O economista Carlos Lessa disse nesta sexta-feira (5), no Seminário “Crise – Desafios e Estratégias”, que as reservas de petróleo da camada pré-sal, descobertas na costa marítima brasileira, numa faixa de cerca de 800 quilômetros entre os estados do Espírito Santo e Santa Catarina, onde calcula-se existir cerca de 90 bilhões de barris, são o maior trunfo que o país possui para superar a presente crise financeira mundial e “até quem sabe tirar algum proveito”, subindo vários degraus no ranking das maiores economias. O Brasil é a 14ª economia do mundo.
Ele elogiou a matriz energética do Brasil, classificando-a como uma das melhores do mundo, por conta do elevado índice de energia renovável – 47%. “O índice de utilização de energia renovável mundial é de 10% e, nos países desenvolvidos, chega a 6,7%. O Brasil tem, portanto, a maior matriz energética do planeta. Mas, em contrapartida, a disponibilidade de energia por brasileiro é uma porcaria. É inferior a média mundial. Nós temos o equivalente a uma tonelada de petróleo por brasileiro/por ano. A média mundial é de 1,16 e a média dos países desenvolvidos é de 4,67. O Brasil é um país que trabalha com a enxada e, no máximo, com o auxilio de um burrinho ou uma junta de bois. Portanto, a primeira proposta que faço é de ampliar a disponibilidade de energia para o brasileiro. Energia não é commodites e sim o substrato pelo qual se desenvolve todas as outras atividades”.
Segundo Lessa, as potencialidades energéticas brasileiras são deslumbrantes. “Nós temos dos rios estudados quase outro tanto de energia hidrelétrica disponível e não estudamos adequadamente os rios da parte setentrional da Amazônia, que é para o Brasil um imenso potencial hidrelétrico. Os ecologistas alegam que as barragens acabam com o microssistema, esquecendo que cada barragem dá origem a outro microssistema tão simpático como o primeiro. É preciso levar adiante os projetos de hidreletricidade. Quando presidente do BNDES, havia pedidos para o financiamento de 17 usinas, que não foram adiante por falta de relatório de impacto ambiental, que virou elemento de veto para todo e qualquer projeto hidrelétrico”.
“Mas a mão de Deus é tão providencial – continuou – que nos deu uma “Amazônia azul”, que é uma área de 800 quilômetros de extensão por aproximadamente 200 quilômetros de largura, onde estão as reservas de petróleo do pré-sal. A Petrobras já perfurou onze poços e encontrou petróleo em todos eles. Portanto, está dominada a técnica de exploração do pré-sal. O primeiro poço custou US$ 260 milhões. Os demais, US$ 60 milhões. Acima de US$ 50 o barril, há total, completa e absoluta economicidade do petróleo do pré-sal. Eu vou ficar entre os conservadores, que acreditam existir uma reserva de aproximadamente 40 bilhões de barris no pré-sal. Mas existem aqueles que acreditam na existência de 90 bilhões de barris, o que eleva o Brasil para o 4º lugar no ranking mundial”.
Segundo ele, por traz da crise mundial antecede o problema de natureza estrutural, causado pela escassez do petróleo. Lessa disse que os Estados Unidos consomem 10 bilhões de barris/ano e só tem 29 bilhões de barris de reserva. “É por isso que teve de ir para o Iraque. Espero que a nossa “Amazônia azul” não seja um novo Iraque. É preciso fazer uma campanha séria dizendo que o “Petrosal é nosso, igual à campanha que se fez no passado em defesa do petróleo brasileiro”.
De acordo com ele, a existência do pré-sal e de um enorme programa de investimento no setor, algo em torno de US$ 104 bilhões, é uma frente de expansão para a indústria brasileira se as encomendas desse programa fossem voltadas para o interior e o desenvolvimento científico brasileiro. “É uma alavancagem importantíssima nos serviços e tem implicações importantes também em relação à agricultura. Na verdade, a economia do petróleo atravessa todos os setores e se ela for usada como elemento de alavancagem do desenvolvimento interno do país passa a existir uma frente de expansão bastante confortável”.
Carlos Lessa alertou que o uso desordenado do petróleo pode trazer riscos para o Brasil. “O primeiro risco é uma verdadeira maldição. O Brasil virar exportador de petróleo bruto. A história dos exportadores de petróleo é uma história de horror. A Indonésia fez parte da Opep – Organização dos Paises Exportadores de Petróleo, exportou petróleo a US$ 2/barril e, no ano passado, importou a mais de US$ 100 e hoje paga de US$ 60 a US$ 80”, disse.
Segundo ele, o México, quando quebrou em 1982, foi obrigado a entregar suas reservas de petróleo às concessionárias norte-americanas, indicadas pelos bancos credores. Fizeram uma exploração predatória nos campos mexicanos e suas reservas caíram de 48 bilhões de barris para 12 bilhões. “O futuro do México é se converter em importador de petróleo. A Holanda descobriu petróleo no Mar do Norte, supervalorizou o florin (moeda nacional), acabou com a atividade econômica e, quando acabou o petróleo, ficou terra arrasada. É um horror ser exportador de petróleo”.
Em sua opinião, o Brasil deve se manter como dono do “ouro negro”, porque se há item que vai valorizar sem parar nos próximos anos é o petróleo. O Fort Inox do futuro são as reservas petrolíferas, disse ele. Através do petróleo se consegue 3 mil subprodutos. “Só exporta petróleo bruto quem é burro. O presidente Lula teve um momento de lucidez ao dizer que o Brasil não seria exportador de petróleo e sim de derivados de petróleo. E anunciou duas refinarias para exportar óleo diesel de qualidade para o Japão. Fiquei muito feliz. Mas ai ele vai a China e pactua US$ 10 bilhões de financiamento chinês em troca de petróleo bruto. Se isto for verdade, ele está começando a tomar a opção do Brasil exportador de petróleo”.
Carlos Lessa disse ainda que outra “burrice” é substituir a energia renovável pelo petróleo. “Eu não conheço nada mais imbecil que termoelétrica funcionando com gás. Mas tem muito petróleo na porta da casa e uma “Amazônia azul” para se explorar, o que leva aos discursos para se fazer mais termoelétricas. Os mesmos ambientalistas que não querem hidrelétrica para peixes e marrecos na Amazônia aceitam a poluição derivada da combustão de petróleo. Assim, a segunda maldição é ser beberrão de petróleo”, afirmou.
O economista lembrou que acabou de falir a GM, que é o símbolo da sociedade norte-americana que, cheia de petróleo, bebia petróleo em quantidade colossais. Daqui para frente a tendência mundial é encarecer o petróleo. “Ter petróleo bom debaixo da terra é ter ouro. É muito melhor que as reservas do Banco Central. Aliás, eu usaria um pouco delas para recomprar as ações da Petrobras que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso irresponsavelmente vendeu na Bolsa de Nova Iorque. Não tem sentido o Brasil usar o petróleo como um recurso de grande abundância. Devemos manejar o petróleo sabendo que ele é um bem escasso e em continua valorização”.
Petróleo do pré-sal é o maior trunfo do Brasil para tirar proveito da crise
O economista Carlos Lessa disse que as reservas de petróleo da camada pré-sal são o maior trunfo que o país possui para superar a presente crise financeira mundial
Publicação
05/06/2009 - 18:44
05/06/2009 - 18:44
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