A solução imediata para a crise no Brasil está nos programas sociais. Esta foi a avaliação feita pelo diretor de estudos macroeconômicos do Instituto Brasileiro de Economia Aplicada (Ipea) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, João Sicsú, na tarde desta quarta-feira (10) durante o seminário Crises: Rumos e Verdades, promovido pelo Governo do Paraná, em Curitiba.
“O que nós temos de negativo pode se transformar em positivo. Nós temos uma sociedade extremamente carente, uma sociedade onde ainda existem milhões de miseráveis e pobres. Portanto, a saída para manter a economia brasileira em ritmo de crescimento no próximo ano é ampliar o valor e a cobertura dos programas sociais. Isso é dinheiro colocado na mão de quem tem alta propensão a gastar”, afirmou.
Segundo Sicsú, o aumento na renda das famílias é essencial para gerar consumo interno e, assim, fazer crescer a produção e diminuir a dependência do mercado externo. Para ele, neste momento o Governo deve fazer tudo o que pode ser feito para manter a saúde do sistema financeiro e evitar que o setor produtivo quebre.
O economista defende que, apesar de estarem aparentemente sadias, as instituições financeiras brasileiras estão paralisadas. Ele atribui ao Governo o papel de adotar medidas de socorro e precaução, para fazer com que elas voltem a funcionar e façam a economia se movimentar.
Sicsú sugere que, Estado e mercado atuem de forma complementar. Assim, quando o setor privado retrai seus gastos, o setor público avança.“Na crise caem o consumo, os investimentos e as exportações. Nesse momento, é o Governo que deve aumentar seus gastos. Apertar os cintos é suicídio”, alertou. De acordo com ele, o Estado deve conjugar atuações de resultado imediatos com medidas de médio e longo prazo, como os investimentos em obras públicas, que teriam impacto em dois ou três anos e complementariam as ações de combate aos efeitos da crise.
“É através de programas sociais que nós vamos resolver o problema em curto prazo. Em longo e médio prazo nós temos que associar a isto projetos de investimento. Digo mais: só um ou outro não é suficiente. Nós temos que seguir os dois caminhos. E nesse caso nós temos espaço e orçamento”, afirmou.
O economista acredita que nos últimos anos o Brasil atingiu boas condições para enfrentar a crise. Ele citou como exemplo disto o crescimento do Produto Interno Bruto, das taxas de investimentos, do número de empregos com carteira assinada, do valor do salário mínimo e da produção. “A economia brasileira está numa situação em que nós podemos sofrer um grande impacto dessa crise, mas também podemos sofrer um pequeno impacto. Nós ganhamos, nestes três anos, graus de liberdade para decidir nosso futuro. O Brasil vai escolher a sua trajetória nesta crise”, disse.