A indústria de transformação já é responsável por manter mais de meio milhão de empregos formais no Paraná. Segundo estudo realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), estão contratados nas indústrias paranaenses exatos 556.178 trabalhadores.
Só no período de 2005 a 2007, foram abertas 65,6 mil novas vagas na indústria paranaense. De acordo com o Ipardes, o desempenho do Estado fez com que o Paraná passasse da quinta para a quarta economia com maior participação na geração de empregos formais no setor industrial brasileiro.
Os dados foram apresentados num debate promovido pelo Ipardes. O encontro contou com a participação de representantes do Banco Central, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDE, Universidade Federal do Paraná, Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade – IBPQ e Federação das Indústrias do Paraná.
“Este estudo mostrou uma metodologia muito interessante. Pretendemos coim ele estabelecer parcerias que vão nos permitir avançar sobre este tema, focando projetos que visem a desconcentração da indústria para o interior do Estado”, informou o pesquisador do IBQP, Rodrigo Silvestre.
Todos os grupos de indústria aumentaram o ritmo de crescimento do emprego. Os postos de trabalho com carteira assinada na indústria de transformação do Paraná cresceram 85% em 12 anos, no período de 1995 e 2007, sendo que um quarto do total de empregos gerados neste setor foram criados nos últimos dois anos.
O estudo feito pelo Ipardes mostrou uma acentuada desconcentração na geração de emprego, principalmente no segmento da indústria tradicional, como aquelas ligadas à produção de carnes, confecções e madeira. O grupo de baixa tecnologia responde por dois terços dos empregos gerados no ano de 2005, sendo que 50% da renda gerada está fora das quatro regiões principais.
De 1995 a 2005, os segmentos que mais cresceram na geração de empregos foram a indústria de confecção e de carnes, os quais triplicaram a geração de empregos no período. Destaca-se que, de 2005 a 2007, houve uma ampliação na indústria de açúcar e álcool, responsáveis pela geração de 16 mil novas oportunidades.
Em 2005, 60% dos empregos formais na indústria de transformação do Paraná estavam distribuídos nas seguintes regiões: Curitiba (31,1%), Londrina (8,4%), Maringá (6,2%), Apucarana (5,7%), Toledo (4,9%) e Ponta Grossa (4,1%).
A geração de empregos formais nas empresas de alta de tecnologia do Paraná cresceu 18,7% de 2005 a 2007, sendo o grupo com maior crescimento relativo na geração de postos de trabalho no setor da indústria de transformação. De 1995 a 2000 a taxa anual de crescimento de empregos neste grupo foi de 4,6%, ou seja: nos últimos dois anos a média de crescimento do grupo quadriplicou.
A remuneração média dos trabalhadores na indústria, em 2005, era de R$ 941,00 e praticamente não teve alteração real desde 1995. A massa salarial cresceu 66% no período, principalmente, devido ao aumento de empregos gerados. A parcela dos empregados no setor que ganhavam entre um e dois salários mínimos saltou de 30% em 1995 para 50% em 2005 mostrando o aumento de empregos nesta faixa de renda. Já o percentual de trabalhadores que ganhavam mais de cinco salários mínimos baixou de 21% em 1995 para 11% em 2005.
Para o pesquisador do Ipardes, Paulo Delgado, a diminuição do percentual de pessoas que ganhavam acima de cinco salários mínimos pode ser atribuída à própria valorização do salário mínimo. “Por outro lado é importante lembrar que o aumento real do salário mínimo tem propiciado aumento no poder de compra dos menores salários e isto tem contribuído para manter a remuneração média dos trabalhadores na indústria”, explicou.
Curitiba teve perda de participação na massa salarial no Estado, sendo que em 1995 era de 53% e caiu para 46% em 2005. Com exceção de Londrina, Maringá e Ponta Grossa. que se mantiveram estáveis, as demais regiões tiveram crescimento de quase 100% em termos reais, atingindo o valor de R$ 172 milhões/mês de dinheiro circulando na economia do interior do Estado.
O professor do departamento de economia da Universidade Federal do Paraná, Fabio Scatolin, destaca um que terço do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é renda e, se há melhora nos preços das commodities vinculadas ao agronegócio, o interior deve se beneficiar muito mais, com reflexos na melhoria do IDH. “No próximo Censo, acredito que veremos melhoria no IDH dos municípios do interior do Estado”, afirmou.
Entre outros dados que chamaram a atenção, está a diversificação da estrutura produtiva, com forte de expansão de novas atividades, nos grupos de alta e média-alta tecnologia, como informática, aparelhos e equipamentos médicos, aparelhos domésticos, fabricação de equipamentos, máquinas-ferramentas. Estes segmentos vem ampliando sua participação na produção nacional.
A indústria de veículos automotores teve um crescimento na produção física de 179% e a de máquinas e equipamentos 136%, entre os anos de 1999 e 2007. A indústria ligada à madeira expandiu-se também para outras regiões, sendo que o setor de embalagens de papel ampliou fortemente sua participação na geração de renda. Ponta Grossa responde por mais de dois terços na renda gerada por esta atividade.
O gerente de operações do BRDE, Paulo Stark, ressaltou a importância que alguns setores industriais têm na geração de renda, como a indústria de confecções, o setor madeireiro e metal-mecânico. “O setor madeireiro é importantíssimo para o desenvolvimento de algumas cidades como Telêmaco Borba. O estudo mostrou como o Sudeste e o Oeste do Paraná estão crescendo no número de empregos, embora também tenha revelado que a concentração de renda continua em volta de Curitiba”, observou.
PERSPECTIVAS – Os debatedores presentes no encontro acreditam que as perspectivas para que a indústria do Paraná continue crescendo são boas. Para Scatolin, o preço dos alimentos tende a continuar subindo, o petróleo não deve baixar muito de preço, fazendo com a produção de açúcar e álcool seja ainda mais valorizada. Ele ressaltou que o Paraná apresenta condições que o coloca num patamar muito bom de competitividade, destacando a importância nos Portos de Paranaguá e Antonina, para a inserção competitiva dos produtos paranaenses.
Embora a alta nos preços dos alimentos possa beneficiar o crescimento da indústria do Paraná, Scatolin alerta que os países emergentes, como o Brasil, são os que mais sofrem, devido ao peso que os alimentos representam na inflação.
“Nos países pobres, os alimentos representam 20% do consumo. Nos EUA, eles representam 12%. Por outro lado, o aumento da demanda deve aumentar a oferta e, como a distância do Paraná até os portos é menor que em outros Estados, o Paraná já sai na frente”, apontou Scatolin.
Quanto a desvalorização cambial, a chefe de equipe da representação do Banco Central do Brasil, em Curitiba, Vanderléia Centtenaro, afirma que o que se tem observado é que há uma deterioração dos indicadores do setor externo. No entanto, ela diz que isto está sendo monitorado, assim como a alta das commodities, visando o cumprimento da meta inflacionária.
Scatolin acredita que o câmbio deve ser mais desvalorizado para que as empresas possam importar mais. “A manutenção deste crescimento sustentável depende da desvalorização do câmbio para que estas indústrias não fiquem tão dependentes de insumos importados voltando a produzir localmente os componentes”, alerta.