Policiais de vários Estados trocam experiências do Proerd

As ações podem ser adaptadas para complementar o programa, que atua em todo território nacional no combate ao uso indiscriminado de drogas
Publicação
30/11/2010 - 17:52
Editoria

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A oficina “Experiências e práticas sociais do Proerd no Paraná e no Brasil”, realizada durante o VI Encontro Nacional do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), em Curitiba, contou com a presença de cinco policiais militares que contaram as experiências em seus Estados. As ações podem ser adaptadas para complementar o Proerd, que atua em todo território nacional no combate ao uso indiscriminado de drogas.
“Levamos muitas ações positivas do Paraná para nosso Estado, pois a adaptamos à realidade do Nordeste, da zona rural e urbana. Inclusive já adaptamos ideias como as gincanas e o Clube de Pais, para fortalecer essa rede de prevenção nacional”, destaca a coordenadora do Proerd no Rio Grande do Norte, major Margarida Brandão Fernandes de Araújo.
Os cinco palestrantes foram o coordenador técnico do Proerd no Rio de Janeiro, tenente Antonio Luiz Pereira Lima; coordenador-adjunto do Proerd do Distrito Federal, tenente Thiago Gomes Nascimento; soldado da Polícia Militar de Francisco Beltrão (PR) José Adair Rodrigues Brizola; educador social do Proerd de Laranjeiras do Sul (PR), soldado Antonio Joel Demétrio, e a coordenadora do Proerd no Rio Grande do Norte.
RIO - O coordenador técnico do Proerd no Rio de Janeiro, tenente Antonio Luiz Pereira Lima, exibiu vídeos com depoimentos de policiais que fizeram parte desse programa destinado ao Batalhão Prisional. O intuito da iniciativa, de acordo com ele, é mostrar a importância do resgate da dignidade dos policiais presos, ou que foram excluídos da corporação.
“É uma experiência muito positiva para os detentos e suas companheiras, principalmente porque eles se sentiam abandonados antes de o programa iniciar nessa frente; diferente dos presos comuns, pois a eles são garantidos todo tipo de assistência de organizações não-governamentais, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), direitos humanos e outras entidades filantrópicas”, comenta Lima.
Durante a explanação, o tenente Lima reforçou a ideia de que os detentos amadurecem durante o período em que estão nos presídios e essa é uma oportunidade para a realização do trabalho. “Precisamos que esse ex-profissional ainda preserve o seu amor à instituição, mesmo sem fazer parte da Polícia Militar”, esclarece.
Lima também aponta que num primeiro momento o grupo olha com desconfiança a ação policial comunitária dentro das penitenciárias. “Eles acham que estamos lá por algum interesse político ou com algum outro objetivo, mas no decorrer dos encontros eles se abrem e passam a contar suas experiências de vida, interagindo com o instrutor e fortalecendo vínculos. Ao final, a emoção deles e dos familiares é muito intensa”, lembra.
Sobre as ações que estão ocorrendo em comunidades cariocas recentemente, tenente Lima é enfático ao apontar que a PM do Rio de Janeiro atua em todos os aspectos, e não apenas na repressão. “Atuamos também de forma preventiva, pois não podemos nos limitar a agir de forma reativa ao crime, esperando acontecer os fatos. Essa é uma forma inteligente de fazer polícia, com proatividade para combater o crime”, analisa.
DISTRITO FEDERAL – O coordenador-adjunto do Proerd do Distrito Federal, tenente Thiago Gomes Nascimento, explanou sobre o trabalho realizado na sua região com pessoas portadoras de necessidades especiais, entre 11 e 21 anos. O objetivo de atingir esse público é conscientizar, envolver e incluir, principalmente porque eles são vulneráveis ao uso indiscriminado de drogas. Para isso se fazem necessárias adaptações de conteúdo (são dadas 17 lições para estreitar ainda mais os laços com os alunos), além de mudanças na estrutura, como a adequação por meio de aulas de libras e braile para os PMs.
“Iniciado em 2006, a necessidade que a secretária da Educação teve em incluir estes alunos com necessidades especiais, nos ensinos regulares, foi solicitado que nós adaptássemos o conteúdo do Proerd para esse público, que tem uma faixa etária bem ampla. Por isso modificamos a estrutura e o conteúdo a fim de buscar a integração de todos os atores sociais que eram participantes, como professores, educadores, assistentes sociais, e fisioterapeutas”, destaca o tenente.
Com um trabalho feito em rede, os resultados alcançados superaram expectativas. Foi conquistado em 2006 o primeiro lugar no Concurso Nacional de Cartazes da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) por um aluno do APAE graças a um desenho estimulado pelos professores do Proerd.
“As formaturas são muito emocionantes, porque existe um vínculo muito forte entre elas e esses policiais. Se antes elas eram excluídas da sociedade, hoje elas são incluídas graças a esses processos educacionais”, destaca tenente Thiago.
PARANÁ – O Clube Proerd fundado em 30 de abril de 2003, em Francisco Beltrão (cidade referência para o Proerd no Brasil), iniciou com 13 integrantes e atualmente conta com 120 membros nas cidades de Campo Largo, Araucária, Balsa Nova, União da Vitória. “Além das cidades paranaenses, Minas Gerais e Rio Grande do Norte têm seus clubes, por isso a troca de experiências com outros Estados é sempre válida”, ressalta o soldado José Adair Rodrigues Brizola.
De acordo com Gleyciane, de 14 anos, estudante do colégio Estadual Trancredo Neves, formada há cinco anos pelo programa, o Proerd a ajudou a construir sua cidadania de forma madura e responsável. “Eu comecei como visitante, na terceira série, e era tímida. Hoje eu tenho muitos amigos, principalmente dentro do Clube, além de aprender muito com todos diariamente. Aprendemos a conviver com os outros sem brigas, e principalmente longe das drogas”.
Algumas características dessa iniciativa são os encontros, palestras sobre direitos e deveres de pais e filhos, oficinas e blitze educativas, grupos de dança e banda, desfiles cívicos além de uma gincana promovida pelos próprios alunos. O último evento contou com a presença de 400 envolvidos.
“O desfile é um espetáculo à parte, tanto é que hoje ele, assim como a gincana, é o mais esperado pelos alunos. Até mesmo mais que a própria formatura. Temos a formação humana como princípio e isso estimula também a presença de toda a comunidade, principalmente os pais e padrinhos que disseminam, assim como os alunos, os conhecimentos transmitidos durante as aulas e as dinâmicas”, ressalta Brizola.
“Por isso esse relacionamento é saudável, com o intuito de desmistificar a ideia de policial como inimigo, mas como alguém em quem possa confiar e acreditar. Enfim, visualizar na figura do PM um amigo”, assegura o soldado.
Outra explanação sobre os programas realizados no Paraná ficou por conta do educador social do Proerd de Laranjeiras do Sul (PR), soldado Antonio Joel Demétrio. Ele destacou como são realizadas as atividades na reserva indígena Rio das Cobras, onde oito aldeias paranaenses são beneficiadas pelo programa. Em principio, os idiomas - caingangues e guarani - foram obstáculos a serem superados.
“Com ajuda dos professores, que também são indígenas, foi possível triangular informações e nos comunicarmos, por meio de interpretações. Assim, foi possível destacar os malefícios do álcool e do tabagismo, que são dois grandes vícios que atingem essas comunidades”, explica o soldado.
O educador do Proerd também salientou que nas tribos guarani, um dos rituais religiosos é a “dança do cachimbo”, que envolve uso de tabaco e outras ervas alucinógenas. “Mostramos os lados negativos do vício e as consequências que esses hábitos podem trazer a toda comunidade. Com muito respeito à cultura deles, mostramos que existem outras ervas que não são cancerígenas e tampouco causam dependência, dando ênfase à valorização da vida”.
RIO GRANDE DO NORTE – A coordenadora do Proerd no Rio Grande do Norte, major Margarida Brandão Fernandes de Araújo, animou o público com as músicas e paródias elaboradas pelos “proerdianos” da sua terra natal. Na opinião dela, com essas iniciativas, aparentemente simples, a criança e o adolescente se aproxima do programa de forma mais amistosa.
“Os jovens ficam mais participativos, muito mais atuantes. A própria questão do respeito entre eles fica evidente com as nossas propostas. Assim é normal conquistarmos desse público disciplina e reflexão sobre diversos temas. As paródias, de um modo geral, levam os jovens a refletir mais sobre o que existe por trás de letra, que em alguns casos está denegrindo a imagem da mulher ou incentivando a bebida, ou outros tipos de drogas”, relata a major.
Com essa proposta, além de promover a discussão sobre o uso indiscriminado de entorpecentes, os alunos passam a além de ter senso crítico sobre a sua realidade e cultura, valorizar a solidariedade e paz.

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