A primeira usina comunitária de pequeno porte do Paraná, com capacidade para produzir 100 quilos de óleo vegetal por hora está instalada junto à cooperativa de Witmarsum, no município de Palmeira, na região dos Campos Gerais, a cerca de 200 quilômetros de Curitiba. Construída por empresas nacionais, a miniusina atenderá prioritariamente pequenos produtores rurais que poderão, entre outras vantagens, obter óleos vegetais puros e comercializa-los no mercado nacional com certificação de qualidade emitido pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). O preço de uma miniusina está hoje entre R$ 220 mil e R$ 150 mil.
O projeto miniusinas comunitárias foi um dos assuntos tratados durante a I Conferência de Bioenergia do Paraná, realizada nesta terça-feira (06), no auditório do Tecpar, na Cidade Industrial de Curitiba. Segundo o secretário Aldair Rizzi, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o objetivo do evento foi o de reunir as propostas elaboradas na área nos últimos três anos por órgãos de governo, iniciativa privada, pesquisadores e especialistas no assunto, e transformá-las numa política clara e consistente para a sociedade.
Para o secretário Aldair Rizzi, o projeto das miniusinas “é uma das formas de melhorar a renda do pequeno agricultor e de viabilizar a sua permanência na terra”. Segundo Rizzi, o Paraná possui hoje perto de 380 mil famílias de pequenos agricultores, que respondem por 40% da produção agrícola. Entre estes, o número de pequenos agricultores que optaram pelo plantio agro-ecológico vem aumentando na última década, segundo ainda o secretário. “Estima-se que cheguem a cinco mil famílias”. Segundo o vice-governador e secretário da Agricultura Orlando Pessutti, que também participou da conferência, o governo do Estado também promove a criação de médias e grandes indústrias de produção de óleo vegetal.
Vantagens - De acordo ainda com o secretário Aldair Rizzi, além de procurar obter o domínio prático da tecnologia de secagem de grãos por microondas, de prensagem a frio e de processamento de subprodutos (óleo e torta) de diversas oleaginosas para fins comestíveis (humano e animal), o projeto, que tem recursos do Fundo Paraná da ordem de R$ 250 mil, vai oferecer oportunidades de visitação a pessoas e grupos interessados. “Os resultados esperados também incluem maior autonomia aos agricultores, maior capacidade de organização solidária na produção e comercialização e na consolidação de uma agricultura sustentável e socialmente justa”.
Na prática, a primeira miniusina, que deverá ser inaugurada ainda neste ano pelo governador Roberto Requião, já está sendo apresentada a grupos de agricultores interessados, informa o coordenador da Rede Evangélica Paranaense de Assistência Social, pastor Werner Fucks, um dos coordenadores do projeto.
“Trata-se de equipamentos de baixa tecnologia (low-tech), com grande perfil de aceitação não só por causa do preço, mas também pelas possibilidades que oferece”, disse ele. “No Brasil, não se produz óleo vegetal puro, então aí está um grande nicho de mercado”, acrescenta entusiasmado. Fucks lembra ainda que na Suissa o litro de 250 ml óleo vegetal puro chega a custar $36,00. “Se o produtor brasileiro vender a R$ 10,00 o litro ele já estará melhorando muito a sua renda”.
O equipamento instalado junto à cooperativa de Witmarsum possui capacidade para 100kg/h mas poderá ser compactado para 50kg, atendendo assim grupos de agricultores que cultivarem até 100 hectares. Esse modelo poderá ser montado sobre rodas e servir de demonstração em várias regiões, como informação aos agricultores familiares.
A miniusina deverá processar diversas oleaginosas (soja, girassil, canola, amendoim, gergelim, nabo forrageiro e mamona, entre outras). Conforme o físico nuclear Walter Bautista Vidal, um dos participantes da conferência, a obtenção de óleo vegetal a partir de baixa tecnologia é economicamente viável para a agricultura familiar por causa do preço. “Nesse processo não há queima de glicerina”, afirma. Vidal contou que no município de Palmeira das Missões, RS, 62 localidades já estão testando o óleo vegetal. “Cerca de 30 mil famílias gaúchas deverão ser beneficiadas”, observa.
Parcerias - O projeto prevê ainda a busca de novas tecnologias junto a parceiros internacionais; controle da qualidade (ensaios de laboratório) tanto para uso comestível e lubrificante quanto para bicombustível; estudo das aplicações dos óleos vegetais puros e suas misturas com diesel comum visando geração de energia elétrica; agregação de fabricantes de equipamentos; pesquisa de tecnologia alternativa para separação de impurezas; entre outras etapas.
O projeto das miniusinas surgiu a partir de vários contatos feitos em 2004 com agricultores europeus pela Rede Evangélica Paranaense de Assistência Social (REPAS), que se convenceu que a extração de óleo vegetal em pequena escala e de forma descentralizada era uma alternativa viável para a agricultura familiar. Para isto, foram feitas pesquisas com a finalidade de selecionar os equipamentos que melhor se adaptariam à extração de óleo em pequena escala, bem como para assegurar qualidade na combustão em motores a diesel.
O resultado foi um convênio com o Governo do Estado/Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior/Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) e o Instituto Cristão de Desenvolvimento (ICD), que atua junto a lideranças comunitárias e organização de ONGS voltadas a projetos sociais no meio rural. O convênio também prevê a certificação de subprodutos das mini-usinas, particularmente os agro-ecológicos, possibilitando maior renda para o agricultor e maior segurança para o consumidor.
Primeira usina comunitária de pequeno porte está instalada em Palmeira
A miniusina produz 100 quilos de óleo vegetal por hora e está instalada junto à cooperativa de Witmarsum, no município de Palmeira
Publicação
06/12/2005 - 18:00
06/12/2005 - 18:00
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