O Grupo Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre), da Polícia Civil paranaense, prendeu, na madrugada de quinta-feira (28), duas pessoas acusadas de participar do seqüestro de uma moça em Curitiba, em novembro do ano passado. A moça é filha de um empresário do ramo alimentício e ficou 50 dias em cativeiro, no seqüestro mais longo registrado no Paraná.
Na época, a jovem foi resgatada sem o pagamento de resgate e três pessoas foram presas, mas Alexandre Ferreira Viana, 30, apontado como mentor de todo o esquema, ainda estava solto. Ele foi preso pela polícia de São Paulo, no último dia 25, juntamente com sua mulher, Regiane Maciel de Souza, 28. A polícia paulista chegou ao casal, pela parceria realizada com o grupo Tigre, que compartilhou informações da investigação. A irmã de Alexandre Viana, Tânia Ferreira Viana, 34, e seu marido, Genivaldo Lopes de Oliveira, 30, que também participaram do seqüestro no Paraná, foram presos pelo grupo Tigre na capital de São Paulo, na madrugada de quinta-feira (28).
“Este é o comportamento da polícia do Paraná, que não desiste de prender foragidos. Foram 13 meses em que o Tigre trabalhou incessantemente. Os policiais chegaram a fazer oito viagens a São Paulo, cada uma com uma média de uma semana de duração. Foi um trabalho de persistência e competência da nossa polícia para capturá-los”, ressaltou o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari.
O delegado-chefe do Tigre, Riad Braga Farhat, que comandou as investigações, complementou que as buscas só paravam quando existia algum seqüestro no Paraná para solucionar. “O secretário deu carta branca para investigarmos e viajarmos a hora que precisássemos. Em todos os grandes feriadões, como carnaval e páscoa, nossos policiais estavam em São Paulo, para tentar pegá-los”.
Farhat contou que, no período dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), os policiais estavam na capital paulista. “Foi uma situação de alto risco, pois tínhamos que estar à paisana e poderíamos morrer na mão dos bandidos ou dos policiais paulistas, se fôssemos confundidos, mas o trabalho foi um sucesso e resultou na nossa principal prisão até hoje”, complementou.
Prisão – Tânia e Oliveira foram presos na casa deles, na favela do Guaianazes, Zona Leste da capital paulista. A residência deles foi adaptada para receber reféns e tem um porão escondido embaixo de um sofá, onde são mantidas as vítimas. “A moça aqui do Paraná ficou 30 dias na casa deles”.
Alexandre Ferreira Viana e sua esposa foram encontrados no litoral Sul de São Paulo, na Praia Grande, na noite de segunda-feira (25), enquanto bebiam cerveja em um quiosque. A polícia abordou o casal, que não ofereceu resistência. Segundo Farhat, a localização de Viana foi bastante complicada, porque ele só se comunicava por telefone público e nunca repetia o mesmo local. “Registramos ligações dele no Rio Grande do Sul, dias depois na Bahia, Rio de Janeiro, tudo para confundir os policiais. Por este motivo foi tão demorada a sua prisão”, relatou.
Viana está preso na Divisão Anti-Seqüestro de São Paulo (DAS), pois, mesmo preso, ainda mantém outro seqüestro em andamento. Ele é foragido de um presídio de São Paulo e já tem três passagens registradas por seqüestro e cinco por assalto à mão armada. “Mas temos a informação de que ele participou de mais de uma dezena de seqüestros”, complementou Farhat. Regiane Maciel de Souza, Tânia Ferreira Viana e Genivaldo Lopes de Oliveira não têm passagens pela polícia. Todos serão indiciados pelo Tigre por extorsão mediante seqüestro, com pena que pode variar de 12 a 20 anos de reclusão.
Procurado – Alexandre Ferreira Viana é considerado pela polícia paulista como um dos principais seqüestradores da atualidade no Brasil. É conhecido por realizar seqüestros extremamente longos e cobrar resgate sempre acima de R$ 1 milhão, para depois negociar um valor mais baixo. Segundo a polícia, ele não tem envolvimento com o PCC. “Ele está em nível bem acima do PCC em inteligência e infra-estrutura”, complementou Farhat. Viana preferia seqüestrar filhos de pessoas bem-sucedidas. “Nunca pegava empresários, fazia poucos contatos com a família e as ligações dele vinham de todos os cantos do país, tudo para confundir a polícia”.
Um dos crimes mais marcantes realizados por ele aconteceu dias antes do seqüestro praticado em Curitiba, quando levou uma criança de um ano e dez meses em São Paulo, que ficou 80 dias no cativeiro. “Por este seqüestro ele conseguiu R$ 300 mil de resgate”, complementou Fahat.
Nos últimos dois anos, a polícia calcula que ele tenha recebido, no Estado de São Paulo, mais de R$ 1 milhão em resgate. O único seqüestro que ele não conseguiu dinheiro foi o realizado no Paraná.
Cooperalfa – Viana participava de uma cooperativa de ônibus de transporte urbano chamada Cooperalfa em São Paulo e possuía oito ônibus e doze funcionários. Segundo a polícia, ele lavava o dinheiro de seqüestros com as linhas de ônibus. “Só o transporte gerava cerca de R$ 15 mil por mês limpos, que utilizava para investir em estrutura para seqüestro”, informou Farhat. Tanto o dinheiro dos seqüestros, quanto o dinheiro da cooperativa auxiliavam na montagem de todo o esquema para realizar outros crimes.
Seqüestro no Paraná - Após 50 dias em cativeiro, no dia sete de janeiro deste ano, uma moça de 27 anos, filha de um empresário curitibano do ramo de produtos alimentícios, foi encontrada na Zona Leste da capital paulista, onde era mantida em cativeiro. Na época, foram presos também três integrantes da quadrilha responsável pelo seqüestro.
A família recebeu a primeira ligação dos seqüestradores horas depois do desaparecimento da garota, mas não entrou em contato com a polícia. Foi um amigo quem informou o Grupo Tigre no dia seguinte. “Por exigência dos seqüestradores, em momento algum a família procurou a polícia ou forneceu qualquer informação que pudesse auxiliar nas investigações. Mesmo assim, com poucas pistas, começamos a investigar o seqüestro. Um dos motivos pelos quais a investigação demorou tanto tempo foi a falta de colaboração dos familiares”, relatou Farhat.
De acordo o delegado, o seqüestro começou no dia 18 de novembro de 2005, por volta das 10h da manhã, quando a vítima estava no bairro Água Verde em Curitiba. Três homens abordaram o veículo dela, que estava estacionado, e a renderam. Em seguida, a quadrilha levou-a, no próprio carro dela, até um determinado ponto e depois trocaram de carro. Ela foi então levada para Osasco, região metropolitana da capital paulista, onde o primeiro cativeiro estava preparado pelos seqüestradores.
Com tudo planejado, a quadrilha permaneceu com a vítima quatro dias em Osasco. Logo, a moça foi levada para a favela das Malvinas, na zona leste da capital. Posteriormente, passou por mais três cativeiros, com alguns dias de permanência em cada lugar. “Eles mantinham a moça em um determinado local por um tempo e logo mudavam para dificultar o nosso trabalho”, relatou o delegado.
Após vinte dias de investigações, o Grupo Tigre descobriu que o cativeiro da moça era no estado de São Paulo. Os policiais, então, dirigiram-se para lá, onde permaneceram por quase 30 dias. Quinze dias antes de estourar o cativeiro, prenderam o seqüestrador Eduardo Maciel de Souza, 23 anos, no centro da cidade de São Paulo. No dia sete de janeiro deste ano de 2006, por volta das quatro horas da manhã, o grupo entrou no cativeiro, na favela das Malvinas, e encontrou a garota. Luciano Mendes de Miranda, 29, e André Pereira Gomes, 25, que faziam a sua vigilância, foram presos sem resistência.