções implantada pelo Provopar era na verdade a primeira indústria instalada na cidade. Podemos optar ainda por uma fábrica de bolas, como foi feito na Vila Zumbi, em Colombo, onde existe também uma cooperativa de confecções, cujas máquinas também foram doadas pelo Provopar. Recentemente, liberamos recursos para uma cooperativa de trabalhadores rurais assentados interessados na produção e comércio de peixes. Efetuamos a compra de uma máquina de beneficiamento de café. Enfim, pode ser uma pequena máquina de churros ou até uma máquina de fabricar fraldas, desde que ajude os municípios, gerando renda para as pessoas carentes.
TV Paraná Educativa: Além de recursos, o Provopar ajuda na capacitação dessas pessoas?
Lucia Arruda: Naturalmente que sim. O município nos manda o projeto, o Provopar libera os recursos e ajuda no processo de capacitação das pessoas envolvidas. No artesanato, por exemplo, a gente tem procurado dar cursos para que as pessoas se aperfeiçoem, melhorando o designer e o acabamento de seus produtos. Em Guaraqueçaba, temos uma cooperativa de cerâmica, que cresceu e está oferecendo trabalho para os ilhéus e pescadores. Em Antonina, pretendemos montar em 2006 uma cozinha comunitária para as mulheres dos catadores de siri, que fazem o melhor risoto de siri que já comi. Elas não têm local para cozinhar. A nossa idéia é investir através da Associação dos Catadores de Siri na construção da cozinha e, com isso, ajudar no desenvolvimento nesse importante ponto turístico de nosso litoral.
TV Paraná Educativa: Isso quer dizer que a doação de cestas básicas está descartada? Os políticos que defendem essa prática atrapalham o trabalho do Provopar?
Lucia Arruda: Atrapalham e muito o nosso trabalho. Para nós seria muito mais fácil arrecadar recursos para o Provopar, comprar tudo em cestas básicas e sair por ai distribuindo como desejam alguns políticos. Mas a nossa meta não é essa. A gente gostaria que deputados, prefeitos e vereadores entendessem isso. A cesta básica acaba. O projeto de geração de renda continua, independente de quem seja o governador, o prefeito, porque as cooperativas são independentes. Os governantes saem e as cooperativas continuam.
TV Paraná Educativa: A senhora foi criticada por ter acabado com a distribuição do “Sopão do Lerner”.
Lucia Arruda: Fui muito combatida no início do governo por colocar um fim no sopão. Recentemente, alguns vereadores e deputados da oposição ainda cobravam a volta do sopão. Infelizmente, não temos nenhuma lata desse sopão, porque se tivesse gostaria de mandar para que experimentarem. Ela é simplesmente horrível. Só era consumida porque era “reformada” ou “reforçada” nos municípios. Eram feitas em latas grandes e qualquer dona de casa sabe que, para esterilizar uma lata daqueles, era preciso cozinhar muito. Nos Estados Unidos, existem sopas em lata, mas são sopas pequenas, porque a esterilização é coisa rápida e fica saborosa. Já o latão de nosso sopão ficava horas cozinhando e por isso ninguém conseguia comer. Fizemos um levantamento por causa dessa cobrança e constatamos que a produção mensal dessa sopa era de 6.500 latas. Cada uma proporcionava 40 porções, perfazendo um total de 260.800 poções por mês, que se dividida para os 399 municípios daria 656 poções por mês por município. Isso equivale dizer que dava para alimentar apenas 11 pessoas/mês/município, com duas refeições diárias. Portanto, o sopão não estava valendo a pena. Pedimos que uma empresa fizesse o levantamento de custo e constatamos que cada lata saia por R$ 6,49. Se fossemos fazer a mesma poção, desidratada, portanto mais saborosa, custaria R$ 4,15. Além do mais, havia por detrás do sopão uma equipe de funcionários, remunerada. Estávamos gastando demais para atender apenas onze pessoas por município. Era mais um marketing da sopa. Uma lata bonita com rotulo bonito, mas que na verdade não atingia seus objetivos.
TV Paraná Educativa: A senhora acha que o atual governo, com seus programas sociais, melhorou a vida do trabalhador?
Lucia Arruda: É claro que melhorou, principalmente para aquele que ganha salário mínimo e que, desse salário, precisa pagar a conta da luz, água e o leite das crianças. O resultado obtido é positivo. E a gente tem escutado nos municípios por onde andamos, em todo Estado, palavras de agradecimento a essa ajuda. E não é só no interior, mas na periferia de Curitiba também. Os programas sociais do Governo do Estado, como o Luz Fraterna, Tarifa Zero e Leite das Crianças, estão sendo elogiados a todo instante, porque está ajudando a sobrar um pouco mais de dinheiro para os trabalhadores e os mais carentes.
TV Paraná Educativa: Como o Provopar tem ajudado os povos indígenas de nosso Estado?
Lucia Arruda: Fizemos um apelo em favor dos índios que precisavam de alimentos. Em todo o Brasil, temos visto o descaso para com os índios. Fizemos um convênio com o Grupo Sonae (Big e Mercadorama), que esperamos ser cumprido pelo grupo que comprou o controle acionário dessa rede de supermercados, para o fornecimento de alimentos para os nossos índios. Eles nos dão os alimentos, nós montamos e distribuímos as cestas em várias aldeias. Fazemos o que os índios chamam de escambo, a troca de mercadorias. Eles nos pagam a cesta básica com artesanato. E a maior prova do sucesso desse programa e a árvore de Natal montada em frente ao Palácio Iguaçu. Agora, estamos fazendo um kit, com várias peças indígenas, para distribuir nos museus e escolas estaduais e municipais, para que todas as crianças conheçam nossas raízes, as nossas origens.
TV Paraná Educativa: E, para o ano que vem, quais os programas que o Provopar pretende desenvolver?
Lucia Arruda: Com o dinheiro arrecadado com a venda da varredura de soja do Porto de Paranaguá, vamos investir no litoral. Infelizmente não são todos os prefeitos do litoral que aceitam a nossa parceria. A gente tem enfrentado algumas dificuldades. O prefeito de Paranaguá, José Baka Filho, por exemplo, está colocando obstáculos no desenvolvimento de alguns de nossos projetos. Eu parto do principio que um prefeito deve ajudar a população de seu município e não atrapalhar. Estamos desenvolvendo um projeto junto a cooperativa de catadores de papel da Ilha Valadares. Montamos a cooperativa e, agora, queremos equipá-la, para que a reciclagem do lixo possa ser feito na própria cooperativa, mas o prefeito há quatro meses se recusa em liberar o alvará de funcionamento. Lá mesmo em Valadares, o Provopar já investiu dinheiro do Porto de Paranaguá, na compra de um terreno, onde pretendemos construir um centro de esportes, com uma quadra esportiva, piscina, salão, enfim queremos fazer algo para mudar a vida daquela região que é muito carente e onde as crianças ficam sem muito o que fazer.
TV Paraná Educativa: E em relação aos idosos, o que o Provopar e o atual governo pretendem fazer?
Lucia Arruda: O governador prometeu ao padre Pedro Bortolini que faria a reforma do Centro de Integração dos Idosos, São Vicente de Paula, em Curitiba. O Provopar pretende não só fazer a reforma, que tem início previsto para janeiro de 2006, mas implantar algumas melhorias, como a construção de cinco casas lares para que os idosos possam morar num ambiente que lembre a família. Pretendemos investir na construção de vários pavilhões na Comunidade Hermon, em Colombo, onde são atendidos drogados, moradores de rua, idosos, soropositivos e crianças. É um trabalho muito bonito e com muitas carências. Vamos fazer uma grande construção para abrigar essas pessoas.
Provopar vai continuar investindo em projetos de geração de renda
Em entrevista a TV Paraná Educativa, Lucia Arruda faz um balanço das atividades, anuncia planos para 2006 e critica o programa “Sopão do Lerner”, que não passava de puro marketing
Publicação
22/12/2005 - 17:07
22/12/2005 - 17:07
Editoria