Na coleção de recibos, a prova: R$ 16 mil em pedágio por ano

João Carlos Gomes Rocha deixa quase a metade do que recebe na mão das empresas privadas que há dez anos administram 2,5 mil quilômetros de estradas no Paraná
Publicação
05/07/2008 - 13:16
Editoria
O caminhoneiro autônomo João Carlos Gomes Rocha entrega R$ 16 mil por ano às concessionárias de pedágio, o equivalente a quase 40% do rendimento anual dele. Ou seja – para poder trabalhar, João Carlos precisa deixar quase a metade do que recebe na mão das empresas privadas que há dez anos administram 2,5 mil quilômetros de estradas no Paraná. Um péssimo negócio para o caminhoneiro, um ótimo negócio para as empresas, que até o final de 2007 lucraram R$ 238,9 milhões, em valores corrigidos. Cuidadoso, João Carlos guarda cada um dos recibos de pedágio que paga. E faz as contas. “Todo mês deixo entre R$ 1,4 mil e R$ 1,6 mil nas cabines de pedágio”, diz o caminhoneiro, que chega a fazer oito viagens por semana carregando madeira entre Ponta Grossa e Araucária. “É um absurdo. Ano passado, paguei em pedágio o equivalente a quase 40% do meu rendimento anual. Esse dinheiro poderia servir para comprar um caminhão melhor, mais moderno, ou para uma manutenção melhor”, queixa-se. Se os preços do pedágio são “abusivos”, a malha rodoviária com pedágio deixa a desejar no Paraná. “Por esse preço, era de se esperar pista dupla em todos os trechos. E mais – quatro faixas de rodagem, e um pavimento melhor, sem buracos ou deformações na pista, coisas que sentimos muito quando trafegamos com o caminhão”, argumenta. Exemplo de asfalto ruim é o que não falta, diz João Carlos, que reclama muito do trecho da BR-376 entre Ponta Grossa e Curitiba. Por causa disso, a Rodonorte, que administra o trecho, foi multada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER), e é alvo de ações propostas pelo Ministério Público Federal. Há quase sete anos na estrada, João Carlos ainda não pensa em parar, mas conhece colegas que abandonaram a profissão. “Eu mesmo já tive que demitir um motorista devido ao custo do pedágio, que se soma a encargos trabalhistas e outras despesas”, lamenta. “Sou dono do meu caminhão e, enquanto conseguir, sigo trabalhando. Improviso uma peça, faço alguns consertos por conta própria e vou tocando”, consola-se. “Mas muitos colegas não tiveram como segurar as pontas. Fizeram financiamento, trabalharam dia e noite, mas precisaram vender o caminhão. O pedágio come a renda de todo mundo, mas quem mais sofre é o autônomo.”

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