“Modelo de desenvolvimento para o campo brasileiro”

Artigo assinado por Edson Bagnara, da direção estadual do MST no Paraná
Publicação
12/06/2007 - 17:51
Editoria
“O aumento do salário mínimo não vem sendo suficiente para recuperar o poder de compra dos brasileiros, perdido nos últimos 25 anos. Mais de 90% dos empregos no país têm como teto dois salários mínimos, o que não chega a R$ 800. O resultado é 72 milhões de pessoas que não comem o suficiente. O desemprego e o empobrecimento da população têm impactos diretos na agricultura brasileira. No meio rural, a opção da classe dominante, com apoio dos governos, foi o chamado agronegócio, caracterizado pela produção de monocultura para exportação em grandes extensões de terra, de forma mecanizada e com pouca mão-de-obra. Impactos do agronegócio - Os problemas da monocultura podem ser observados pela sua expansão desde a metade da década de 90. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as fazendas a serviço do modelo agroexportador, acima de 2.000 hectares, tem 350 mil trabalhadores assalariados, enquanto que nas pequenas propriedades, com no máximo 200 hectares, trabalham mais de 900 mil. Apesar do financiamento e linhas de crédito do governo federal e dos bancos públicos, o agronegócio paga os menores salários da sociedade, abusa da superexploração dos camponeses e se utiliza de trabalho em situação de escravidão. O desrespeito à legislação ambiental é outro efeito colateral da monocultura, que coloca em risco a biodiversidade e as florestas brasileiras. No Paraná, temos exemplos de como as grandes transnacionais se instalam no Brasil desrespeitando as leis ambientais. A multinacional suíça Syngenta Seeds, se instalou há seis quilômetros do Parque Nacional do Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste, dentro da zona de amortecimento, desta unidade de conservação, onde praticava experimentos ilegais de soja e milho transgênico, colocando em risco uma das maiores riquezas da biodiversidade do mundo, onde estão localizadas as Cataratas do Iguaçu. Para denunciar o crime a área foi ocupada por integrantes da Via Campesina, em 14 de março de 2006. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou a empresa em R$ 1 milhão, mas até agora a multa não foi paga. Em novembro do ano passado à área foi desapropriada pelo governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), para a implantação de um Centro de Pesquisa e Estudo em Agroecologia. Alternativa - O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Via Campesina, movimento mundial de camponeses, propõem para campo o modelo da soberania alimentar, com o princípio da defesa alimentar como direito garantido na “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, de 1948. A organização da produção agrícola deve ter como fundamento a divisão da terra em pequena e média agricultura para garantir a produção dos alimentos necessários para toda população. Neste sentido, cerca de 20 entidades e movimentos sociais ligados a agroecologia no Paraná vêm desenvolvendo várias experiências nesta área, impulsionadas pela Jornada de Agroecologia que acontece há cinco anos e reúne pesquisadores, cientistas, engenheiros agrônomos, ecologistas e camponeses em torno do desenvolvimento de um modelo sustentável de produção de alimentos, por meio da utilização de técnicas agrícola que respeitem a dinâmica da natureza. Outro passo na transição do modelo agronegócio para a agricultura camponesa, é o assentamento das 230 mil famílias acampadas pelo governo federal. Só no Paraná, cerca de oito mil famílias permanecem acampadas à espera da reforma agrária. Ao mesmo tempo, é preciso colocar em marcha um projeto popular de desenvolvimento, com a mudança da política econômica, distribuição de renda, valorização dos salários dos trabalhadores e apoio à pequena e média agricultura familiar. Para debater a necessidade desse modelo de desenvolvimento para o campo brasileiro o MST organiza seu 5º Congresso, o maior de sua história, sob o lema “Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular”, no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, entre 11 e 15 de junho, com a participação de mais de 17 mil delegados de assentamentos e acampamentos de 24 estados. Durante o Congresso o MST apresenta à sociedade a sua proposta para o campo brasileiro, intitulada “A Reforma Agrária necessária: Por um projeto popular para a agricultura brasileira”. O programa agrário defende propostas concretas para a resolução da questão agrária, com a garantia de boa qualidade de vida e trabalho aos Sem Terra e a superação da brutal desigualdade social no campo”. Edson Bagnara – é da direção estadual do MST do Paraná