Em entrevista coletiva após o encerramento do segundo dia do seminário “Crise — Rumos e verdades”, em Curitiba, o governador Roberto Requião afirmou que o Paraná está aberto para o estabelecimento de tratados de livre comércio no bloco da América Latina. O evento é promovido pelo Governo do Paraná até a quinta-feira (11), no Canal da Música, com a presença de economistas brasileiros e estrangeiros.
“Quando fui senador, eu e o Samuel Guimarães propusemos o livre comércio na América do Sul, com a eliminação de todas as barreiras na região para produtos nacionais dos países do nosso bloco. Não para maquiagem, não para montadoras de automóveis”, lembrou Requião, nesta segunda-feira (8). O governador explicou que seriam necessários alguns ajustes para compensar setores da economia interna que poderiam ser prejudicados.
“Com a proposta, o Brasil teria um impacto pequeno em relação a isso porque a Argentina tem um consumo interno muito alto e o que ela mandaria para o Brasil seria uma parcela que se dissolveria do Oiapoque ao Chuí, no mercado brasileiro. O Paraguai praticamente não tem peso comercial significativo, mas a abertura do Brasil ajudaria esses países a sair dos problemas que se encontram”, disse.
Sobre a colaboração com a China, Requião destacou que, desde seu primeiro governo, trabalha para estreitar as relações entre Paraná e aquele país. “Desde meu primeiro governo eu abri um diálogo com a China. Eu contratei todo o pessoal do Ministério da Agricultura de Zhejiang para trabalhar comigo, e eles desenvolveram a criação de peixes em lagos e lagoas. Mas as distâncias e as dificuldades da língua são muito grandes”, afirmou Requião.
O governador lembrou que criou um departamento de relações com a China, em que pessoas que falam chinês serviriam a qualquer empresário que quisesse um contato com a China. “Ele seria imediato, na época mais por fax do que por computador. O Paraná criou nas suas universidades o curso de Chinês”, comentou.
Apesar das dificuldades de distância e de línguas, o Paraná está “absolutamente aberto a cooperação”, salientou o governador. “Temos um contato com a China, mas do ponto de vista da intensidade destas relações elas não andaram muito”, disse ainda Requião.
Porém, disse Requião, a cooperação entre países, assim como o estabelecimento de um novo Bretton Woods, apesar de interessantes, só serão possíveis com o aprofundamento da crise. “Hoje é um salve-se quem puder. Na verdade, o que os países mais desenvolvidos querem é mandar a conta para que nós paguemos. Eles querem que nós paguemos a conta de um banquete que não participamos”, afirmou Requião.
Para o governador, neste momento, não há quem convoque um novo acordo monetário como o de Bretton Woods. “Isto só será possível no caos total da economia. Antigamente, (Bretton Woods) foi convocado pelo vencedor da guerra (II Guerra Mundial, em 1944). Não existe guerra, não existe vencedor da guerra e não haverá interesse dos Estados Unidos em fazer uma convocação dessas”, disse.
Leia outros trechos da entrevista coletiva do governador.
Crise das montadoras
“A crise já chegou nas montadoras. A Volvo demitiu 440 empregados. Recebi alguns ofícios dos sindicatos de montadoras pedindo aumento de prazo para recolhimento do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), mas parece que eles esqueceram que a maioria das montadoras não recolhe ICMS no Paraná. O Governo que me antecedeu fez acordos postergando o pagamento do imposto por 20 anos”.
Piso regional e minirreforma tributária
“Quando criei o piso salarial regional, muita gente gritou. Mas foi ele que permitiu que as classes C, D e E fossem integradas ao sistema econômico. Agora, estamos propondo a redução do ICMS em cerca de 95 mil itens, e subindo um pouco os impostos dos mais ricos em comunicação, energia elétrica, cigarro, bebidas e gasolina.”
Efeitos da crise no Paraná
“Por ora, não há um aumento do número de desempregados. Temos a mesma quantidade de empregos que tínhamos o ano passado. O governo esta baixando impostos, investindo pesadamente na continuação das obras publicas. Estamos construindo escolas, casas, estradas, usinas hidrelétricas, estamos apostando na compensação da queda futura da atividade privada. Do ponto de vista da arrecadação, a crise ainda não chegou aqui.”
O debate na mídia
“Restabelecemos a democracia da mídia no Brasil. A Paraná Educativa transmite da Patagônia até o Canadá. Ela se comunica com o Brasil todo. A partir da semana que vem, será transmitida pela Sky Digital, em tevê a cabo. Então, o alcance é muito alto. Recebemos perguntas de Alagoas, do México, e nós vamos trabalhar com a repetição. Governadores de outros estados foram convidados para o encerramento do evento. Estamos trazendo as opiniões de especialistas, num seminário multifacetado, com opiniões muitas vezes contraditórias, que não aparecem na grande mídia, que é fascinada com o neoliberalismo e interessada na manutenção do status quo. Depois desde seminário, não falar sobre a crise será ficar para trás. Com a Paraná Educativa, chegamos a um público diferente da televisão paga. Estamos chamando a atenção de faculdades de economia e gravando todos os debates.”