Os trinta anos do Ipardes

Artigo da economista, professora e diretora-presidente do Instituto, Liana Carleial*
Publicação
14/06/2003 - 00:00
Editoria
Neste mês de junho de 2003, o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), autarquia vinculada à Secretaria do Planejamento do Governo do Estado do Paraná, comemora trinta anos. Sua criação ocorreu num momento importante da vida brasileira, no qual as possibilidades de desenvolvimento econômico e social pareciam factíveis e próximas. O Paraná, por sua vez, vivia uma fase também relevante, pois começava, de forma mais consistente, seu processo de diversificação da estrutura produtiva, até então muito dependente da agricultura. A iniciativa de sua proposição foi do Dr. Nivaldo Krueger, que sugeria um papel mais efetivo para um grupo de estudos instalado no Badep (Banco de Desenvolvimento do Paraná), estimulado pelo coordenador do grupo, professor Francisco de Borja Baptista de Magalhães Filho. O objetivo básico de sua criação, tal como propõe a Lei n. º 6.407, de 07 de junho de 1973, era o apoio e auxílio ao Governo do Estado na realização de pesquisas aplicadas nas áreas econômica e social, elaboração de estudos e projetos de apoio ao sistema estadual de planejamento, acompanhamento da evolução da economia estadual e, ainda, treinamento e aperfeiçoamento do pessoal, capacitando-o à tarefa do planejamento e à pesquisa aplicada. Ao longo desses trinta anos o Ipardes certamente cumpriu, com brilho, as tarefas que lhe foram atribuídas. Na realidade, a instituição acompanhou todos os passos do desenvolvimento paranaense: estudou as possibilidades de instalação da Petrobras no Estado, analisou as possibilidades de expansão e diversificação da agroindústria, apontou a tecnificação de sua agricultura e a expulsão dos trabalhadores do campo, desenvolveu análises e estudos sobre a industrialização do Estado e acompanhou a evolução do quadro populacional e social do Paraná. Além disso, cumpriu um papel muito importante de formador de técnicos qualificados que se espalham nos vários órgãos dos Governos estadual e federal, Universidades Federal e estaduais, formando uma teia de ex-ipardianos, retratando o esforço que o Estado do Paraná empreendeu na construção deste Instituto de pesquisa que pertence à sociedade paranaense. Como autarquia estadual, evidentemente o Ipardes enfrentou ciclos de maior e menor evidência, uma vez que sua importância está essencialmente ligada ao papel que o Planejamento (e, portanto, a necessidade de informações qualificadas, análises e estudos) assume em cada Governo. Neste momento, o Ipardes ganhou um papel relevante desde os primeiros dias deste ano, ao oferecer ao Governo e à sociedade paranaense um diagnóstico preciso e responsável sobre a situação do Paraná e, assim, possibilitar a elaboração das diretrizes governamentais e o necessário delineamento de sua ação planejada. Trinta anos após sua criação, as sociedades contemporâneas dependem fundamentalmente da informação e do conhecimento gerados a partir delas, reforçando, de forma crucial, a relevância estratégica de instituições desta natureza. Enfim, a informação é a base central da tomada de decisão governamental. Atualmente, o Ipardes está estruturado em cinco grandes linhas de atuação. A primeira delas é a de produção de dados. Enquanto produtor de dados, o Ipardes lança mão, cotidianamente, de sua credibilidade na comunidade paranaense ao pesquisar mensalmente os domicílios da Região Metropolitana de Curitiba em busca do comportamento do mercado de trabalho e de suas oscilações, mediante parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na aplicação da Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Ao lado disso, desfruta desta mesma credibilidade ao investigar o comportamento dos preços dos produtos que compõem a cesta de consumo dos que ganham até 40 salários mínimos em Curitiba, em diferentes pontos de venda, desta vez utilizando a metodologia da FIPE-USP. Produz dados, também, quando realiza pesquisas diretas, urbanas ou rurais, na busca do conhecimento mais efetivo da realidade paranaense. A credibilidade que lhe garante o acesso às famílias, às empresas e aos produtores foi certamente angariada mediante trabalho árduo e compromissado com essa sociedade. Sua segunda linha de atuação é a organização e utilização de dados secundários sobre domicílios, famílias e empresas, produzidos, por exemplo, pelo IBGE, registros administrativos produzidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e, ainda, de um conjunto significativo de fontes, tais como as Secretarias Estaduais e as Prefeituras Municipais, entre outras. A terceira linha se concretiza com a organização desses dois conjuntos de dados em grandes bancos disponibilizados para toda a sociedade. A partir daí, constitui-se uma quarta linha de atuação, configurada pela criação de indicadores socioeconômicos que permitem a compreensão da realidade paranaense (e brasileira), construindo, assim, informações referenciadas e balizadas por procedimentos metodológicos precisos. Todos esses procedimentos permitem, por fim, a constituição da riquíssima quinta linha de atuação da instituição, que se consubstancia nos estudos e pesquisas desenvolvidos: estudos populacionais, demográficos, análises conjunturais e estruturais sobre as economias brasileira e paranaense, análises do quadro social e ambiental, identificando os problemas e propondo soluções e alternativas de desenvolvimento numa compreensão integrada do Estado do Paraná. Estas, enfim, são as competências que o Ipardes exibe por ter aprendido a FAZER ao longo desses trinta anos. É verdade que só é possível exibir essa competência por possuir um corpo técnico de reconhecida qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, que se revitaliza continuamente em torno de valores centrais, como: a responsabilidade social inerente àqueles que prestam serviço público, o compromisso com a sociedade paranaense e com a qualidade e veracidade da informação, o exercício da independência e responsabilidade da análise e interpretação da realidade estudada e, ainda, a necessária capacidade de incorporar críticas. Somente através da vivência desses valores e do exercício de suas competências o Ipardes pode cumprir sua função central de conhecer o Estado do Paraná, dominar a compreensão da dinâmica de seu crescimento, os gargalos que dificultam o seu desenvolvimento e oferecer propostas de intervenção que potencializem suas possibilidades de desenvolvimento. O Ipardes desfruta de um excelente conceito entre as instituições congêneres no país, faz parcerias com universidades, desenvolve pesquisas para órgãos governamentais nos níveis federal, estadual e municipal. Enfim, o Ipardes cumpriu e cumpre as tarefas que lhe foram atribuídas pela lei de sua criação, às quais foram adicionadas novas funções à medida que a ação pública se tornou mais complexa. Certamente, por todas essas razões, é referência nacional em estudos urbanos, regionais, sociais, econômicos, ambientais e de planejamento. É sempre importante informar, contudo, que tudo isto é feito com apenas noventa e oito servidores (um dos menores quadros entre as congêneres no país) trabalhando efetivamente no Ipardes, os quais, em grande parte, estão aqui desde os primeiros tempos de vida da Instituição, o que sinaliza a necessidade de renovação deste quadro, especialmente porque todo este conhecimento e experiência acumulados precisam ser transferidos, transmitidos para as novas gerações de pesquisadores. E esta tarefa exige tempo de convivência, troca de experiências, enfim, aprendizado conjunto. Argumentamos, ainda, que há uma marca Ipardes reconhecida amplamente no país, resultante de um esforço coletivo e que precisa ser preservada. Os beneficiários desta história são, certamente, o Estado do Paraná e a sociedade paranaense e, conseqüentemente, cada um de seus cidadãos, que podem acessar gratuitamente os dados, informações e estudos produzidos. Assim, caro leitor, se você deseja saber sobre o Paraná, acesse o site www.ipardes.gov.br, que está com uma roupagem nova desde o dia 7 de junho. Por tudo isto, os trinta anos da Instituição têm motivado comemorações sob a forma de seminários e discussões e, também, de festividades que prosseguirão por todo o ano de 2003. Neste artigo, como diretora-presidente do Ipardes, parabenizo cada ipardiano por esta bela construção, mas aproveito também para parabenizar cada paranaense, motivador central e beneficiário final do nosso trabalho. Como desejamos nos aniversários dos nossos amigos, repito aqui: muitos anos de vida, Ipardes! Economista, doutora em Teoria Econômica pela USP com estágio de pós-doutorado na Université Paris XIII, no Centre de Recherche en Economie Industrielle. Foi professora adjunta do Programa de Mestrado em Economia da Universidade Federal do Ceará e professora titular do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR. Atualmente é diretora-presidente do Ipardes e professora visitante da Faculdade de Direito da UFPR.