P: Recentemente, o Ministério da Saúde enviou técnicos de seis estados brasileiros ao Paraná para treinamento na área da prevenção da febre amarela. Por que o Paraná?
R: Porque o Paraná vem desenvolvendo um trabalho sério de pesquisa em primatas não humanos, que partiu de uma necessidade sentida pela Secretaria da Saúde em se organizar e estabelecer uma vigilância da febre amarela no Estado. A parceria entre instituições de serviço e de pesquisa é vista como uma situação ideal para produção e avanço do conhecimento científico, pois o resultado dos estudos favorece o direcionamento de recursos na prática dos serviços. O Ministério da Saúde, através da Secretaria de Vigilância em Saúde, vem dando atenção especial ao controle da febre amarela, promovendo a capacitação de profissionais de saúde de todos os estados brasileiros para atuar na vigilância de epizootias de primatas não humanos, uma vez que o adoecimento ou morte desses animais se constitui em sinais de alerta da provável circulação do vírus amarílico. Uma forma de viabilizar esses treinamentos é estabelecer parcerias com equipes organizadas, como é o caso do Paraná e do Rio Grande do Sul, os dois estados que melhor se estruturaram neste sentido.
P: Qual o significado do trabalho de prevenção realizado pelo Paraná para a saúde pública brasileira?
R: No Brasil existe uma grande diversidade de vírus do grupo dos arbovírus em circulação em várias regiões. Mais de 30 deles são patogênicos para o homem, causando doenças que variam de gravidade conforme o tipo responsável pela infecção. Quase sempre são zoonoses mantidas em ambiente silvestre e entre elas está a febre amarela. A possibilidade de se antecipar a um evento epidemiológico que pode trazer graves repercussões à saúde de uma população é um dos objetivos da epidemiologia, mas atuar preventivamente, antecipando-se à doença humana, é uma das mais árduas tarefas, talvez a mais difícil. E este é o foco do trabalho que vem sendo realizado no Paraná. É importante para a detecção da presença ou circulação de arbovirus, inclusive o vírus da febre amarela, na população de primatas não humanos. Isso possibilita aprimorar as atividades de vigilância epidemiológica e estabelecer medidas preventivas na população humana de forma oportuna. Esperamos que possa servir de modelo para outras doenças infecciosas.
P: Qual a situação da febre amarela hoje no país? O Sul do Brasil está “livre” da doença?
R: A febre amarela foi um dos problemas que, historicamente, mais influenciou a política de saúde e saneamento em nosso país, desde a segunda metade do século XIX. Os grandes investimentos realizados em infra-estrutura urbana nas primeiras décadas do século XX e as medidas de combate ao vetor foram responsáveis pela erradicação da febre amarela urbana em 1942. Entretanto, a forma silvestre da doença, que não pode ser erradicada, permanece como uma ameaça à saúde da população e tem sido objeto de intervenções visando ao seu controle. A arma mais eficaz é a vacina, disponível gratuitamente na rede de saúde, que deve ser aplicada em indivíduos acima de nove meses de idade. A partir de 1998 observou-se uma expansão da área de circulação do vírus amarílico para além das regiões Norte e Centro-Oeste, consideradas endêmicas. Essa tendência de deslocamento para o Sul e para o Leste do Brasil reativou ou ativou novos focos da doença em áreas até então consideradas indenes. Esse deslocamento viral foi marcado por surtos de grandes proporções em alguns estados, como Minas Gerais, Goiás e Bahia. A presença do vírus foi confirmada laboratorialmente em mosquitos silvestres e em primatas não humanos capturados durante uma epizootia destes animais no Rio Grande do Sul, em 2001 e 2003. Assim, embora nos últimos quatro anos os casos humanos só tenham sido registrados na região endêmica, não se pode garantir que o Sul esteja “livre” da doença. É importante a manutenção de ações de vigilância capazes de detectar precocemente a presença do vírus em animais antes que acometa seres humanos.
Paraná poderá servir de modelo na prevenção de outras doenças infecciosas
Na entrevista a seguir, Zouraide Guerra Antunes Costa, responsável pela Vigilância da Febre Amarela no Ministério da Saúde, diz que a parceria entre instituições é ideal para o avanço do conhecimento científico.
Publicação
29/10/2007 - 12:02
29/10/2007 - 12:02
Editoria