Portos do Paraná saúdam o bicentenário da abertura dos portos

Artigo do superintendente dos Portos de Paranaguá e Antonina, Eduardo Requião de Mello e Silva
Publicação
01/02/2008 - 17:10
Editoria
A corte chegou e o príncipe regente não tardou sequer uma semana para tornar pública a abertura dos portos brasileiros. Há 200 anos, no dia 28 de janeiro de 1808, iniciava a independência política do Brasil. Um processo que se estende até hoje, tão instável parece, por vezes, a soberania nacional. A carta régia de D. João emancipava a colônia, permitindo-lhe acesso ao mundo, liberava as sufocantes amarras que dantes eram impostas pela metrópole. Contam historiadores que houve muitos festejos pela cidade de Salvador por ocasião da promulgação da emancipação portuária. Os que comemoravam, o faziam, tudo indica, movidos por um incipiente sentimento de nacionalidade. Embora se deva dizer que a abertura dos portos tivesse ocorrido por interesses diretos da corte, que sem o controle das cidades portuárias de Lisboa e do Porto precisava de um canal de comunicação como o mundo, é imperativo salientar que esse ato trouxe inegáveis progressos para a população brasileira. Outro acontecimento que ratifica essa noção foi a revogação da proibição de manufaturas, assinada em primeiro de abril do mesmo ano. Havia, assim, motivos para o júbilo. No entanto, é preciso notar que nem todos pensavam dessa forma. Houve os que ironizaram a alegria dos soteropolitanos e, por extensão, dos brasileiros. Estes, que desde já compreendiam a realidade unicamente com a lógica do balcão de negócios, não percebiam o quanto o nascente sentimento comunitário de nacionalidade era importante naquele momento. Com sarcasmo, diziam que a corte tinha pensado apenas em si e que os brasileiros não lhe deviam qualquer reconhecimento por esse ato. Esses agentes do pensamento cínico agiam de forma curiosa. Criticavam duramente o governo, mas graças a ele mantinham seus farnéis cheios. Defendiam a isenção do Estado nas relações econômicas, mas acorriam a ele tão logo se sentissem em risco. Asseveravam seu espírito democrático, mas clamavam pela força estatal sempre que farejavam indícios de organizações populares. Assim agiam; assim agem até os nossos dias. Não lhes era possível compreender a exultação pela nova realidade que se descortinava para os brasileiros. Não podiam entender o regozijo de quem via, naquele momento histórico, um avanço inequívoco em sentido à soberania. Embora constatassem a abertura das relações do Brasil com o mundo, pretendiam manter as amarras coloniais pela via do parasitismo que tem como hospedeiro o Estado. Essa perversidade se manifesta até hoje, e tem atrasado a consolidação da democracia brasileira. São os agentes da submissão aos interesses econômicos que, há dois séculos, faziam rapapés à colonização portuguesa e ao monopólio comercial inglês, ao mesmo tempo em que simulavam azedumes críticos em relação a ambos. São os que advogam, hoje, a subalternidade aos interesses de corporações que pretendem fazer dos países do terceiro mundo simples fontes de mão-de-obra barata e mercados para produtos de consumo. Falamos dos que recomendam docilidade à supremacia de interesses que não contribuem para o bem público e fazem da espoliação financeira a sua rotina. Essa postura subordinada, manifesta naqueles que propõem a privatização dos portos públicos, tem, no mesmo ato que clama pela modernidade, condenado o país a perseverar na repetição de um passado servil. Curioso é perceber que muitos desses agentes do atraso nos acusam de tentar deter o progresso econômico e de nos contrapor ao processo de globalização das relações comerciais. O que queremos, claramente dito, é que essas relações sejam pautadas pela negociação proveitosa para todas as partes envolvidas e não para apenas uma delas. Por compreender claramente o compromisso do Estado com a sociedade que representa, propomos que o diálogo político tenha como norte a responsabilidade pelo bem comum. Não podemos aceitar que se continue defendendo um retrocesso de duzentos anos, quando nossa submissão irrestrita à metrópole nos condenava à inércia. Eis que vemos ressurgir interesses que, vez por outra, se articulam orquestrados pelos que nos querem um mercado ao invés de uma nação. Preferem antes a subserviência que a autonomia. Querem o sucateamento dos portos públicos para fechá-los, para vendê-los da mesma forma como já negociaram seu sentimento cívico. Querem retornar aos tempos da colônia, abafar as vozes que saudaram a abertura para o mundo e paralisar o amadurecimento de nossa cultura política. Nos Portos de Paranaguá e Antonina, seguimos o caminho inverso. Saudamos este bicentenário com um porto moderno que tem servido com eficiência a importadores e exportadores, mas que não se dispõe a se tornar servil. Abrangemos cada vez mais nosso campo de ação com uma administração que está aberta a fomentar o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida de nosso povo. Não cedemos a interesses particulares dos que apostam no fracasso de um projeto nacional na forma da genuflexão diante de interesses predatórios para nossa gente. A emancipação política de nosso país teve início há 200 anos. Aqui, nos Portos de Paranaguá e Antonina, aqui no Paraná, ela segue de vento em popa rumo à consolidação, com a união de todos que acreditaram e colaboraram com a consolidação do nosso modelo de gestão. Os portos paranaenses continuam abertos aos investimentos da iniciativa privada, ampliando suas instalações e respeitando os princípios que nos permitem e permitirão a garantir nossa independência e a defesa da cidadania. Eduardo Requião de Mello e Silva Superintendente dos Portos de Paranaguá e Antonina