Enquanto a CPRM (Serviço Geológico do Brasil) inicia o Projeto Levantamento Geoquímico no Brasil para verificar as condições do solo e das águas das bacias fluviais dos Estados, o Paraná já tem pronta a sua análise de sedimentos e águas com cobertura em seus 200 mil quilômetros quadrados de extensão.
O Levantamento Geoquímico de Baixa Densidade do Estado do Paraná foi desenvolvido pela Mineropar em parceria com a Emater/PR (órgão da Secretaria da Agricultura), Secretaria de Ciência e Tecnologia, Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Codapar) e CPRM.
Os resultados do levantamento geraram informações importantes para a população paranaense nas áreas de Geologia Médica e Geomedicina, segundo o geólogo da Mineropar, Otávio Boni Licht.
Na área de Geologia Médica, foi descoberta uma alta incidência (prevalência) de fluorose dentária em mais de 60% das crianças em idade escolar, na localidade de São Joaquim do Pontal, pertencente ao município de Itambaracá, região do Norte Pioneiro do Paraná.
O abastecimento de água naquela localidade era feito por poço tubular com elevados teores de flúor e, com base no projeto da Mineropar, foram realizados dois trabalhos de Odontologia Social pelos odontólogos da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Após o levantamento geoquímico no Estado e o trabalho desenvolvido pelos odontólogos, o problema da fluorose foi minimizado com a abertura de um novo poço tubular com valores de flúor compatíveis com a legislação.
O desdobramento deste projeto da Mineropar resultou ainda em uma reunião que aconteceu entre a Mineropar, a Sanepar, a UEL e a Secretaria de Estado de Saúde para discutir os índices de fluoretação da água de abastecimento da Sanepar em todo o Estado.
Na área de Geomedicina, a Mineropar identificou uma relação de teores elevados de cloro e bromo nas águas fluviais que podem provocar câncer de fígado. O cloro e o bromo são produzidos pela decomposição de pesticidas hoje proibidos, aplicados na lavoura do algodão e do café no Paraná, desde a década de 50.
Segundo Licht, médicos pesquisadores da UEL já haviam identificado no Paraná a relação entre pesticidas e câncer de fígado. “O que o projeto da Mineropar detectou foram os dois indicadores geoquímicos do problema”, explica o geólogo.
Ainda na área de Geomedicina, a Mineropar iniciou em projeto nesta área, realizando a coleta de amostragem de água e sedimento de corrente para a execução de análises químicas, geoquímicas, de agrotóxicos, bacteriológicas e genéticas no Paraná para contribuir com os estudos sobre a incidência de câncer nas glândulas supra-renais e também para dar mais consistência ao estabelecimento das relações de causa e efeito da etiologia de outras doenças crônicas e tipos de câncer.
O trabalho da Mineropar foi concebido a partir de uma pesquisa do coordenador científico do Instituto Pelé Pequeno Príncipe (IPP), de Curitiba, e do projeto de Geomedicina, geneticista Bonald Cavalcante Figueiredo, sobre câncer nas glândulas supra-renais em crianças, cuja incidência é maior no Paraná do que em outras regiões do Brasil e do resto do mundo.
DIFERENÇAS – A Geologia Médica é uma área de contato e conhecimento entre profissionais como geólogos, médicos, geoquímicos, químicos, biólogos, geógrafos, cartógrafos e da área de informática, entre outros. Ela estuda a relação de causa e efeito de fatores e condições geológicas sobre a saúde da população.
Diferentemente da Geologia Médica, a Geomedicina se preocupa com a distribuição geográfica das doenças, não somente com os fatores geológicos, mas também com os fatores ambientais como por exemplo a poluição industrial, urbana e agrícola.
METODOLOGIA E PARCERIAS - Licht avalia que a metodologia da baixa densidade do projeto foi muito importante para o sucesso da análise das características geoquímicas das bacias hidrográficas em todo o Paraná. “As amostras, apesar de coletadas num ponto do rio, representam as características da água e do sedimento do ponto de coleta até sua cabeceira”, explica.
Ele destaca ainda as parcerias feitas pela Mineropar no resultado positivo do projeto. “O modelo de cooperação institucional foi fundamental para a sua concretização. Para concretizar o projeto foram realizadas mais de 100 reuniões de convencimento com entidades que participaram e outras que utilizaram os dados produzidos em benefício da população”, avalia.
O trabalho fundamental da Mineropar foi planejar e a coordenar o projeto. A empresa fez o planejamento para cada estação de amostragem, confeccionando um kit com todo o material necessário como o mapa de localização, material para a coleta de água e sedimento e ficha de campo, entre outros. Os kits pré-numerados foram levados para os escritórios regionais da Emater de todo o Estado.
Durante duas semanas, dois geólogos da Mineropar – Licht e Gil Pierkaz – fizeram reuniões com agrônomos e técnicos agrícolas nos escritórios dos municípios paranaenses.
Nessas reuniões, os geólogos mostraram a importância do levantamento geoquímico para a saúde da população do Paraná, apresentaram o kit e foram a campo ensinar o método de coleta das amostras.
O trabalho rotineiro de coleta dos agrônomos e técnicos agrícolas foi responsável por 90% das amostras do projeto. O restante ficou a cargo dos profissionais da Mineropar.
O papel da Codapar no projeto foi a cessão de caminhão e motorista para o transporte das amostras dos escritórios regionais e locais ao Serviço de Laboratório da Mineropar (Selab), em Curitiba. O combustível, em todos esses trajetos, foi bancado pela Mineropar.
Após a secagem ao ar livre das amostras de sedimento, o material foi enviado pela Mineropar ao Laboratório de Análises Minerais (Lamim) da CPRM, no Rio de Janeiro, com o apoio da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, que custeou o transporte aéreo àquele Estado. Os profissionais do Lamin analisaram as amostras de água e sedimentos paranaenses.
Licht destaca que o projeto de geoquímica paranaense foi planejado e executado dentro dos padrões estabelecidos por um projeto da Unesco e da IUGS (International Union Geological Sciences).
O projeto chamava-se IGCP-259 e já não existe mais, porém seus padrões foram utilizados por vários países da Europa e pela China. “O Paraná, durante muitos anos, foi o único Estado brasileiro com levantamento deste porte e com essas características do projeto IGCP-259”, conclui o geólogo da Mineropar.
BRASIL – Este ano, a CPRM fará os estudos nos Estados do Pará, Bahia, Minas Gerais e Goiás. A previsão é que o projeto seja realizado em três anos. O custo total dele, em 2008, será de R$ 511 mil.
O projeto é coordenado pelo geólogo e chefe do Departamento de Gestão Territorial (Deget), Cássio Roberto da Silva, e consiste na coleta de amostras de água e sedimentos dos rios, solos e água de abastecimento das sedes municipais para verificar quais elementos químicos predominam nestes meios.
As amostras de solo e de sedimento serão analisadas por laboratórios parceiros que compõem a Rede Geochronos. A análise das amostras de água ficará a cargo do Lamim.
Estima-se que, com o projeto, sejam coletadas aproximadamente 9.653 amostras, sendo 4.000 de água dos rios, 4.000 de sedimentos, 853 de água de abastecimento e 800 de solo.
Projeto de Geoquímica da Mineropar produz resultados na geologia médica
Uma das descobertas foi a alta incidência de fluorose dentária em mais de 60% das crianças em idade escolar na localidade de São Joaquim do Pontal
Publicação
10/09/2008 - 14:20
10/09/2008 - 14:20
Editoria