O Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec) trabalha desde 2003 em conjunto com concessionárias de energia de todo o Brasil no controle e monitoramento de espécies exóticas invasoras, um problema ambiental que vem causando preocupações ao setor elétrico. Uma destas espécies, em especial, está recebendo atenção dos pesquisadores, por causa dos prejuízos que pode levar às hidrelétricas: o mexilhão dourado.
A introdução do molusco no país foi identificada há cerca de 11 anos e a rápida proliferação fez com que diversos setores se mobilizassem para minimizar os impactos, tanto ambientais como econômicos de sua presença, inicialmente, em rios das regiões sul e sudeste. O Lactec é pioneiro na criação de um grupo de estudos e atua hoje em parcerias com hidrelétricas em cinco estados brasileiros.
O instituto mantém um trabalho constante de monitoramento de reservatórios de cinco empresas de energia para evitar transtornos, como entupimentos das tubulações, filtros e
trocadores de calor das usinas. Os problemas causados pelo mexilhão geram custos extras com limpeza dos dutos e paradas prolongadas do fluxo de água para manutenção dos equipamentos.
Para o diretor-superintendente do Lactec, Luiz Malucelli Neto, os trabalhos de prevenção e conscientização são responsabilidade do instituto, que tem o meio ambiente como um dos focos principais de sua atuação. “Os técnicos estão buscando soluções economicamente viáveis e sem danos aos ecossistemas em que são aplicados”, disse.
O Lactec recebeu, em 2006, o prêmio Expressão de Ecologia, concedido pela editora Expressão a empresas que têm ações modelo. O prêmio foi instituído em 1993, um ano após a Conferência Mundial de Meio Ambiente do Rio de Janeiro – Eco 92. O instituto está inscrito para concorrer novamente este ano.
Pesquisa – Segundo o pesquisador da Divisão de Meio Ambiente do Lactec, Carlos Belz, um dos coordenadores dos projetos com as empresas de energia, o instituto estuda diversos temas com espécies invasoras, como a educação ambiental e o monitoramento dos reservatórios e bacias hidrográficas.
“Trabalhamos desde 2004 nas 18 usinas da Copel para saber quais apresentam ocorrências do mexilhão dourado. Estamos testando metodologias de controle dentro dos sistemas de resfriamento dessas usinas para evitar prejuízos”, disse.
O Lactec tem também convênios com a Elejor, a Eletronorte, Tractebel e as paulistas Duke Energy e AES Tietê para estudos específicos relacionados às características de cada região. “Cada uma dessas linhas de estudo tem um foco. Com a Copel estamos testando o uso de produtos químicos com reduzidos impactos ambientais, o que está funcionando com resultados comprovados na usina de Salto Caxias, na bacia do Rio Iguaçu”, afirmou Belz.
Em São Paulo, com a Duke Energy e a AES Tietê, o pesquisador afirma que será testada a injeção de ozônio para o combate ao mexilhão dourado. Serão feitos testes do impacto da substância sobre os materiais que compõem os equipamentos nos sistemas de resfriamento.
“Com as empresas Tractebel, em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e a Eletronorte, no centro-oeste e norte do Brasil, fazemos um trabalho de prevenção porque não há mexilhões em seus reservatórios, mas estão preocupadas com os riscos do organismo chegar”, explica. Equipes do Lactec estão fazendo estudos nestas regiões para avaliar que tipos de prejuízos as empresas podem ter quando o molusco começar a proliferar nos rios onde estão instaladas as hidrelétricas.
Os projetos contemplam ainda campanhas de educação ambiental, com materiais audiovisuais distribuídos nas regiões que ainda não foram afetadas. “As regiões centro-oeste e norte ainda não têm informações sobre o problema. Um dos objetivos do trabalho é alertar a população e os portos de várias localidades para que eles comecem a discutir a necessidade de monitorar a presença de espécies invasoras”, afirmou Carlos Belz. Segundo ele, a água do lastro de navios, vindos de diversas partes do mundo, ainda é uma das principais causas da proliferação do mexilhão no Brasil.
Em alguns lugares, como é o caso das margens do Rio Iguaçu no Paraná, existe o costume dos municípios construírem lagos com praias artificiais. Os estudos do Lactec observaram que o mexilhão dourado está sendo levado a regiões onde ele não existia transportado por caminhões de areia. Como o molusco sobrevive até 10 dias fora da água, a carona está causando a dispersão.
Equipes de monitoramento do Lactec mantêm trabalho constante em todo o Rio Iguaçu, desde a nascente até a foz, nas fronteiras com o Paraguai e a Argentina, em parceria com o Ibama, para verificar quais são os pontos mais problemáticos.
Mexilhão invasor – A ocorrência do mexilhão dourado, uma espécie exótica no Brasil, foi registrada pela primeira vez na América do Sul em 1991. A indicação é de que ele tenha sido introduzido pelo lastro de navios atracados em Buenos Aires. Ao contrário do que acontece na Ásia, continente de origem do molusco, aqui ele não encontrou nenhum predador natural e por isso se reproduziu com tanta facilidade.
“Há cerca de um ano, um estudo do Lactec em Salto Caxias contou o índice de um mexilhão por metro quadrado de área na bacia do rio Iguaçu, na região central do Paraná. Seis meses depois já existiam cerca de 70 destes organismos por metro quadrado no mesmo local. Nas últimas avaliações já são mais de 140 mil”, conta o pesquisador Carlos Belz, lembrando que ainda é quase impossível combater a presença da espécie exótica nos rios que são afetados por ela.
O mexilhão altera os ecossistemas de bacias hidrográficas nas regiões sul e sudeste, com registros também nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A presença da espécie na Argentina, Paraguai e Uruguai exige trabalhos constantes de controle de proliferação.
Lactec é um dos pioneiros no Brasil no controle do mexilhão dourado
Instituto trabalha desde 2003 em conjunto com concessionárias de energia de todo o Brasil no controle e monitoramento de espécies exóticas invasoras
Publicação
22/09/2008 - 11:19
22/09/2008 - 11:19
Editoria