No dia 13 de maio, data em que se comemora a Abolição da Escravatura no Brasil, instituiu-se também o Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo. Uma pesquisa feita pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), mostra que no mercado de trabalho ainda há diferenças salariais entre trabalhadores negros (somatória de pretos e pardos) e brancos ocupados na mesma área de atividade.
Os trabalhadores negros de Curitiba e Região Metropolitana possuem menos escolaridade, têm mais filhos e ganham menos que os brancos ainda que tenham o mesmo nível educacional, o mesmo grupamento de atividade ou a mesma posição na ocupação (empregados com e sem carteira assinada, conta própria e empregadores).
Os dados são da Pesquisa Mensal de Empregos (PME) realizada pelo Ipardes em Curitiba e Região Metropolitana, referente ao mês de setembro de 2006. As diferenças salariais entre os mesmos postos de trabalho ou as mesmas funções não são captadas pela pesquisa.
Em todos os ramos de atividade examinados, os brancos registraram rendimentos mais elevados do que os pretos e pardos. Os trabalhadores negros ganham em média 60,5% do salário dos brancos. A maior diferença salarial está no grupamento de atividades que compreende as áreas de educação, saúde, serviços sociais e administração pública, em que os pretos e pardos recebiam em média 47% do rendimento dos brancos. O rendimento médio mensal dos trabalhadores por conta própria pretos/pardos (R$ 588,29) corresponde praticamente à metade do que ganham os brancos (R$1.151,00).
O menor diferencial foi observado em serviços domésticos, nos quais o rendimento médio dos brancos era 5% maior do que o dos pretos e pardos. A construção e os serviços domésticos são os setores que apresentam as maiores participações de negros, sendo de 16% e 12,8%, respectivamente; nos demais setores, esta participação cai para 9%.
Considerando a população com 10 anos ou mais, observou-se que os pretos e pardos possuíam menor escolaridade que os brancos, enquanto apenas 3,1% da população branca eram sem instrução ou com menos de um ano de estudo, 8,3% da população preta e parda se encontravam nessa mesma situação. Entretanto, 42,7% da população branca tinham 11 ou mais anos de estudo, e 23,9% da preta e parda apresentava a mesma escolaridade.
Quanto maior a escolaridade, maior é a diferença do rendimento entre negros e brancos. Os trabalhadores com 11 anos ou mais de estudo brancos ganham em média R$ 1.480,21 mensais, já os negros com a mesma escolaridade, recebem R$ 907,58. Nesta categoria, que estão incluídas as pessoas com nível médio completo até aquelas com pós-graduação, observou-se que 85% dos pretos/pardos só tinham o nível médio completo e entre os brancos, 65%. “Este percentual mostra que há mais brancos com nível de graduação e especialidade que negros com esta mesma formação. Para aqueles com menor escolaridade (até 10 anos de estudo), as diferenças salariais existem, mas são menores”, apontou Lira.
Maioria branca - A maior parte da população com dez anos ou mais em Curitiba e RMC declarou-se branca, representando 88,8%. As populações classificadas como amarela ou indígena representaram apenas 0,3% do total. “A colonização européia explica o porquê da maioria da população nesta região ser branca e, durante a pesquisa, é o informante que escolhe uma entre as cinco opções de cor ou raça fornecidas, que são: branca, preta, amarela, parda ou indígena”, comentou Lira.
Do total de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado, 90,3% compunha-se de brancos, e 9,6%, de pretos ou pardos. Do total de trabalhadores sem carteira assinada, a participação dos brancos cai para 87,4% mostrando que há mais brancos com melhores salários e maior proteção legal que negros.
Outro indicador que chama a atenção refere-se à contribuição para a Previdência. Do total de trabalhadores por conta própria pretos e pardos, 11,7% contribuiu para a Previdência no mês de setembro de 2006; para os brancos, esse percentual foi de 20,4%. Considerando-se as categorias dos trabalhadores domésticos e empregados sem carteira de trabalho assinada, compostas por pretos e pardos, estas não apresentaram contribuição. No caso de brancos, para as duas categorias, os percentuais que contribuíram foram, respectivamente, de 5,8% e 4,5%.
O número médio de moradores em domicílios cujo principal responsável era preto ou pardo foi de 3,7 pessoas com um número médio de 1,6 filho, e para os domicílios com principal responsável branco, de 3,3 pessoas e 1,4 filho. Com relação ao rendimento domiciliar per capita, observou-se que, nos domicílios cujo principal responsável era preto ou pardo, a média era de R$ 390,22, e naqueles em que o principal responsável era branco, R$ 768,46 – ou seja, praticamente o dobro (197,0%).