Medida sanitária restringe venda de tangerina poncã do Vale do Ribeira

Produtores estão preocupados com resolução que proíbe o comércio da tangerina com folhas e ramos, para evitar a disseminação da praga “Pinta Preta dos Citros”
Publicação
07/05/2009 - 10:31
Editoria
Produtores de tangerina poncã do Vale do Ribeira estão preocupados com uma resolução da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), que proíbe o comércio de frutas cítricas com folhas e ramos. Eles reuniram-se com o secretário Valter Bianchini para discutir uma solução para o impasse, porque o período é de início de safra e o comércio da fruta está paralisado em toda a região Sul e Sudeste do País, para onde é destinada a poncã. A resolução atende a legislação federal, editada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em janeiro deste ano, que proibiu o trânsito interestadual de frutos cítricos com folhas e ramos, para evitar a disseminação da praga “Pinta Preta dos Citros”, detectada na região de Cerro Azul em 2006. Os produtores alegam que a doença não existe mais. No Paraná, a resolução de número 059 foi assinada pelo secretário Valter Bianchini no último dia 22 de abril e já está em vigor. A medida visa evitar a disseminação da doença para outras regiões onde a fruticultura tem importância econômica como Norte e Noroeste. Os técnicos da Seab estão orientando toda a cadeia produtiva dos citros para as novas medidas, desde a produção até as redes de supermercados e de comercialização. Os produtores vieram à Seab, acompanhados do deputado estadual Cleiton Kielse, do prefeito de Cerro Azul Dalton Luiz e do presidente da Câmara de Vereadores, Josenei Raabi. O cumprimento dessa legislação preocupa os produtores por dois motivos, explica o vice-prefeito de Cerro Azul, João Carlos Hilman. Primeiro é a dificuldade da colheita sem o ramo. Por causa do relevo da região montanhosa o produtor puxa o galho carregado de frutas com uma das mãos e, com a outra, arranca-as ainda com os ramos. Se for cortar a fruta com a tesoura com apenas uma das mãos, ela vai descer morro abaixo e inviabiliza a colheita. Outro obstáculo está nos mercados, que alegam a preferência do consumidor por frutos com ramos e folhas, que denotam o frescor da fruta. Sensibilizado com a importância do comércio da tangerina Poncã para a região do Vale do Ribeira, Bianchini se comprometeu em conversar com o ministro Reinhold Stephanes nesta quinta-feira (07). Por se tratar de cumprimento de uma medida federal, o secretário da Agricultura do Paraná disse que não pode arbitrar sobre o caso sem o conhecimento do ministro. Bianchini ficou de conversar também com as autoridades do governo de Santa Catarina, estado que está impedindo o recebimento das frutas de Cerro Azul. Segundo Hilman, o estado catarinense é o maior comprador da fruta do Vale do Ribeira e está exercendo a pressão para que as frutas sejam enviadas conforme a resolução do ministério. “Estamos com a safra praticamente parada e o produtor do Vale está preocupado com possíveis prejuízos”, disse. Como a legislação é recente e os produtores estão no início da colheita da safra, este ano pode ser encarado como transição e, para 2010, os produtores terão de se adequar. “Temos a determinação nacional para seguir esse procedimento de comercializar a fruta cítrica sem folhas e ramos, mas não queremos que a implementação seja traumática aos produtores, embora toda medida fitossanitária seja traumática no início”, explicou Bianchini. Segundo o secretário, a Seab pretende orientar os produtores para que se organizem para instalações de “packings house”, onde se trata a fruta e para a padronização das caixas. Com isso, o produtor irá ganhar um valor agregado que, certamente, vai substituir o cabo e as folhas, que podem ser disseminadores de doenças. Bianchini deu a garantia que não pretende adotar medidas bruscas para o cumprimento da legislação federal, mas alertou que não pode enganar os produtores de tangerina. A legislação federal da área de sanidade vegetal e animal é para valer e visa a proteção do setor produtivo e do mercado brasileiro. O secretário disse ainda aos produtores que eles podem fazer dessa dificuldade inicial um passo para tornar a região do Vale do Ribeira uma grande exportadora da tangerina Poncã, se a praga “Pinta Preta dos Citros” for controlada ou até mesmo erradicada. O município de Cerro Azul é o maior produtor nacional de tangerinas Poncã, com uma produção anual de sete milhões de caixas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006. O segundo maior produtor do país é o município vizinho Dr. Ulysses. Juntos são responsáveis por 50% da produção nacional de tangerinas.