O presidente da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), Rafael Greca, participou da abertura da 1ª Bienal do Livro de Curitiba. Greca falou sobre a memória e o que chamou de “ciladas do esquecimento”, citando como exemplo o Barão do Serro Azul, personagem de destaque na história do Paraná e que muitos paranaenses não conhecem. Ele também discorreu sobre a importância de a vida continuar sendo a arte do encontro e de os livros serem a fonte principal de conhecimento.
“O Barão do Serro Azul, nascido em Paranaguá em 1849, tem tudo haver com esta Bienal do Livro, pois ele foi o fundador da Impressora Paranaense e isso na época da acanhada Curitiba do longínquo ano de 1888. Mas se perguntarmos nas ruas da atual Curitiba, fatalmente perceberemos que nem todos se recordam dele e nem da importância, da glória e dos méritos. Isso nos leva a uma reflexão sobre o atual momento da Cultura”, disse Greca.
O ex-prefeito de Curitiba disse ainda que as novas tecnologias estão tomando o espaço que deveria ser de leitura de pensamentos, humanidade e filosofia. “As pessoas perdem horas lendo as instruções dos novos aparelhos eletrônicos em vez de ler livros, as pessoas tornam-se vítimas da mídia que cada dia mais promove um bombardeamento de novos produtos, estamos substituindo a essência pela tendência”.
O desenvolvimento digital, segundo Greca, pode melhorar a vida das pessoas como, por exemplo, as tecnologias que permitem às pessoas que sofreram acidentes terem os movimentos novamente, mas nem todas as conquistas da tecnologia trazem felicidade. “Com a tecnologia substituindo as relações humanas, quando tudo é feito via internet e celular, tudo ficou mais solitário, muito mais triste”, afirmou.
As crianças e os jovens são os mais ameaçados com essa cultura tecnológica, pois não aprendem que é preciso investir tempo para aprender coisas novas e recorrem aos aparelhos modernos como forma de conhecimento e divertimento. “Isso é a chamada síndrome do click, as pessoas acreditam que estão conquistando a felicidade com um simples apertar de botão”, explicou Greca.
Ao finalizar a participação, Greca disse que é necessário que a vida continue sendo a arte do encontro e que os livros devem ser a fonte principal de conhecimento. “As tecnologias tiram tempo ao hábito de cultivarmos a palavra, o conto, as estórias e a recordação da emoção. Os livros nos ajudam a enfrentar estes tempos em que a cultura da memória parece substituída pela cultura do esquecimento”.
“Uma bienal do livro é uma ocasião de encontro e de troca, é o fortalecimento da vocação literária de Curitiba, que teve a primeira universidade do Brasil. Eu também dei minha contribuição aqui com a criação dos Faróis do Saber, o maior número de bibliotecas de bairro e as primeiras Lan Houses públicas do Brasil. A existência desta bienal do livro em Curitiba qualifica a cidade como capital cultural como ela é”, concluiu Greca.
O presidente da Bienal do Livro, Julcio Maron Torres, disse que as palavras de Greca são muito pertinentes para a ocasião. “A nossa intenção com este evento é promover a leitura e torná-la mais acessível. Depois do que o Rafael disse espero que as pessoas parem e pensem no quanto a tecnologia está influenciando suas vidas e dêem mais valor para os livros e tudo de bom que eles proporcionam”, disse.
O deputado federal Marcelo Almeida, defensor da leitura e do acesso à cultura, também esteve presente na abertura da Bienal e disse que Curitiba entra no circuito da cultura nacional. “O que eu fico mais feliz é que estamos saindo do eixo Rio – São Paulo. Curitiba estava necessitando dessa alma, esse encontro de pessoas do bem, de livros e editoras. Espero que este seja o primeiro passo de muitos outros”.