Dentre as empresas estatais que simbolizam um erro brutal em ter sido privatizadas, na visão do presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina, Nildo Ouriques, estão a Vale do Rio Doce, no Brasil, a YPF na Argentina e a YPFB, na Bolívia. “A privatização das telecomunicações no México transformou Carlos Slim no empresário mais rico do mundo num país de pobreza extrema. O processo de privatização da Petrobrás continua em andamento e precisa ser barrado”, afirmou.
O atraso tecnológico, a entrega de recursos e matérias primas em territórios estratégicos, a diminuição do emprego e da arrecadação de impostos e o estrangulamento do mercado interno foram alguns dos prejuízos resultantes das privatizações ocorridas na América Latina, apontados por Ouriques durante palestra na tarde desta quarta-feira (19), em Curitiba.
Doutor em Economia pela Universidad Nacional Autónoma de México, Ouriques falou sobre o Sistema Mundial e Estados Nacionais: história de privatizações na América Latina. Esta foi a terceira palestra do Ciclo de Debates sobre Políticas Públicas para a América Latina, promovido pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Sanepar e Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o apoio da Caixa Econômica Federal, BRDE e Codesul.
Outro prejuízo apontado por Ouriques é a dependência tecnológica que se cria nas privatizações. Ele exemplificou o caso do setor de eletrônicos no Brasil cuja balança comercial é deficitária devido ao pagamento de royalties (pagamento pelo uso, fruição ou exploração de direitos patenteados) pela tecnologia alheia.
“O nacionalismo é a ideologia mais forte nos países centrais, como Estados Unidos, Japão e países da Europa. Para eles o protecionismo é a regra e eles não abrem suas portas para privatizações, somente a América Latina é quem faz isto. Trata-se de uma elite débil, colonizada e um empresariado destituído de iniciativa e incapaz de enfrentar a disputa mundial”, criticou Ouriques ao falar sobre a política de privatizações de setores estratégicos na América Latina.
A retomada do nacionalismo tem tornado possível a reversão de importantes privatizações feitas durante as políticas neoliberais na América Latina. Ele cita a Bolívia e a Venezuela como exemplos. “A América Latina embarcou numa onda nacionalista. Eu espero que o Brasil não seja tão atrasado como sempre e embarque nesta onda o quanto antes”, preconizou Ouriques.
Ele lembra que os principais argumentos utilizados pelos privaticionistas era de que as empresas públicas eram deficitárias e serviam como cabides de empregos para indicados políticos. “Estes argumentos foram utilizados para uma legitimação popular. Nas décadas de 70 e 80, das dez maiores empresas do Brasil, sete eram públicas. Se existia empreguismo e mau gerenciamento, era fácil de ser cortado. Muitas estatais foram mal geridas com o objetivo de liquidá-las”, afirmou.
Quanto à preocupação referente à quebra de contratos que geraria uma fuga de investimentos estrangeiros, Ouriques é emblemático. “O capitalismo é um sistema de risco, onde não há garantias de lucros extremos e contínuos. O capital estrangeiro não é necessário e nem desenvolve os países latino-americanos. As empresas que colocaram dinheiro estão remetendo lucros e dividendos, fazendo com que os países da América Latina tenham mais prejuízos do que lucros. Isto aocontece desde a época de Adam Smith”, declarou, ao citar o escocês, considerado um dos criadores do capitalismo, no século XVIII.
Ouriques também critica o liberalismo adotado na Inglaterra e o neo liberalismo praticado na América Latina. Ele argumenta que a Inglaterra antes da política liberal encabeçava a economia européia e após o processo perdeu posição para a Alemanha e tenta se recuperar até hoje.
“Ainda assim, não dá para comparar políticas liberais num país como Inglaterra e esta mesma política num país como o Brasil. Na América Latina 62% da população é composta de pobres e miseráveis, que vivem com menos de dois dólares por dia. Este modelo político e econômico debilitou estes países, tornando-os ainda mais desiguais. No caso da Inglaterra, eles tomaram conta da situação e se articulam para derrubar os Estados Unidos e a China economicamente e nós?”, indagou Ouriques.
Privatização da Petrobrás precisa ser barrada, alerta economista
Segundo o presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina, Nildo Ouriques, o processo está em andamento
Publicação
19/09/2007 - 17:32
19/09/2007 - 17:32
Editoria