José Serra sugere investimentos públicos para combater a crise

Governador de São Paulo recomenda também a queda da taxa de juros e a revisão da política de câmbio
Publicação
11/12/2008 - 18:40
Editoria
CRISE: RUMOS E VERDADES O Brasil deve tomar medidas mais ágeis em curto prazo para enfrentar a crise da economia mundial. Entre elas a manutenção dos investimentos dos Estados e da União, a queda da taxa de juros e a revisão da política de câmbio. As afirmações foram feitas pelo governador de São Paulo, José Serra, no encerramento do seminário “Crise: Rumos e Verdades”, organizado pelo Governo do Paraná e que reuniu, nos últimos cinco dias, 1,5 mil pessoas entre economistas, sociólogos e professores universitários. “O que vai acontecer no futuro vai depender das ações que tomarmos aqui no Brasil. Nós podemos transformar fatores adversos em fatores positivos”, afirmou Serra, sugerindo também a necessidade de um projeto nacionalista de longo prazo. “Temos que entender que somos uma Nação que precisamos de uma política nacionalista como os outros países estão fazendo. Nós não podemos ter vergonha de ter a nossa política”, acrescentou. Essas medidas de curto prazo, segundo Serra, elevariam a confiança da população. “A confiança é questão chave hoje em dia. Confiança para gastar, para emprestar, para consumir. É muito importante elevar expectativas menos pessimistas em relação à crise”, afirmou. Serra puxou a responsabilidade para os Estados e para a União ao afirmar que há necessidade de manter os investimentos públicos. “Não podemos deixar o investimento cair. Isso ajuda no emprego e ajuda a sinalizar expectativas mais estáveis no conjunto da economia”, afirmou. Entre os fatores adversos, está a alta taxa de juros, que segundo o governador paulista está na origem da chegada da crise no Brasil. Serra, que é economista, criticou a decisão tomada nesta quarta-feira (10) pelo Banco Central de manter as taxas de juros em 13,75% ao ano, a maior do mundo. “Isso é um absurdo. Nós temos a maior taxa de juros há muito tempo. Estamos com contração do crédito, perspectivas de desemprego, deflação de commodities e os juros permanecem. Por outro lado, o mundo inteiro derrubou suas taxas, que já eram mais baixas que as do Brasil. Aqui não derruba. O custo disso, do ponto de vista econômico, é muito alto. Realmente não baixar os juros significa enfraquecer a confiança na economia”, salientou. Serra também pediu modificações urgentes na política cambial do Governo Federal. “O câmbio estava mega valorizado a troco de nada. Representou um problema que pode ser revertido. Ao diminuir as importações estaremos estimulando uma maior atividade interna. Por exemplo, a mudança do câmbio tende a valorizar o turismo no País”, disse. Para ele, deveria haver também uma forma de controle da volatilidade do câmbio, que cria dificuldades em negociações que refletem em toda a economia. “Não há certeza de como vai ser o câmbio amanhã ou depois de amanhã. Gera um momento de incerteza fatal para a atividade econômica. Sem mudar o regime de flutuação cambial, devia o Banco Central praticar uma política que pudesse conferir um pouco mais de estabilidade”, disse. Assim como outros palestrantes, Serra afirmou que a crise abre também possibilidades para o Brasil crescer e se desenvolver. Ele citou o exemplo do enfretamento da crise de 1929, quando em 1932 iniciou um ciclo de crescimento que se encerrou no final da década de 70. “Temos que achar um novo caminho. A crise foi produzida pela interdependência da globalização. A globalização não vai desaparecer, mas ela vai mudar. Precisamos de uma estratégia para as mudanças que devem ocorrer na política comercial, principalmente americana”, acrescentou.

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