Paraná tem condições de produzir o biodiesel

A previsão é do diretor técnico do Tecpar, professor José Domingos Fontana
Publicação
10/06/2003 - 00:00
Com dois ingredientes básicos, a soja e o álcool de cana, o Paraná já pode começar a produzir o biodiesel, combustível alternativo capaz de reduzir em até um quarto a poluição do ar. Além de ocupar a segunda posição nacional - 10 milhões de toneladas de soja/ano - e de ser um dos maiores produtores de álcool de cana – cerca de 13 milhões de litros/ano - o Estado conta ainda com o Centro de Referência em Biocombustíveis, o Cerbio, que funciona nas dependências do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), na Cidade Industrial de Curitiba. O Centro de Referência foi criado por meio de um convênio entre a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O diretor técnico do Tecpar, professor José Domingos Fontana, que também responde pela coordenação do Cerbio, é quem faz a previsão sobre o biodiesel. Segundo ele, a tecnologia usada para a produção do biodiesel, chamada de “transesterificação” é relativamente simples e consiste em “deslocar a glicerina dos óleos comestíveis como a soja, substituindo-a por etanol”. Inclusive – afirmou – já existem no país algumas empresas habilitadas a produzir o combustível a partir do uso da soja (MT, SP e MG). Uma delas, a Ecomat-MT, tem suprido o Cerbio/Tecpar com um combustível que já está sendo testado na frota do transporte coletivo de Curitiba. “A Cooperativa Agrícola de Campo Mourão (Coamo) já antecipou que está interessada numa planta de porte industrial para o biodiesel”, informa Fontana. O próprio Cenpes-Petrobras, na Bahia e no Rio de Janeiro, já desenvolveu o biodiesel, mas neste caso a partir do óleo de mamona. Paraná - No Paraná, as pesquisas em torno do biodiesel como único aditivo ao diesel, ou mesmo em combinação com o etanol, são feitas nos laboratórios do Cerbio e têm mostrado resultados positivos de acordo com o professor Fontana. O mais recente deles é com a mistura de B-20 (diesel e biodiesel 80:20) num veículo Golf 1.9, que já rodou mais de vinte mil quilômetros sem necessidade de qualquer modificação mecânica prévia. Na cidade, sob a supervisão do técnico José Laurindo, do Tecpar, o veículo tem feito onze quilômetros por litro e quinze mil quilômetros por litro na estrada. Em seminário a ser realizado ainda em junho pela Secretaria, além dos resultados já obtidos nos laboratórios do Cerbio, também serão debatidos os projetos de pesquisa em andamento no Estado, num esforço de integração entre o governo do Estado, as universidades e os institutos de pesquisa, da capital e do interior, informa o secretário Aldair Rizzi. “Os relatórios de viabilidade e competitividade técnica, econômica e comercial estão sendo finalizados e também serão apresentados na ocasião”, relata. O mesmo documento será entregue pessoalmente pelo secretário Rizzi no Ministério de Ciência e Tecnologia como uma contribuição do Paraná nas discussões em andamento com o Ministério das Minas e Energia. Matriz energética - De acordo, ainda, com o coordenador do Cerbio, além da vantagem da redução da poluição do ar, com ganhos na área da saúde pública, a produção e o uso do biodiesel também podem reverter em mais liberdade na matriz energética de combustíveis. O diesel, explica o professor, “além de cetano, contém poliaromáticos, entre eles o nocivo benzo-pireno, potencialmente cancerígeno”. Com o biodiesel, acrescenta Fontana, “teríamos uma versão quimicamente diferenciada da adição de álcool na gasolina”, diz. “Economicamente, o país também teria fortes ganhos, podendo converter-se num exportador de biodiesel”. Atualmente, diz ainda, “são pouquíssimos os países, entre os 180 que são filiados a ONU, que possuem suficiência em petróleo ou de biomassa oleaginosa ou sucro-alcooleira”. Apesar desse quadro, enfatiza, há barreiras a serem enfrentadas para superar a dificuldade de implantação do biodiesel na matriz energética brasileira. “A mudança também é cultural”, ressalta. História - “No século XIX Rudolf Diesel desenvolveu o motor diesel para rodar com vários tipos de óleo. Na época, ele já dizia que o motor a diesel podia ser alimentado com óleos vegetais, ajudando no desenvolvimento dos países que o utilizassem”, conta o professor. A experiência empresarial pioneira paranaense deu-se a partir de 1983, na Cooperativa Agrícola de Maringá (Cocamar), cujo gerente industrial, Richard Fontana, em parceria com Germano Ottmann, fizeram rodar caminhões com biodiesel etanólico feito de borra de óleo de caroço de algodão. A UFPR, parceira no projeto do biodiesel, também iniciou seus estudos em 1983, com os professores N. Buhrer, G. Bussygin e J.C. Laurindo, em éster metanólico, e desde então vem desenvolvendo a tecnologia de produção de ésteres de óleo de soja, agora com L.P. Ramos, informa ainda Fontana. Em meados da década de 90, sob a coordenação do Tecpar, realizou-se em Curitiba uma experiência de campo do uso monitorado do biodiesel B20 – USA, mistura de 20% de éster metanólico de soja ao diesel, para uma frota de vinte ônibus urbanos. Esta e outras experiências têm sido explicadas a outros Estados, como Maranhão e Bahia, na forma de palestras, por técnicos do Cerbio, com ênfase na MAD8 (uma mistura de diesel, biodiesel etanólico e etanol). É o caso também de Goiás, que fica sob a responsabilidade do bolsista do CNPq/Cerbio, Edílson Andrade.