Pesquisa aponta que maior parte dos agricultores quer deixar cultivo de fumo

De 228 famílias que abandonaram este cultivo, 34,2% deixaram a produção de fumo por problemas como o baixo rendimento financeiro
Publicação
06/05/2009 - 11:16
Editoria
Cerca de 72% dos agricultores familiares que plantam fumo querem deixar de produzir. É o que aponta a pesquisa do Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais (Deser/PR), apresentada em Curitiba, durante o Seminário Diversificação na Agricultura Familiar. O representante do Deser/PR, Amadeu Bonato, apresentou o panorama da fumicultura brasileira e o estudo feito com agricultores familiares fumicultores. Segundo a pesquisa do Departamento, de 228 famílias que abandonaram definitivamente ou temporariamente, 34,2% deixaram a produção de fumo por problemas como o baixo rendimento financeiro. “Por isso temos que buscar alternativas de geração de renda”, afirma Bonato. Já 24,7% dos agricultores abandonaram a atividade por problemas de saúde causados em grande parte pelos agrotóxicos. “A doença não é só fumar, mas também afeta quem produz o fumo”, diz. De acordo com o Deser/PR, o Brasil é o segundo maior produtor de fumo, só ficando atrás da China. Bonato afirma que entre as tendências mundiais está a forte redução da produção em países desenvolvidos e o aumento da produção em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Para o representante do Departamento, esta migração para países em desenvolvimento é fruto da mudança de estratégia das multinacionais fumageiras que encontram nestes locais baixos custos de mão-de-obra. Consumidor - por ano, são consumidos 5,7 bilhões de toneladas de fumo. No ranking de maiores consumidores estão China, Índia, Estados Unidos e Rússia. O Brasil consome cerca de 100 mil toneladas por ano. Mas já no quesito exportação, o Brasil está em primeiro lugar. Bonato explica que 85% do fumo produzido no país destina-se à exportação, e apenas 15% é consumido pelos próprios brasileiros. “Em 2008, 678 mil toneladas foram exportadas para 105 países diferentes”. Em 2007, foram produzidas 908 mil toneladas de fumo no Brasil. Deste total, 52,2% foram produzidas no Rio Grande do Sul. Redução – o representante do Deser/PR disse que entre as ações para favorecer a redução da produção de fumo estão a política de preços, o aumento na carga de impostos, a crescente conscientização dos males e riscos da saúde do fumo e as ações dos governos, como a implementação da Convenção-Quadro. Segundo Bonato, no Brasil o preço do fumo é negociado e acordado entre representantes das empresas e dos produtores e, geralmente, a classificação feita pela empresa é uma forma de rebaixar o preço pago aos agricultores. “O produtor brasileiro recebe 13 vezes menos que o japonês. O fumo produz renda, mas não desenvolve os municípios. Em 42 cidades do Sul, 68% têm o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média da região”, informa. Saúde - a integrante da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CONICQ) e representante do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Tânia Cavalcante, apresentou a implantação da Convenção-Quadro no Brasil. Para a médica, o agricultor é tão vítima quanto o fumante. “Os dois são vítimas de uma estratégia de mercado”, afirma. Estima-se que, atualmente, quase 200 mil famílias brasileiras dependam da plantação do tabaco. Segundo Tânia, o Brasil vem implementando medidas de proteção contra o tabagismo passivo, a regulação da divulgação, a propaganda e a promoção de cessar o tabagismo, entre outras ações, por intermédio da Política Nacional de Combate ao Tabaco. Saiba mais Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco é um tratado internacional de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a adoção de medidas de restrição ao consumo de cigarros e outros produtos derivados do tabaco. Atualmente, 164 países fazem parte da Convenção. O Brasil ratificou a participação no tratado em 2005, podendo, então, usufruir de apoio internacional, técnico e financeiro para o fortalecimento de uma política agrícola de alternativas ao fumo. De acordo com a representante do Inca, dentre das medidas para redução da oferta de fumo está o apoio a atividades alternativas economicamente viáveis, na qual, segundo ela, estão inseridas as ações do Programa Nacional de Diversificação nas Áreas Cultivadas com o Tabaco, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A representante do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Tânia Cavalcante, destacou os avanços obtidos pelo Brasil como a implantação no sistema público de saúde de 811 unidades para ajudar no tratamento de fumantes. Além disso, citou ainda a criação da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para Controle do Tabagismo (Coniq), que abrange a participação de vários ministérios, entre eles o MDA. Tânia, que é médica, destacou o artigo 8, que trata da proteção contra o tabagismo passivo. Segundo dados do Inca, 2,7 mil pessoas morrem por ano em função do tabagismo passivo. Ela ressaltou o desafio atual de aperfeiçoamento da lei que restringe o fumo em ambientes coletivos e que está em tramitação no Congresso. O projeto visa proibir os ‘fumódromos’.