A equipe do Projeto Geomedicina, da Mineropar, empresa pública do governo do Paraná, começou nesta semana, na região do município de Pinhão, região Sul do Estado, a amostragem de água e sedimento de corrente para execução de análises químicas, geoquímicas, de agrotóxicos, bacteriológicas e genéticas. Serão coletadas amostras em 736 estações, distribuídas em bacias hidrográficas que cobrem todo o território do Paraná.
O projeto foi concebido a partir de uma pesquisa do coordenador científico do Instituto Pelé Pequeno Príncipe (IPPP), de Curitiba, e do Projeto de Geomedicina, pediatra Bonald Cavalcante Figueiredo, sobre câncer nas glândulas supra-renais de crianças, cuja incidência é maior no Paraná do que em outras regiões do Brasil e do resto mundo.
O estudo vai verificar a possível influência de fatores ambientais sobre o desenvolvimento de câncer nas glândulas supra-renais e também para dar mais consistência ao estabelecimento das relações de causa e efeito na etiologia de outras doenças crônicas e tipos de câncer.
Os dados do Levantamento Geoquímico Multielementar de Baixa Densidade do Estado do Paraná e do Projeto Geoquímica de Solos - Horizonte B, executado pela Mineropar, já estão sendo cruzados pelos pesquisadores do IPPP com informações sobre a mortalidade relacionada ao câncer e sobre tendências para mutação genética detectadas em testes do pezinho.
O Projeto Geomedicina é uma parceria da Mineropar com o Instituto Pelé Pequeno Príncipe (IPPP), o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e vários departamentos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Estadual de Londrina (UEL), entre outras entidades.
Ele é financiado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná - Seti, através do Fundo Paraná, e conta com a participação de pesquisadores de outras instituições: Departamento de Bioquímica da UFPR, Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Embrapa, Instituto de Estudos Avançados da USP (São Carlos, SP) e pesquisadores da Rede de Prospecção e Inovação para o Agronegócio, no Paraná, e em São Carlos (SP).
TECNOLOGIA - O Instituto Pelé Pequeno Príncipe conta com um sofisticado sistema de geoprocessamento e uma equipe altamente qualificada de especialistas para o tratamento e disponibilização dos dados, que serão feitos por meio dos recursos da internet. Este sistema dará transparência e agilidade no uso dos resultados do projeto.
Segundo o coordenador do Projeto Geomedicina na Mineropar, geólogo Edir Edemir Arioli, novas tecnologias deverão aumentar o potencial de análise de substâncias tóxicas encontradas na água e no solo, como o projeto da língua eletrônica da Embrapa, um aparelho com sensores que identifica sabores.
A amostragem permitirá o mapeamento das bactérias do sedimento, por pesquisadores do Departamento de Biologia da UFPR, e sobre a geoanálise com métodos estatísticos e de rede neuronal, com professores da UFPR. Também participarão pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina, na análise de radiosótopos (urânio e tório) em amostras do projeto.
PESQUISA - O Paraná tem a maior incidência de câncer de córtex adrenal em crianças porque existem cerca de 50 mil pessoas no Estado com uma mutação no gene P53, classificado como R337H. Esses números foram estimados a partir da campanha do teste do pezinho para exame de DNA. Cerca de 150 mil testes já foram realizados até agora.
O câncer ocorre apenas na glândula supra-renal de crianças. A glândula produz hormônios e estes hormônios aumentam com o aparecimento do tumor e podem causar o aparecimento de pêlos escuros e espessos na região genital, acne na face e, às vezes, obesidade no tronco e hipertensão arterial.
O coordenador científico do IPPP, Bonald Ferreira, explica que para o tumor aparecer, além da criança precisar ter o TP53/ R337H, deve ocorrer com ela mais cerca de quatro a cinco alterações numa mesma célula. Por isso, somente cerca de 3 a 10% das crianças que apresentam a mutação R337H poderão ter o câncer de córtex adrenal.
A incidência do câncer de córtex adrenal no Paraná é 3,4 a 4,2 por milhão de crianças até 15 anos de idade. O tumor de córtex adrenal aparece mais freqüentemente em crianças de um a três anos de idade.