“A visualização de um novo tempo é a expectativa dos otimistas determinados. Somos um povo otimista por natureza e determinado por vocação. Essas duas ferramentas removem frustrações e decepções nos levando às esperanças traduzidas na arte de ousar. Ouso dizer que tenho esperança que acontecimentos políticos como os ocorridos no ano que passou não irão macular a determinação dos brasileiros de boa vontade, ao contrário vão depurar o sistema e acentuar a massa crítica provocando a exigência própria de países fortes e desenvolvidos. É com esta determinação que me disponho a retribuir a confiança em mim depositada pelo Governador Roberto Requião, ao me manter no cargo de superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina – APPA.
Em 2003, quando assumia a cargo, que sempre me honrou, sabia dos desafios, mas não imaginava até que ponto chegavam o grau e o nível de interesses, claros ou escusos, tecidos por mentes menos, ou mais, honestas, menos, ou mais, ardilosas e habilidosas.
Quatro anos de convivência diuturna com a atividade portuária me proporcionaram vasto, mas confesso não total, pois a cada dia me surpreendo mais, conhecimento dos meandros e desmandos aos quais é submetida a atividade portuária brasileira onde ser honesto é “terrorismo” e desonesto uma condição. Foram quatro anos de aprendizado outros quatro virão e, certamente, muitas “surpresas” ainda enfrentarei mas hei de lutar até o momento em que, não mais surpreso e muito menos surpreendido, o sistema portuário funcionará de forma transparente, correta e à altura da classe produtiva.
Sucateados, sob a égide de uma lei – a 8.630 – que, supostamente, foi criada para modernizar o sistema portuária brasileiro, os portos do Paraná chegavam, de acordo com os conceitos de políticos e administradores de então, ao seu limite. Nossos portos, segundo se propalava, não atingiriam as 30 milhões de toneladas movimentadas. Não teriam capacidade técnica e infra-estrutura para tanto. No primeiro ano de nossa administração, já movimentávamos quase 4 milhões de toneladas a mais, não só chegando às 30 milhões de toneladas, mas ultrapassando e provando que falcatruas e más intenções fazem estatísticas, assim como fizeram durante todo o tempo em que se tentou a privatização total dos nossos portos. Investimos sim, adotamos medidas de logística eficazes, equipamos e modernizamos mas, principalmente, trabalhamos com o empenho de quem sabe que o patrimônio público é a maior riqueza e força de um país.
O desenvolvimento do sistema portuário brasileiro é fundamental para o crescimento do mercado entre países da América Latina. Precisamos continuar investindo e valorizando nossas relações com os países vizinhos, a exemplo do que está acontecendo neste momento, com a concretização do acordo, feito em novembro de 2005, com a Venezuela. Com a chegada do navio Apollon, que trouxe uréia venezuelana- considerada a melhor do mundo - para o Paraná, abrimos novas linhas de navegação e isto, porque o Porto de Paranaguá, além da localização privilegiada, possui condições que outros portos não têm. Mas, sermos os melhores, ou os mais adequados não é a preocupação inicial. Nossa preocupação é a economia de nosso Continente, a união entre países latinos e vizinhos, que formam um contexto, que deveria ser único, a exemplo da comunidade européia.
Nossas preocupações se concentram na criação de linhas de navegação, abrindo o leque de mercadorias comercialmente viáveis, para a exportação nos seus vários sentidos. Enquanto importamos uréia da Venezuela podemos exportar vestimentas, congelados, móveis, entre outros. E, não só para esse país. Temos um mercado muito amplo com os demais países sul americanos. O Paraguai, que possui infra-estrutura e entreposto alfandegado em Paranaguá, já manifestou sua concreta intenção em construir um terminal de líquidos, substituindo a movimentação, já praticamente extinta, de contêineres. E este intercâmbio entre os países do continente pode ser amplo, contemplando interesses mútuos. É certo que dependemos das condições de mercado. Não pretendemos e nem possuímos tamanha ingenuidade de pensar em fazer um comércio “caseiro”. Somos parceiros sim, mas cada país possui a sua soberania, os seus interesses e as suas culturas.
Nossa causa pode ser comum, mas nossos interesses nem sempre coincidem. O que não podemos é nos manter enclausurados, sustentando uma dívida com nós mesmos, que emperra toda a estrutura econômica, cultural e social. Precisamos criar um fluxo de cargas ágil, eficaz e real.
Em 2003, quando assumi a APPA, o comércio com países sul americanos era de 25 milhões de dólares. Hoje, é de 245 milhões. Ainda é pouco. O Brasil, a América do Sul é uma potência bem mais valiosa.
É hora de ousar. Hora de impormos condições para o mundo, unidos, principalmente com qualificação de nossos serviços, da nossa logística, do nosso patrimônio maior que é o trabalho e a determinação de ver nossos países fortes e soberanos.”
Eduardo Requião de Mello e Silva
Superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina