“Novo Bretton Woods deve ser multipolar”, diz economista italiano

“Vivemos um perigo geopolítico, se não for feito nada haverá uma explosão social”, afirmou ele, durante o seminário “Crise – Rumos e Verdades”
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08/12/2008 - 19:17
Editoria
Para o economista e jornalista italiano Paolo Raimondi, idealizador e defensor de um tratado que reorganize as relações comerciais e financeiras entre os países – ou, como ele chama, um “Novo Bretton Woods”, em referência ao tratado semelhante firmado em 1944, no final da Segunda Guerra Mundial – esse novo acordo deve ser construído e consolidado de forma “multipolar”, ou seja, sem o predomínio de um único Estado, no caso, dos Estados Unidos da América. O economista falou na tarde desta segunda-feira (8) no seminário “Crise – Rumos e Verdades”, promovido pelo Governo do Paraná em Curitiba. Para Raimondi, muito mais grave que as perdas dos bancos e dos apostadores financeiros é a “explosão social” (desemprego, pobreza) que a crise atual está gerando. Ele considera a ocasião, então, indispensável para a constituição de um novo “Bretton Woods”. Mas, ao contrário do tratado de mais de seis décadas atrás, liderado pelos EUA, que vencia a guerra mundial, o novo acordo precisa ter mais países como protagonistas, avaliou Raimondi. “Naquela época havia uma nação vencedora. Hoje, essa mesma potência está em declínio. O novo Bretton Woods deve ser multipolar, no aspecto político-militar e no econômico-monetário”. CRÍTICAS - O economista italiano fez duras críticas ao destino dos recursos públicos que estão sendo despendidos pelos governos nos últimos meses, desde a eclosão da crise financeira internacional – a maior parte dos recursos está servindo para socorrer bancos e especuladores do mercado financeiro. E alertou para uma “explosão social” se tudo se mantiver nesse ritmo. “Vivemos um perigo geopolítico, se não for feito nada haverá uma explosão social. Os governos aplicaram US$ 11 trilhões [em socorro à crise], muito disso para os bancos. Mas me pergunto como cidadão: por que? Por que se, por exemplo, os aposentados italianos, abaixo da linha da pobreza, que pedem aumento de suas aposentadorias, por que [o governo] faz uma discussão infernal para dizer que não pode [conceder] o aumento?”, indagou o jornalista. CONTROLE - Paolo Raimondi também defendeu controle público sobre o mercado financeiro. Advertiu que, neste momento, as soluções para os problemas da crise devem ser construídas justamente por aqueles que combateram o modelo econômico que levou ao caos em que o mundo se encontra. “Não se pode pensar que os mesmos que nos levaram a essa situação venham querer discutir saídas. Não são eles os que vão resolver”. O economista assinalou ainda que a origem da crise atual remonta a 1971, quando o governo norte-americano desatrelou o dólar às reservas de ouro (lastro). “Naquele momento, tivemos o crescimento canceroso do câmbio flutuante. Deu-se então origem a uma série de bolhas, como a especulativa”.

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