O ministro Roberto Mangabeira Unger, de Assuntos Estratégicos, abordou a necessidade de fortalecer o futuro do Mercosul durante entrevista coletiva concedida no encerramento do seminário Crise – Desafios e Soluções na América do Sul, nesta sexta-feira (27), em Foz do Iguaçu. O ministro defendeu a adoção de um projeto e de um modelo de desenvolvimento que deve ser traduzido em instituições.
“Só assim, as disputas comerciais que praticamente impediram o avanço do Tratado de Livre Comércio na região tendem a reduzir”. O ministro defendeu a necessidade de definir um elenco de ações - como política agrícola, industrial, de ciência e tecnologia, capital e trabalho – para a construção de um modelo de desenvolvimento para o Mercosul.
Segundo o ministro, esse processo já foi iniciado com a Argentina a pedido presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ponto de partida é o trabalho de um elenco pormenorizado de ações que deve ser colocado no plano concreto. Com o avanço na formulação e concretização de um projeto comum, as desavenças existentes entre Brasil e Argentina tendem a ser substituídas pelas ações comuns, prevê.
O ministro abordou ainda um projeto de estabelecer um regime de trabalho paralelo ao da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como modelo de inclusão dos trabalhadores no Brasil. Na sua avaliação, metade da população trabalhadora está na informalidade. Outra parte exerce trabalhos precários por meio de regimes terceirizados ou temporários, sendo que é mínima a parcela de trabalhadores brasileiros que estão sob o regime formal de trabalho, situação que representa um quadro de injustiça no País.
O ministro destacou ainda uma alternativa ao desenvolvimento de ações comuns entre os países do Mercosul. “O Brasil pode construir seu projeto de desenvolvimento dentro do Brasil, servindo como exemplo”, defendeu. Na sua justificativa, esse seria um modelo de contribuição às repúblicas irmãs. O ministro reconheceu que, apesar da proximidade entre os países do Mercosul, o processo de integração é muito tênue.
Unger também abordou uma possibilidade de integração entre o Brasil e os Estados Unidos, como oportunidade que deve ser explorada em resposta a essa crise global. Ele acredita que o presidente Barack Obama é sensível à mensagem brasileira. “Mas o nosso foco não está no resgate das instituições financeiras falidas e sim na recuperação real da economia e nesse tema temos amplas oportunidades”, acentuou.
O ministro observou que o Brasil e os Estados Unidos podem buscar um modelo comum de desenvolvimento que amplie as oportunidades em setores como o de agrocombustíveis, onde os dois países têm interesses comuns e com condições de organizar esse mercado. Outro setor que pode integrar os dois países é a adoção de políticas de ajuda às pequenas e médias empresas. E também a Educação.
“Brasil e Estados Unidos são países grandes, desiguais e federativos e enfrentam o mesmo problema no setor da educação. Portanto, devem ser desenvolvidas políticas de gestão local da educação, sintetizou.
Em resposta a uma pergunta sobre o país preferido dos Estados Unidos na América Latina, Unger disse que é um equívoco nos preocuparmos com esse assunto. “Devemos ser prediletos de nós mesmos”, respondeu. “Se podermos nos engajar com os Estados Unidos será melhor para nós mesmos. Mas se isso não acontecer, devemos promover nossas mudanças sozinhos”, finalizou.