Paraná é exemplo em campanhas de vacinação da poliomielite

Nos últimos seis anos, o estado manteve uma média de 98% de imunização
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09/09/2010 - 17:50
Editoria

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O Paraná superou a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde para a vacinação contra a poliomielite. Em 2010, o estado vacinou mais de 754 mil crianças. Esse número corresponde a 98% das 770 mil crianças de 0 a menores de cinco anos.
“Atingir a meta de vacinação significa manter a doença erradicada em nosso estado. É um esforço anual feito por todas as esferas políticas e pelos tão dedicados profissionais de saúde envolvidos na campanha, além dos pais que vêem a importância da vacinação para o bem estar das crianças”, afirma o secretário de Estado da Saúde, Carlos Moreira Junior.
Erradicada no Paraná desde 1986, a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, é uma doença infecciosa e contagiosa. A transmissão ocorre por contato direto pessoa a pessoa por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de pessoas infectadas. A meta, definida pelo Ministério da Saúde, era de 95%.
Desde 1980 o Paraná vem fazendo campanhas anualmente para acabar e manter a doença longe do estado. “Em anos anteriores a 1980 o estado sofria com epidemias a cada dois ou três anos no fim da primavera e verão, onde, nessa época o número superava os 200 casos da doença por ano (214 a 258 casos)”, conta a chefe do departamento de Vigilância Epidemiológica, Inês Vian.
HISTÓRIA - Em janeiro de 1980, numa iniciativa de vanguarda, o Paraná começou uma campanha a fim de vacinar no mínimo 80% da população de crianças menores de cinco anos. Segundo Inês, a campanha se desencadeou pelo aparecimento do surto de poliomielite, a partir da região de União da Vitória no final de 1979, aonde o número de casos chegava a 91 por mês.
A partir dos resultados obtidos das campanhas do Paraná (janeiro a março), o Brasil deu início as campanhas nacionais (junho a agosto), com o objetivo de conter a epidemia que já estava disseminada em todo o país. Em 1983, a estratégia de dias nacionais de vacinação passa a ser recomendada pela Organização Pan-Americana de Saúde e adotada por outros países latino-americanos.

Inês conta que naquele tempo tudo era mais difícil, principalmente porque eles precisavam “encontrar” a população alvo. “A operacionalização das campanhas nessa época era complicada. Os serviços de saúde não eram municipalizados e a concentração da população era maior na zona rural, o que dificultava o acesso, as estradas na maioria não eram asfaltadas, além disso, não havia uma “cultura positiva” por parte da população sobre vacina e por isso não havia demanda espontânea para a vacinação”, relata.
Para alcançar a meta era preciso utilizar estratégias que pudessem chegar até onde às crianças estavam, como, vacinar casa a casa tanto na zona urbana como na rural. Nessa época as campanhas eram realizadas com grande participação de entidades e órgãos públicos e de todos os segmentos da sociedade civil organizada e da sociedade em geral.
ZÉ GOTINHA - Devido à baixa cobertura vacinal que era menor de 20% (9,3% em 1976 e 16,6% em 1979) da poliomielite e também de outras doenças, era necessário algo que rompesse o medo da população de tomar a vacina. “Assim como os super-heróis da televisão na época que atraiam as crianças achamos que poderíamos ser criado um personagem que pudesse virar herói das vacinas e que tornasse a vacinação mais atraente para as crianças e menos amedrontadora”, revela Inês.
Foi então que surgiu o símbolo da erradicação da poliomielite que teve uma incontestável aceitação por parte de todos. O desenho feito por Darlan Rosa caiu direto no gosto de todos. “Depois do desenho definido houve um grande concurso nacional com o objetivo de escolher o nome do boneco”, explica Inês. Só no Paraná foram mais de 380 mil crianças que enviaram sugestões de nome ao personagem”. Surgia então o Zé Gotinha, que é até hoje símbolo da vacinação no país.
A partir dele foram produzidos série de materiais – filmetes, cartilhas, revistas em quadrinhos, mini bonecos na cor de vacina, jogos de estratégias, entre outros -, contando a sua luta contra os “monstros” causadores das doenças preveníveis com vacina.
Com o personagem Zé Gotinha, muitas outras iniciativas se desenvolveram paralelamente, como o trabalho de educação em todas as escolas do Paraná utilizando os materiais educativos, envolvimento com os meios de comunicação e divulgação, equipes multiprofissionais de saúde e comunidade. Sempre andavam juntos elementos importantes, tais como: execução, educação, divulgação, comunicação e participação da comunidade.
O Paraná se destacou pelas iniciativas, não só por ser pioneiro na realização das campanhas de vacinação, também na consolidação da marca Zé Gotinha e também foi um modelo no Programa de Imunizações.
“Lembro que na época tivemos a visita por duas vezes do inventor da vacina contra a poliomielite, Albert Sabin. Ele veio ao estado para ver a experiência de aplicar a vacina em forma de campanha em relação ao combate a doença”. Mais tarde o estado recebeu também uma comitiva chinesa que veio com o mesmo propósito de tirar experiências que deram certo para serem aplicadas no continente asiático.
Nos últimos seis anos, o estado manteve uma média de 98% de imunização. Números superiores à média de Santa Catarina e Rio Grande do Sul no mesmo período que foi de 96,5% e 93,2% respectivamente. Foram mais de 4,8 milhões de crianças vacinadas no Paraná nesses últimos seis anos.
O último caso registrado no Paraná foi em 1986, em Campo Largo. Desde então o Estado não teve mais casos da doença. “Mas para que isso continue assim é imprescindível mantermos os bons índices de vacinação todo ano”, finaliza o secretário Carlos Moreira Júnior.

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