A Copel conseguiu finalizar a inédita operação de lançamento por helicóptero dos cabos guias na linha de transmissão entre as subestações de Bateias e Jaguariaíva. O uso de aeronaves foi necessário para que a mata da região não fosse degradada com a instalação, já que naquele local habitam exemplares de mono-carvoeiros, espécie de macaco tida como extinta no Paraná.
O trabalho consistiu na colocação de cabos para tracionar os condutores de eletricidade, cuja instalação foi concluída nesta quarta-feira (08), nos vãos em que a nova linha transpõe a reserva de mata nativa. Para não degradar a área habitada pelos monos, a Copel promoveu um desvio de 150 metros no traçado original da linha e utilizou torres de sustentação com até o dobro da altura inicialmente projetada: a maior das estruturas tem 60 metros.
Vôo – Pela mesma razão, a instalação dos cabos não pôde ser feita por terra, como é usual, por exigir a abertura de clareiras para o transporte de material e equipamentos. “A alternativa foi levar 1.800 metros de cabo por helicóptero, de uma torre a outra, sem tocar na mata”, conta Márcio Ribeiro, da área de engenharia de transmissão da Copel. “Vencemos um desafio técnico que foi, além disso, uma verdadeira demonstração de respeito ao meio ambiente oferecida pela empresa”, completou.
A operação foi acompanhada e supervisionada por técnicos e fiscais do Ibama e do IAP, além de biólogos e ambientalistas vinculados a organismos de proteção à natureza.
Segundo a Copel, com o fim das obras de construção a nova linha Bateias a Jaguariaíva entra agora na fase de testes e a previsão é liberar o circuito para operação até o final deste mês.
Tesouro biológico – Pelo direito de construir uma linha com 137 km de extensão interligando em 230 mil volts as subestações de Bateias, nas cercanias de Campo Largo, até Jaguariaíva, importante pólo industrial no centro do Estado, a Copel venceu um leilão realizado pela Aneel no final de junho de 2001.
Ninguém imaginava que em certa altura do trajeto, a 60 km da cidade de Castro, numa região conhecida como Vale do Açungui, técnicos encarregados de levantar os impactos ambientais da obra topariam com um tesouro biológico: exemplares de uma espécie tida como já extinta no Paraná, o mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoides), considerado o maior primata não humano das Américas.
Assim que notificada do achado, a Copel tomou a iniciativa de isolar a área e comunicar o fato ao Ibama, que formou um comitê com a missão de gerenciar o assunto e avaliar as soluções que permitissem concluir a linha minimizando possíveis interferências na região ocupada pelos animais.
Preservação – A alternativa aprovada pelas autoridades ambientais contemplou o deslocamento do eixo original do traçado até um ponto de arborização mais rarefeita e a elevação da altura dos cabos, evitando a necessidade de cortes ou podas e preservando a área crítica. E para a instalação desses cabos, a saída foi optar pela via aérea – trabalho nunca feito antes pela Copel e com um único antecedente conhecido: no Rio de Janeiro, a solução foi adotada para um trecho de linha que passa pela Floresta da Tijuca.
Também com o propósito de minimizar interferências, todo o trabalho de construção das torres – desde as escavações para assentamento das fundações até a montagem de toda a parte de ferragem – foi realizado sem o uso de equipamentos mecânicos.
Todas as pessoas que atuaram na área onde foram encontrados os monos-carvoeiros, desde os operários até os fiscais, supervisores e engenheiros, tiveram de passar por um curso de conscientização ambiental. “O objetivo da medida foi sensibilizar as pessoas para a importância do trabalho que estavam executando: uma obra da maior relevância para o setor elétrico e, ao mesmo tempo, um trabalho de proteção a uma espécie tida como extinta no ecossistema paranaense”, resumiu a bióloga Cosette Xavier da Silva, presidente do comitê.