Mercadante defendeu audácia para sair da crise, como em 29


O senador Aloísio Mercadante defendeu o fim dos paraísos fiscais como medida para o enfrentamento global contra a crise. Mais otimista, Mercadante disse que o Brasil tem potencial para sair na frente na recuperação da crise econômico-financeira global
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08/12/2008 - 14:30
Editoria
O senador Aloísio Mercadante (PT-SP) defendeu nesta segunda-feira (8), em Curitiba, audácia para o País dar um grande salto com o enfrentamento da crise financeira global que está abalando as economias em todo o mundo. Defendeu várias medidas como enfrentamento da crise, mas a mais veemente foi o fim dos paraísos fiscais em todo o mundo. Segundo o senador, são 78 paraísos fiscais espalhados pelo mundo que escondem as sombras do sistema financeiro, impedem o planejamento fiscal e impedem os bancos centrais de atuarem de forma coordenada para o enfrentamento dessa crise. “Essa é a melhor contribuição que podemos dar para o enfrentamento da crise no mundo”, afirmou. Mercadante está em Curitiba participando do Seminário Crise Rumos e Verdades, promovido pelo Governo do Paraná, que nesta segunda-feira (08) abriu com o debate Crise e Economia Mundial, que aprofundou a identificação e o diagnóstico sobre as origens da crise econômico-financeira. O senador destacou que os efeitos dessa crise serão tão profundos que mais debates como esse devem existir em todo o País, ao se referir à iniciativa do governador Roberto Requião em debater a crise à exaustão. O senador traçou um paralelo entre a crise de 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, e a atual para justificar sua tese que o Brasil tem todas as condições para amenizar os impactos e sair na frente de outros paises na sua recuperação. Ele condenou os ataques que estão sendo feitos à Petrobrás, que recentemente recorreu a bancos públicos para seus financiamentos. Segundo o senador, isso aconteceu porque a estatal perdeu os financiamentos externos, a exemplo do que aconteceu com as demais empresas que se financiavam no sistema financeiro internacional. Ele defendeu o socorro do governo e dos bancos estatais à Petrobrás diante da solidez da empresa. Mercadante lembrou que o Petrobrás tem um faturamento de US$ 100 bilhões por ano e já está retomando os financiamentos. “É inaceitável atacar a Petrobrás porque ela financiou R$ 2 bilhões junto à Caixa Econômica Federal para manter seus investimentos”. Segundo o senador, a estatal recorreu ao banco público não porque teve problema na sua governança, mas porque os bancos que a financiavam quebraram. Em sua defesa da Petrobrás, Mercadante lembrou que a estatal tem um programa de modernização das refinarias, essencial ao Brasil. Prevê a construção de gasodutos para elevar a oferta de gás, está contribuindo com a substituição das importações da indústria naval em função dos seus investimentos no mundo. “Portanto o governo tem que dar sim o maior apoio à Petrobrás”, insistiu. Outra defesa veemente feita pelo senador durante o seminário foi com relação às descobertas da estatal com o pré-sal. O senador lembrou que a exploração do pré-sal é um projeto para 40 anos e que este governo vai manter o controle das reservas e ainda vai discutir como se apropriar e distribuir as riquezas dos royalties. Uma das alternativas será fazer uma grande revolução no sistema de ensino brasileiro com os recursos gerados pelos royaties. Mercadante justificou que os países que abdicaram de explorar suas reservas petrolíferas, transferindo a atividade para a iniciativa privada, como Indonésia, Inglaterra e muitos outros, perderam a capacidade de exploração com mais longevidade e hoje são grandes dependentes do petróleo. Para o senador, essa crise pode ser uma grande oportunidade para o Brasil, que poderá sair na frente no processo de redefinição da economia real. A crise é muito mais rápida do que a capacidade de ação dos governos. Por isso ele sugeriu medidas como a ampliação dos investimentos no País, da integração com os países do Mercosul e a adoção de um sistema de pagamentos com moedas locais para desdolarizar a região e incrementar o comércio regional, fortalecer o BNDES para que possa investir em estrutura logística e setores estratégicos. Segundo senador, esse é um momento de crise, mas também de oportunidades. Lembrou que na crise de 1929 o Brasil tinha no café o maior item na pauta de exportações e se viu obrigado a queimar seus estoques que vinha mantendo durante toda a década de 20. Foi obrigado ainda a substituir as importações, enfrentou problemas políticos como a revolução de 1930 e o fim da República Velha. “Portanto as crises são oportunidades e é mais evidente ainda que isso vai gerar grandes disputas políticas o Brasil e no mundo”. Na avaliação de Mercadante, o Brasil tem grande potencial para enfrentar a crise. Citou o potencial agrícola onde nos últimos cinco anos foi o País que mais ampliou o excedente exportável, os estoques mundiais caíram em todo o mundo e a Ásia vai continuar demandando por alimentos porque não tem terras cultiváveis. Com o pré-sal e o petróleo o Brasil será grande produtor e exportador de energia, tem matriz energética limpa e pode avançar ainda mais na biomassa, na hidroeletrecidade e tem a 9ª maior economia industrial. “É preciso audácia para dar um salto igual de 29”, comparou. Lembrou que o Brasil só foi recuperar o valor do Produto Interno Bruto em 1939. “Foram 10 anos de crise com conseqüências sociais e políticas graves, mas que apontou o surgimento de novas políticas econômicas que foram decisivas para o crescimento do País nos anos que se seguiram”, afirmou. Para Mercadante, dessa vez, o impacto não foi tão violento porque o País tem reservas cambiais fortes, contabilizando US$ 208 bilhões em agosto de 2009, mês que antecedeu ao período quando as perdas financeiras e econômicas chegaram com mais força por aqui. Outro grande fator que amorteceu os impactos da crise, segundo Mercadante, foi a redução da dívida externa e do setor público, que hoje é de 36,6% do PIB quando em 2003 era de 52,4% do PIB. O déficit público também é um dos menores dos últimos anos, sendo que no período janeiro a outubro de 2008 ficou em 0,08% do PIB, e inflação está dentro da meta estabelecida. Para Mercadante, atualmente os sinais de crise estão mais evidentes no setor automotivo e na construção civil, admitindo que esses setores podem contribuir com o avanço do desemprego em 2009. Segundo ele, as perdas financeiras e econômicas decorrentes da crise estão sendo mais graves em outros países como Estados Unidos, Japão e Europa. “Estamos assistindo ao declínio da estrutura da economia norte-americana”. Como decorrência dessa conjuntura, previu um grande impacto na China, país que se tornou o maior produtor de manufaturados, mas que é o maior dependente da economia norte-americana, comparou. Destacou que os países da América Latina também sentirão os impactos da crise em decorrência da queda nos preços das commodities e cancelamento de contratos, mas que a valorização do câmbio compensa em parte as perdas que estão sendo sentidas. Destacou ainda a incapacidade da Europa em reconstruir a liquidez e a resposta dos bancos centrais dos países da União Européia de redução de juros têm sido insuficientes para reconstruir o crédito. Os países da América Latina, diz o senador, também sentirão os impactos da crise em decorrência da queda nas cotações das commodities e cancelamento de contratos, mas lembrou que esses países devem direcionar sua expansão para o mercado interno. Daí previu crescimento nessa região, “mais lento, mas ainda com crescimento”.

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