Pesquisadores desenvolvem modelo para prevenir e tratar toxoplasmose em gestantes

Pesquisa sobre a doença gerou teses de pós-graduação e um modelo de vigilância sanitária para auxiliar municípios
Publicação
03/03/2008 - 12:20
O apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) a programas e projetos desenvolvidos nas universidades públicas tem resultado em soluções de baixo custo para os municípios paranaenses, em diversas áreas, entre as quais a da saúde. Depois de avaliados e aprovados pelo Conselho Paranaense de Ciência e Tecnologia (CCT-PR), os projetos recebem recursos do Fundo Paraná, gerenciado pela Secretaria. Um exemplo é o “Programa de Vigilância em Saúde da Toxoplasmose Congênita em Gestantes Atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado do Paraná”. O programa está sendo desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em parceria com as universidades estaduais de Maringá (UEM) e de Cascavel (Unioeste), as secretarias estadual e municipal de Saúde (Londrina) e os ministérios da Saúde, Educação (CAPES) e de Ciência e Tecnologia (CNPq). O objetivo desse programa, cujos recursos somam R$ 314 mil do Fundo Paraná, é diminuir os casos de toxoplasmose, inicialmente nas cidades de Londrina, Maringá, Rolândia e Cascavel. “Todos os municípios paranaenses podem adotar o modelo de vigilância sanitária uma vez que os custos são mínimos, praticamente alguns centavos por habitante”, informa o coordenador da pesquisa, professor Italmar Navarro. Em Londrina, primeiro município a implantar o modelo, houve uma diminuição dos casos de toxoplasmose, segundo informa a bióloga Maria Ruiz Lopes, da UEL. “Isto também deve ser creditado aos agentes comunitários do município. São eles que vão de casa em casa conversar com os moradores e orientá-los”, diz a enfermeira responsável pela Unidade Básica de Saúde do bairro de Panissa, em Londrina, Ana Patrícia Pershum. Segundo as estatísticas oficiais, mais da metade da população mundial possui anticorpos contra a doença, ou seja, está ou já esteve infectada pelo parasita Toxoplasma gondii. No Brasil, a prevalência varia de região para região. Em Londrina, cerca de 50% das gestantes teriam tido toxoplasmose antes da gravidez (neste caso, não há risco de transmitir a doença aos bebês). Em Rolândia, segundo município a implantar o modelo de vigilância, dados preliminares indicam uma prevalência de 55% em gestantes nessas condições. Já os dados de publicações científicas mostram a ocorrência de gestantes soropositivas para IgG e IgM (com potencial de infectar os fetos) em torno de 0,5 a 2,0% em algumas regiões, chegando a 5,5% em outras. Um artigo publicado em 2000, pela professora da UEL, Edna Reiche, encontrou 1,8% de gestantes com IgG positivos em Londrina. Essas gestantes eram atendidas no ambulatório de alto risco do Hospital Universitário com algum tipo de suspeita. Custos mínimos - O programa prevê a mobilização de laboratórios, hospitais de referência e farmácias municipais e regionais de saúde, bem como o treinamento de médicos e outros profissionais da área. Prevê, ainda, a inclusão do diagnóstico da toxoplasmose no “teste do pezinho” em todos os recém-nascidos. Durante a pesquisa, realizada nos anos de 2006 e 2007, quando a equipe desenvolveu o “Modelo de vigilância em saúde da toxoplasmose na gestante e no bebê – uma experiência em Londrina - Paraná”, a professora Regina Mitsuka Breganó, da UEL, elaborou projeto de tese de doutorado incluindo protocolos para a interpretação de exames, condutas e tratamento de gestantes e crianças, entre outras providências. “Os protocolos (algoritmos) tornam o encaminhamento das gestantes com toxoplasmose aguda ao hospital de referência (Hospital Universitário) muito mais ágil. Também melhora a qualidade dos exames realizados em laboratório”, exemplifica. Rolândia - “Queríamos saber como uma cidade de pequeno porte, que não fazia o diagnóstico da toxoplasmose em gestantes, responderia diante desta importante questão de saúde pública”, afirma a médica veterinária Renata Ferreira Cristina Dias, que estudou o perfil das mulheres atendidas na Unidade Básica de Saúde do município para uma tese de mestrado. Em Rolândia já foi realizado o treinamento de médicos e enfermeiros da Unidade Básica de Saúde e recomendado que funcionários administrativos também sejam instruídos sobre a doença e as suas seqüelas. Com isto, a médica acredita que o controle da toxoplasmose no município ficará mais fácil, uma vez que, segundo ela, “todos são responsáveis”. A doença - A toxoplasmose é uma infecção congênita ou adquirida, causada pelo parasita Toxoplasma gondii, que incide em animais e no homem. A toxoplasmose congênita em gestantes (foco da pesquisa) é mais grave quando a mãe é infectada no início da gravidez, podendo ocorrer aborto ou malformações no feto. É considerada uma doença “silenciosa”, de difícil diagnóstico clínico. A mulher infectada pode não ter sintomas ou apresentar sintomas brandos que se assemelham a uma gripe. Segundo o coordenador da pesquisa, crianças infectadas podem apresentar, ao nascer, hidrocefalia e retardo mental, entre outras complicações. As crianças que nascem normais podem desenvolver seqüelas durante a infância e até mesmo na fase adulta, explica o professor Navarro. “Como a toxoplasmose não é uma doença de notificação compulsória, e como a maioria das crianças manifesta alterações neurológicas e oculares ao longo da vida, não se conhece a real importância desta grave infecção congênita na população”, diz Navarro. . A toxoplasmose pode ser ocasionada pela ingestão de carnes ou embutidos crus ou mal passados, principalmente de suínos, ovinos e caprinos; de leite de cabra não pasteurizado ou fervido; pelo contato com as fezes de gatos (também é preciso ter cuidado com a areia dos parques de recreação infantil); de frutas e verduras mal lavadas; e de água não tratada. Pré-Natal - É importante, dizem os pesquisadores, que as gestantes de risco, ou seja, as mães que nunca tiveram contato com o parasita da toxoplasmose, recebam as orientações sobre as medidas de prevenção já nas primeiras consultas do pré-natal. Outras medidas que devem ser adotadas são a pesquisa de anticorpos contra o Toxoplasma gondii (as gestantes podem se infectar sem apresentar sintomas significativos) e a repetição do exame no segundo e terceiro trimestres da gestação nas mulheres grávidas negativas para a toxoplasmose. Ainda conforme os pesquisadores, pessoas saudáveis não têm complicações quando adquirem a doença. Porém, as que têm HIV, câncer ou sofrem com o stress ou qualquer outra doença que afeta o sistema imunológico, a infecção é considerada grave e exige atenção redobrada. Como prevenir a toxoplasmose (Box) Ingerir carnes bem cozidas (67º durante 10 minutos); Ingerir embutidos frescais bem cozidos ou salgados (2,5% de sal por 48 horas); Congelar carnes e derivados (-18º durante no mínimo sete dias); Lavar, com água, sabão e escova as mãos e as superfícies de tábuas e facas após o manuseio de carnes cruas; Ingerir leite de cabra somente pasteurizado ou fervido; Lavar bem frutas e vegetais; Usar luvas ou lavar bem as mãos após manipular a terra; Alimentar gatos com ração ou carnes bem cozidas; Limpar diariamente caixas sanitárias de gatos (gestantes não devem realizar esta tarefa); Controlar moscas e baratas, considerados vetores da doença; Proteger as caixas de areia em áreas de recreação infantil. Gestantes devem iniciar o pré-natal o mais cedo possível (Box 2) Além dessa importante medida, elas também devem realizar triagem sorológica para toxoplasmose junto com outros exames recomendados. Para as gestantes soronegativas, repetir o exame para toxoplasmose no segundo e no terceiro trimestres da gravidez. E seguir rigorosamente as orientações de prevenção para a toxoplasmose.

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