Pesquisador critica modelos de desenvolvimento para a América Latina

Palestra foi realizada durante Ciclo de Debates sobre Políticas Públicas para a América Latina
Publicação
18/10/2007 - 17:58
As limitações de modelos de desenvolvimento adotados na América Latina e propostas para mudanças foram o tema apresentado, quarta-feira (17), em Curitiba, pelo pesquisador Victor Ramiro Fernández, durante Ciclo de Debates sobre Políticas Públicas para a América Latina, promovido pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Sanepar e Universidade Federal do Paraná (UFPR), com o apoio da Caixa Econômica Federal, BRDE e Codesul. Fernández criticou a forma como países ricos pensam o desenvolvimento latino-americano. “Os conceitos são transferidos para os nossos cenários através de consultorias e programas de organismos internacionais, de forma ortodoxa e sem nenhuma contestação por parte dos agentes locais”, declarou. Os conceitos de desenvolvimento têm que ser pensados de forma ampla, com setores interdependentes, de acordo com Fernández. “Já está comprovado como ineficaz o modelo de desenvolvimento local como algo auto-controlável, a partir da forma de cooperação pública e privada no interior dos territórios”, afirmou. Ele exemplificou a ineficácia de tais modelos, citando o caso do município de Sarandi (RS). Para superar a crise de uma empresa frigorífica, que era a força principal da cidade, foram criadas pequenas empresas na área têxtil. Essas empresas se fortaleceram com cooperação entre si e com os poder público. “No entanto, a experiência do modelo mostrou que a forma de recuperação local não foi suficiente para inserir a economia têxtil local nos mercados globais e dar sustentabilidade e competitividade a longo prazo”, criticou. “O modelo de desenvolvimento auto-sustentável não controla funções essenciais como a criação do produto e marketing, assim como o desenvolvimento de equipamentos com novas tecnologias. Esses processos são organizados fora das localidades, e controlados por empresas de grande envergadura. Com isso, as empresas pequenas continuaram muito dependentes. Uma cooperação local permitiu dar resposta a uma crise, mas não deu resposta a longo prazo”, explicou Fernández. ARGENTINA – A tentativa de criação de cluster na província de Santa Fé, na Argentina, também foi citada pelo pesquisador. Conforme explicou, selecionaram quatro localidades, com critérios de cluster, nos distritos industriais, e se observou que o desempenho econômico das empresas não tinha correlação com as condições sociais da população. “A cobertura das necessidades básicas e a pobreza estão influenciadas pelos efeitos de processo macroeconômicos desenhados em formas regionais. O foco teórico implantado não se encontra nesta dinâmica multiescalar, que envolve escalas nacionais e globais”, acrescentou o pesquisador. ALTERNATIVA – Uma das alternativas citadas por Fernández é a recuperação do papel dos Estados e a construção das capacidades estatais para articular estas dinâmicas. Isto resultaria em instrumentos estratégicos para lograr um desenvolvimento regional, integrando as dimensões econômicas, sociais e demográficas, entendendo o conjunto de regiões e localidades. O argentino Victor Ramiro Fernández é pós-doutor pela Universidade de Durham, na Inglaterra, e doutor em Ciências Políticas pela Universidade Autônoma de Madri, na Espanha. Ele tem sete livros publicados. Entre suas últimas publicações se destacam: “Estado, indústria e território da Argentina dos anos 90” (2005) e “Capacidades estatais e desenvolvimento regional: desafios para a América Latina” (2006).

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