Itamaraty quer discutir Ferrosul e 2ª ponte bimodal Foz-Paraguai

Proposta da Ferroeste foi encaminhada nesta quinta-feira (24) pelo chefe do Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores no Paraná (Erepar), ministro Sergio Couri
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24/06/2010 - 18:30
Editoria
O chefe do Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores no Paraná (Erepar), ministro Sergio Couri, disse nesta quinta-feira (24) em Curitiba que está encaminhando para Brasília a proposta do presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, de inclusão do modal ferroviário no projeto da segunda ponte internacional sobre o rio Paraná, unindo Foz do Iguaçu, no Brasil, a Puerto Presidente Franco, no Paraguai. “Estou propondo ao Itamaraty um exame dos pontos de vista da Ferrosul à luz dos objetivos das políticas externas na América do Sul”.
A medida é resultado de uma reunião ocorrida na quarta-feira (23) no escritório do ministro entre ele, o presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, e o Secretário de Planejamento Diplomático do Itamaraty, Hermano Telles Ribeiro. “O assunto foi examinado e ficamos de levá-lo à Brasília a fim de que se verifique a possibilidade de atender à demanda da Ferroeste e Ferrosul, além de outras questões”.
O ministro Sergio Couri disse que o Itamaraty deve “olhar o assunto do enfoque diplomático para ver se cabe alguma medida de gestão pública” e acrescentou que existe a possibilidade de convocação de “ampla reunião para debater o assunto”. O exame da construção da ponte ferroviária e da criação da Ferrosul, segundo ele, é importante para os meios diplomáticos. “Em princípio a integração ferroviária do Conesul, a partir da infraestrutura existente na região sul, não pode ser perdida de vista”.
A construção de uma ponte internacional bimodal sobre o rio Paraná na região de Foz do Iguaçu com o Paraguai voltou a ganhar força com o avanço na criação da Ferrosul, a partir da base da Ferroeste. O presidente da empresa, Samuel Gomes, manteve contato com o Itamaraty na condição de coordenador do Fórum Permanente para estudos de potencialidades de integração de transporte e logística do Codesul e do Zicosur, estabelecido através da Carta de Salta, em 8 de dezembro de 2009, firmada pelo então governador Roberto Requião e presidente do Codesul e pelo governador da Província de Salta, Juan Manuel Urtubey.
“Desde janeiro de 2007”, disse Gomes, “afirmamos e repetimos que a construção de uma segunda ponte sobre o rio Paraná na região de Foz do Iguaçu sem o modal ferroviário é um erro estratégico. O que nos leva a convocar os atores brasileiros e paraguaios interessados no assunto a uma nova e definitiva mobilização é a ocorrência de fatos novos que exigem a ação imediata do Paraná”. Para Gomes, “a Ferroeste e o Porto de Paranaguá têm interesse direto na solução do problema, em razão de investimentos industriais que estão sendo projetados no Paraguai. Tais novos projetos industriais paraguaios somam-se à produção agrícola e agroindustrial. O Paraná precisa agir rápido e com decisão para não perderemos cargas e espaços para modais e portos de outros países. É necessário e é possível corrigir o erro que consistiu na alteração do Memorando original firmado entre os presidentes Lula e Nicanor Duarte Fructos, que era de uma ponte rodoferroviária. A ponte ainda está na fase de projeto. Havendo decisão política do governo federal brasileiro é possível, com um pequeno atraso de três meses, termos um projeto de ponte rodoferroviária e, com isso, ganharmos pelo menos dois anos no projeto de construir o ramal Cascavel-Paraguai da Ferroeste.”
Segundo Gomes, uma das razões que leva a Ferroeste a requerer a inclusão do modal ferrovia na segunda ponte internacional é a “legitimação que decorre do fato de que a Ferroeste investiu mais de R$ 10 milhões no projeto executivo de engenharia e estudos ambientais do ramal Cascavel–Foz do Iguaçu”. O ramal e a ponte ferroviária são indispensáveis, segundo ele, “tendo em vista o avanço significativo que o projeto de ligação ferroviária entre Cascavel e o Paraguai sofreu recentemente, nos marcos dos entendimentos em favor do corredor ferroviário bioceânico Paranaguá-Antofagasta”.
De acordo com o presidente da Ferroeste, o próprio DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) considera técnica e juridicamente possível promover alteração no escopo do projeto da segunda ponte “de modo que a mesma passe a conter ambos os modais rodoviário e ferroviário, como originalmente previsto no Memorando entre os Presidentes do Brasil e do Paraguai, posteriormente alterado para retirar o modal ferroviário, o que consideramos um erro estratégico, felizmente ainda passível de ser sanado”.
PARAGUAI - Comentando os projetos da ferrovia, da ponte e da Ferrosul, o diretor da União de Exportadores Paraguaios (Unexpa), Raul Valdez, disse que considera “importante para o país integrar-se à ferrovia e fazer parte do corredor bioceânico” que unirá os portos do Sul do Brasil com os do Chile. Para isso, Valdez afirmou que os empresários estão “trabalhando de perto junto às autoridades paraguaias” no sentido de que o governo de seu país negocie com o governo brasileiro “a extensão da linha da Ferroeste entre Cascavel e Foz do Iguaçu, inclusive com a ponte ferroviária fazendo a ligação com o Paraguai”.
Segundo o diretor da Unexpa, o Presidente Lugo acaba de editar decreto presidencial criando a Comissão do Corredor Bioceânico “para estudar alternativas de viabilizar o projeto e a ponte ferroviária ligando Brasil e Paraguai”. Com esse objetivo, informou, já começaram as negociações com o vice-ministro dos Transportes do país. “O Paraguai precisa disso”, alegou.
O próprio governo paraguaio já anunciou que poderia auxiliar no projeto de unir os dois países por ferrovia financiando 50% de uma ponte entre os dois países. A intenção foi formulada pelo vice-presidente do Paraguai, Federico Franco, em maio de 2009, na Expo Santa Rita, durante um encontro com Samuel Gomes, autoridades ministeriais e produtores rurais paraguaios.
Naquela oportunidade foi divulgada a “Carta de Santa Rita”, com o objetivo de “articular o setor público com a sociedade civil” dos dois países para acelerar a construção da ponte e fazer avançar o projeto do corredor ferroviário. O documento foi assinado pelo governador do Departamento de Alto Paraná, Paraguai, Nelson Aguinagalde, o vice-ministro da Pecuária do Paraguai, Armim Hamann, e o vice-ministro do Comércio do Paraguai, Agustín Perdomo, presidente da Ferroeste e produtores paraguaios representados pela União das Cooperativas do Paraguai (Unicoop).
Também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista a jornalistas, no dia 8 de maio de 2009, em Campo Grande (MS), por ocasião da inauguração do novo trem do Pantanal, mostrou que o governo brasileiro não esqueceu o projeto: “Nós estamos agora trabalhando uma ferrovia (Ferroeste) ligando o Mato Grosso do Sul ao Estado do Paraná e possivelmente chegar ao Paraguai”.
A luta pela reincorporação do modal ferroviário ao projeto da segunda ponte rodoviária entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco, no Paraguai, começou há três anos, quando houve uma reunião binacional, em janeiro de 2007, na Associação Comercial de Foz do Iguaçu (Acifi), convocada pela Ferroeste e pela empresa estatal Fepasa (Ferrocarriles del Paraguay), com a presença de autoridades, produtores, políticos e sociedade civil organizada. Na ocasião foi elaborada a “Carta aberta aos presidentes do Brasil e do Paraguai” em que pleiteava a construção de uma ponte bimodal (rodoferroviária) considerando a necessidade de integração da América do Sul através de malhas rodo-hidro-ferroviárias.